Manchetes Socioambientais
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“O encontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio perpétuo do mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim.”
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos fundadores do ISA
O tema "Povos Indígenas" está na origem da existência do Instituto Socioambiental. Lá se vão pelo menos quatro décadas de comprometimento e trabalho com o tema, produzindo informações para a sociedade brasileira conhecer melhor seus povos originários. Desde sua fundação, em 1994, o ISA dá continuidade ao trabalho do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que havia sido iniciado em 1980 e que, por sua vez, remonta ao começo dos anos 1970, quando o então governo da ditadura militar lançava o Plano de Integração Nacional, com forte componente de obras de infraestrutura na Amazônia, região que era então descrita pelo discurso oficial como um "vazio demográfico".
Por meio dos relatos coletados, dados produzidos e pesquisas empreendidas por uma rede de colaboradores espalhada pelas diversas regiões do País, o Cedi ajudou a derrubar essa tese. Ao dar publicidade às informações levantadas por essa rede social do tempo do telex, o Cedi colocou, definitivamente, os povos indígenas e suas terras no mapa do Brasil. Seus integrantes ainda participaram ativamente no movimento de inclusão dos direitos indígenas na Constituição de 1988 e, juntamente com integrantes do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI) e ativistas ambientais, fundaram o ISA em 1994.
De lá para cá, ampliando sua rede de colaboradores em todo o País, o ISA se consolidou como referência nacional e internacional na produção, análise e difusão de informações qualificadas sobre os povos indígenas no Brasil. O site "Povos Indígenas no Brasil", lançado em 1997, é a maior enciclopédia publicada sobre as etnias indígenas no Brasil, com suas línguas, modos de vida, expressões artísticas etc. O site é uma das principais referências sobre o tema para pesquisadores, jornalistas, estudantes e acadêmicos.
A atuação hoje é transversal aos territórios onde atuamos, especialmente na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e Pará, e Bacia do Rio Negro, no Amazonas e Roraima, e também envolve povos indígenas de todo o Brasil, por meio da atualização permanente do site e de seus mais de 200 verbetes, inclusão de novos textos sobre etnias emergentes e indígenas recém-contatados, além do monitoramento e cobertura jornalística sobre situações de violência e perda de direitos contra estas populações. O tema "Povos Indígenas" ainda é tratado no site "PIB Mirim", voltado ao público infanto juvenil e de educadores.
O monitoramento de Terras Indígenas também é um eixo central do nosso trabalho com o tema, e remonta à sistematização de dados e divulgação de informações iniciada pelo Cedi em 1986, e se dá por meio da produção de livros impressos e mapas temáticos sobre pressões e ameaças, como desmatamento, mineração, garimpo, obras de infraestrutura, entre outras, além do site "Terras Indígenas no Brasil".
Confira os conteúdos produzidos sobre este tema:
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Em formato de enciclopédia, é considerado a principal referência sobre o tema no país e no mundo |
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A mais completa fonte de informações sobre o tema no país |
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Site especial voltado ao público infanto-juvenil e de educadores |
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Painel de indicadores de consolidação territorial para as Terras Indígenas |
Maior e mais antigo evento de arte do mundo conta com 13 desenhos de Joseca Yanomami e 18 obras de André Taniki
Trinta e uma obras de artistas Yanomami serão exibidas na 60ª Bienal de Arte de Veneza - o maior e mais antigo evento de arte do mundo - de 20 de abril a 24 de novembro de 2024. Intitulada Foreigners everywhere (Estrangeiros em todos os lugares), a Bienal conta com 13 desenhos de Joseca Yanomami e 18 obras de André Taniki.
Joseca participa da pré-abertura do evento de 16 a 19 de abril a convite da própria Bienal de Veneza e com apoio da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e da Galeria Millan. A edição dará visibilidade a artistas de grupos marginalizados como indígenas, imigrantes e refugiados.
Taniki também foi convidado pela Bienal de Veneza, no entanto, tem mais de 80 anos e não poderá comparecer pela sensibilidade de sua idade. Além de artista, Taniki também é um xamã que vive no Alto Rio Catrimani - região onde a arte dos desenhos foi apresentada pela fotógrafa Claudia Andujar - e que produziu a maior parte de suas obras dos anos 1970 a 1980.
A participação do artista na abertura do evento é considerada fundamental para reconhecimento da trajetória dele e para a divulgação da luta yanomami no âmbito internacional.
“Estou muito feliz nesta viagem para participar [da Bienal de Veneza]. É uma felicidade muito grande”, disse Joseca pouco antes de embarcar no aeroporto em São Paulo com destino a Veneza.
Os desenhos que farão parte da exposição foram cedidos pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP), que há três anos adquiriu 92 obras de Joseca e em 2022 realizou a exposição “Joseca Yanomami: Nossa Terra-Floresta”.
O repertório do artista Yanomami é composto pelas inspirações da cosmologia de seu povo, fazendo referência aos cantos, mitos xamânicos, a floresta, a defesa do território e os sonhos.
Sobre Joseca Yanomami
Nascido na década de 1970, na região do Demini, Terra Indígena Yanomami, e membro da comunidade Watorikɨ, Joseca é um notável artista de seu povo. Há mais de duas décadas, ele começou a desenhar e esculpir animais em madeira.
“Quando eu aprendi a desenhar, eu ouvia os pajés cantando e eu gravava na minha cabeça para desenhar depois”, Joseca contou ao ISA em 2021. “Desenho os parentes, os animais, árvores, os passarinhos, araras, macacos, antas, peixes”.
Joseca também é o primeiro estudioso de línguas de sua comunidade e foi professor em Watorikɨ no início dos anos 1990. Além disso, foi o primeiro Yanomami a trabalhar na área de saúde.
Histórico de exposições com obras de Joseca Yanomami
- Yanomami: O Espírito da Floresta - Fundação Cartier para Arte Contemporânea, Paris, França - 2003
- Histórias de Verão - Fundação Cartier para Arte Contemporânea, Paris, França - 2012
- Histórias Mestiças - Instituto Tomei Ohtake, São Paulo, Brasil - 2014
- Nós, as Árvores - Fundação Cartier para Arte Contemporânea, Paris, França - 2019
- Mundos Indígenas - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil - 2020
- Árvores - Power Station of Art / Fundação Cartier para Arte Contemporânea, Xangai, China - 2021
- Moquém Surari: Arte Indígena Contemporânea - Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil - 2021
- Seres enraizados - Wellcome Foundation, Londres, Inglaterra - 2022
- Os Vivos - Fundação Cartier para Arte Contemporânea, Lille, França - 2022
- Joseca Yanomami: Nossa Terra-Floresta - Museu de Arte de São Paulo, Assis Chateaubriand, Brasil - 2022
- Histórias Brasileiras - Museu de Arte de São Paulo, Assis Chateaubriand, Brasil - 2022
- Siamo Foresta - Fundação Cartier para Arte Contemporânea e Triennale de Milano, Itália - 2023
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Vozes indígenas e não indígenas contam ao longo de quatro episódios como mais a epidemia foi enfrentada na região
Com múltiplas vozes indígenas e não indígenas, o podcast A Nova Doença dos Brancos traz relatos das pessoas que viveram a pandemia da Covid-19 no Alto Rio Negro (AM), uma das áreas mais remotas da Amazônia brasileira, e reflete sobre a resistência dos povos originários frente a esta e outras epidemias.
Com quatro episódios semanais, a narrativa debate visões indígenas sobre a doença e a cura. Confira a seguir:
Episódio 1: A chegada do vírus
Apresenta a chegada da Covid-19 em São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, as estratégias adotadas pela sociedade civil, organizada e liderada pelo movimento indígena local, para conter o avanço da doença e as dificuldades enfrentadas em relação à propagação de fake news sobre a pandemia.
Ouça "A chegada do vírus" no Spreaker.
Episódio 2: As epidemias do passado
Relembra a história de epidemias do passado, que chegaram ao Brasil com a invasão europeia e avançaram sobre os territórios indígenas. Narrativa mostra como a chegada da Covid-19 despertou traumas antigos e enraizados na população indígena dos diversos genocídios vivenciados.
Ouça "As epidemias do passado" no Spreaker.
Episódio 3: As práticas terapêuticas indígenas
Trata das estratégias indígenas para fazer frente ao avanço do vírus, sobretudo da mobilização de conhecimentos e práticas tradicionais que fazem parte do repertório local de ações voltadas para combater doenças estrangeiras.
Episódio 4: Um balanço da pandemia no Rio Negro
Apresenta um resumo da epidemia na região com uma homenagem aos que se foram e aos que lutaram contra a pandemia e mostra como a mobilização social produziu uma reconexão com saberes ancestrais, combinada a uma organização política extremamente capilarizada no território, que trouxe maior segurança para seguir sendo indígena no séc. XXI.
O podcast está sendo lançado junto com a quinta edição da Aru - Revista de Pesquisa Intercultural da Bacia do Rio Negro, e com o minidocumentário Cura. Juntos, os três produtos compõem o conteúdo Memoráveis: resistência, estratégias e saberes indígenas no combate à Covid-19 no Rio Negro.
Os participantes do podcast também incluem especialistas não-indígenas, que apresentam o histórico das doenças que chegaram aos povos indígenas no Brasil, a persistente omissão dos órgãos públicos em prover condições básicas para a saúde indígena e as relações entre a pandemia e a crise climática que nos afeta.
Esse podcast faz parte do projeto “O Museu Relacional: compartilhando conhecimentos sobre a epidemia e outras crises no Alto Rio Negro”, com pesquisa coordenada pelos antropólgos do Museu de Berlim Andrea Scholz e Thiago da Costa Oliveira e do antropólogo do Instituto Socioambiental (ISA), Aloisio Cabalzar.
O trabalho conta ainda com a rede dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs), ligados ao ISA e à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).
Ficha Técnica
Direção: Thiago da Costa Oliveira
Roteiro: Thiago da Costa Oliveira, Mariana Pinheiro e Felipe Barros
Produção: Flávia Heins
Narração: Naiara Alice Bertoli e Thiago da Costa Oliveira
Pesquisa de campo: Naiara Alice Bertoli
Decupagem a partir de entrevistas transcritas pelo Audiotex: Guilherme Pedroso
Trilha sonora, desenho e edição de som: Felipe Barros
Mixagem: Alexandre Jardim
Coordenação local de pesquisa: Andreia Damasceno e Mauro Pedrosa, povo Tukano.
Financiamento: Fundo "Corona Crisis and Beyond – Perspectives for Science, Scholarship and Society" da Fundação Volkswagen, da Alemanha.
Serviço
Lançamentos
Loja Floresta no Centro (ISA)
Data: 05/04, às 19h
Endereço: Av. São Luiz, 187 - Galeria Metrópole - Centro Histórico de São Paulo / SP
*Roda de conversa com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré, e com o antropólogo Aloisio Cabalzar.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Data: 19/04 - Dia dos Povos Indígenas, às 16h
Endereço: Anfiteatro Paula Souza - Rua Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo / SP
*Roda de conversa com a antropóloga e liderança Francy Baniwa e com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré.
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Especial reúne revista, documentário e podcast; lançamento acontece no dia 5 de abril em São Paulo
Da arrumação xamânica do mundo até a chegada da vacina contra a Covid-19, a resistência indígena no Médio e Alto Rio Negro (AM) enfrentou um longo caminho de omissões, mas também de colaboração e compartilhamento de saberes.
Para retratar esse cenário, será lançado em abril, Mês dos Povos Indígenas, o especial Memoráveis: resistência, estratégias e saberes indígenas no combate à pandemia de Covid-19 no Rio Negro, composto pela 5ª edição da Aru – Revista de Pesquisa Intercultural da Bacia do Rio Negro e o documentário Cura, desenvolvidos em parceria pelo Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), além do podcast A Nova Doença dos Brancos, feito em parceria com o Museu Etnográfico de Berlim.
O podcast A Nova Doença dos Brancos tem lançamento previsto para o dia 5 de abril. Acompanhe nas redes sociais do ISA.
Trazendo relatos de indígenas e não indígenas, os três produtos se complementam para retratar o cenário pandêmico no Rio Negro e a estratégia dos povos indígenas de resistência e proteção frente à crise sanitária numa das regiões mais preservadas da Amazônia, onde vivem 750 comunidades indígenas (algumas delas remotas) de 23 etnias.
Serviço
Lançamentos
Loja Floresta no Centro (ISA)
Data: 05/04, às 19h
Endereço: Av. São Luiz, 187 - Galeria Metrópole - Centro Histórico de São Paulo / SP
*Roda de conversa com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré, e com o antropólogo Aloisio Cabalzar.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Data: 19/04 - Dia dos Povos Indígenas, às 16h
Endereço: Anfiteatro Paula Souza - Rua Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo / SP
*Roda de conversa com a antropóloga e liderança Francy Baniwa e com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré.
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Editada pelo ISA e pela Foirn, a Aru 5 traz as estratégias dos povos indígenas do Rio Negro para proteger vidas em um cenário de omissão
Da arrumação xamânica do mundo até a chegada da vacina contra a Covid-19, o enfrentamento à pandemia na região do Médio e Alto Rio Negro, Amazonas, percorreu um longo caminho serpenteando rios, igarapés, igapós e corredeiras – com turbulência, omissão e mortes –, resistência indígena e colaboração.
Com textos de indígenas e não indígenas, a 5ª edição da Aru – Revista de Pesquisa Intercultural da Bacia do Rio Negro, editada em parceria pelo Instituto Socioambiental (ISA) e Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), retrata esse cenário e a memorável estratégia indígena de resistência e proteção frente à crise sanitária numa das regiões mais preservadas da Amazônia, onde estão os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos e cerca de 750 comunidades (algumas delas remotas) onde convivem povos de 23 etnias.
A Aru 5 tem edição da jornalista do Instituto Socioambiental (ISA), Ana Amélia Hamdan, em colaboração com Aloisio Cabalzar, Juliana Radler, Dulce Morais e Carla Dias. Com o filme Cura e o podcast A Nova Doença dos Brancos, a Aru compõe o especial Memoráveis: resistência, estratégias e saberes indígenas no combate à pandemia de Covid-19 no Rio Negro.
Adquira as outras edições da Revista Aru
Volume 1
Volume 2
Volume 3
Volume 4
Essa edição é lançada em 2024 – quatro anos após o início da pandemia –, com a perspectiva de que não é possível deixar de lembrar da crise sanitária, especialmente frente à emergência climática e a um modelo de desenvolvimento que nos coloca cada vez mais diante do risco de novas epidemias.
Diante da falta de resposta da ciência do não indígena, à quase ausência de ações de órgãos oficiais e de um Governo Federal negacionista e anti-indígena, os povos do Rio Negro fortaleceram parcerias. A proteção veio também do entendimento sofisticado de saúde, que incorpora ambiente, natureza, saberes ancestrais, cosmologia e bem-viver.
A mobilização pelo mínimo de estrutura e oxigênio ocorreu num esforço interinstitucional de órgãos públicos – especialmente de profissionais da saúde da linha de frente - e de organizações da sociedade civil, entre elas a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o ISA.
Homenagem
Em São Gabriel da Cachoeira (AM), o lançamento aconteceu em 22 de fevereiro, na sede do ISA na cidade. O momento foi marcado pela homenagem ao antropólogo Dagoberto Azevedo, um dos autores da Aru, falecido em 2023. Parte de seu trabalho foi dedicada à possibilidade dos encontros – de culturas, de conhecimentos, de indígenas e não indígenas –, ideia essa presente na publicação.
A esposa de Dagoberto, Helena Marques, povo Piratapuya, e as filhas Adele e Rutiene, ao lado do diretor da Foirn, Nildo Fontes, povo Tukano, e de Aloiso Cabalzar, revelaram a placa com o nome do antropólogo indígena: o Telecentro na sede do ISA em São Gabriel da Cachoeira agora leva o nome de Sala Dagoberto Azevedo - Suegʉ. Na placa, a imagem do banco Tukano, que compõe a cultura do povo dessa etnia.
Sobre a revista
Em publicação semestral desde 2017, a Aru – Revista de pesquisa intercultural da Bacia do Rio Negro é um projeto conduzido por Aloisio Cabalzar, tendo como base o trabalho da Rede de Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAS). Sua proposta é estimular iniciativas de colaboração e trocas entre conhecedores e pesquisadores indígenas e não indígenas, que atuam em diferentes espaços de produção de conhecimento sobre a Bacia do Rio Negro, seus ciclos de vida e processos de transformação.
Serviço
Lançamento Especial Memoráveis
Loja Floresta no Centro (ISA)
Data: 05/04, às 19h
Endereço: Av. São Luiz, 187 - Galeria Metrópole - Centro Histórico de São Paulo / SP
*Roda de conversa com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré, e com o antropólogo Aloisio Cabalzar.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Data: 19/04 - Dia dos Povos Indígenas, às 16h
Endereço: Anfiteatro Paula Souza - Rua Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo / SP
*Roda de conversa com a antropóloga e liderança Francy Baniwa e com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré.
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Filme relata as estratégias de enfrentamento à Covid-19 dos povos que vivem no Alto Rio Negro (AM), na Amazônia
“Neste mundo que vivemos, dentro da nossa terra, existem pessoas que benzem para o bem e para o mal.
Eles se chamam benzedores e kumuã (pajés) na nossa cultura.
Nossos sábios já preveem no destino das pessoas, quem ocupa o papel dos benzedores e pajés.
Assim, ao longo de suas vidas, eles são preparados para atuar e usar essa sabedoria.
Nossos avôs, nossos ancestrais, transmitiram a sabedoria para esses conhecedores.
E assim eles guardam com eles esses benzimentos que foram repassados pelos mais velhos.
Assim nós estamos vivendo nessa terra.
E enquanto estamos com vida nesse plano, a nossa morada é aqui com essa cultura.”
Nildo Fontes, povo Tukano
A narrativa acima – falada na língua Tukano, uma das línguas indígenas dos povos do Alto Rio Negro (AM), na Amazônia, e traduzida para o português – abre o minidocumentário Cura, que trata das práticas e estratégias utilizadas pelos indígenas no enfrentamento à Covid-19.
Dirigido pelo documentarista Christian Braga e pela jornalista Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Instituto Socioambiental (ISA), o filme foi lançado em fevereiro deste ano em São Gabriel da Cachoeira – onde foi filmado.
Em São Paulo, o lançamento será nesta sexta-feira (05/04), na loja Floresta no Centro, do ISA, e em 19 de Abril, Dia dos Povos Indígenas, em parceria com a Escola de Saúde Pública da USP. O filme traz narrativas e vivências de indígenas que atravessaram a pandemia e se fortaleceram mesmo enfrentando a precariedade das respostas oficiais.
Cura está sendo lançado com a a quinta edição da Aru - Revista de Pesquisa Intercultural da Bacia do Rio Negro, Amazônia, e com o podcast A Nova Doença dos Brancos. Juntos, os três produtos compõem o especial Memoráveis: resistência, estratégias e saberes indígenas no combate à Covid-19 no Rio Negro.
Rituais, benzimentos, chás com plantas dos quintais e da floresta, sem dispensar a medicina não indígena e seus recursos, fizeram parte de um conjunto de práticas que, segundo os próprios indígenas e profissionais que trabalham junto a esses povos, salvaram vidas.
Além de ser um importante registro sobre o cenário pandêmico em uma das regiões mais preservadas da Amazônia e em áreas remotas da floresta, o documentário traz a reflexão sobre a necessidade do reconhecimento oficial da medicina indígena.
E propõe, inclusive, os meios para isso, com a criação de unidades que possam unir saberes. Também trata do efeito da exploração predatória do ambiente sobre a saúde do planeta.
As filmagens aconteceram no final de 2020, quando a primeira onda da Covid-19 arrefeceu na região, e tiveram início na comunidade Serra de Mucura, no Rio Tiquié, na Bacia do Rio Negro.
Quem nos conta a maior parte da história é a liderança indígena Nildo Fontes, do povo Tukano, vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). A narrativa é complementada pelo antropólogo e assessor do ISA, Dagoberto Azevedo, do povo Tukano, falecido em 2023 e homenageado no documentário.
O filme contou com o conselho editorial formado pelo antropólogo do ISA, Aloisio Cabalzar, Dagoberto Azevedo, Nildo Fontes e Juliana Radler e foi realizado em parceria pelo ISA e Foirn.
Assista ao filme!
Ficha técnica
Direção: Christian Braga e Juliana Radler
Roteiro: Christian Braga
Produção: Juliana Radler
Assistentes de produção: Paulo Desana e Mauro Pedrosa Tukano
Fotografia: Christian Braga
Assistente de fotografia: Paulo Desana
Imagens de apoio: Greenpeace Brasil
Montagem: Fred Siewerdt e Christian Braga
Finalização: Christian Braga
Animação: Brunno Lobato
Entrevistas: Juliana Radler
Tradução/transcrição: Akira Oettinger
Conselho editorial: Aloisio Cabalzar, Dagoberto Azevedo Tukano, Juliana Radler e Nildo Fontes Tukano
Tradução (Tukano-Português) – Dagoberto Azevedo Tukano
Narração de Nildo Damião - defumação no Serra de Mucura no encontro de conhecedores
Serviço
Lançamento Especial Memoráveis
Loja Floresta no Centro (ISA)
Data: 05/04, às 19h
Endereço: Av. São Luiz, 187 - Galeria Metrópole - Centro Histórico de São Paulo / SP
*Roda de conversa com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré, e com o antropólogo Aloisio Cabalzar.
Faculdade de Saúde Pública da USP
Data: 19/04 - Dia dos Povos Indígenas, às 16h
Endereço: Anfiteatro Paula Souza - Rua Dr. Arnaldo, 715 - São Paulo / SP
*Roda de conversa com a antropóloga e liderança Francy Baniwa e com a socióloga e liderança Elizângela Costa, povo Baré.
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Conselheiros se reuniram em Brasília para trocar experiências sobre seus territórios e discutir oportunidades para promover o fortalecimento da gestão e proteção territoriais
Em um cenário de redução do desmatamento, porém, de intensificação do risco devido ao avanço das obras infraestrutura e de atividades ilegais nas Áreas Protegidas do Xingu, os conselheiros do Xingu+ se reuniram em Brasília, entre os dias 08 a 11 de março, para debater estratégias de fortalecimento da gestão de seus territórios.
Durante o evento, representantes da Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri (AMORERI), Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Xingu (AMOMEX), Associação Yudjá Mïratu da Volta Grande do Xingu (AIMIX), Instituto Kabu (IK), Associação Floresta Protegida (AFP), Associação Terra Indígena Xingu (ATIX) e Associação Khisedje (AIK), fizeram um intercâmbio de experiências e visões de seus territórios, tomaram decisões e identificaram oportunidades conjuntas, fortalecendo as conexões existentes para promover a gestão e a proteção integrada da Bacia do Xingu.
Lideranças dos povos indígenas Kisêdjê, Juruna, Kayapó, Kawaiwete, Yawalapiti e de ribeirinhos das Reservas Extrativistas da Terra do Meio, participaram do encontro junto com a equipe da Secretaria Executiva da Rede Xingu+*, que atualmente é exercida pelo Instituto Socioambiental (ISA).
A articulação entre os representantes do chamado “Corredor de diversidade socioambiental do Xingu”, uma área de 26 milhões de hectares preservados onde vivem cerca de 25 mil pessoas, é importante para fazer frente às ameaças em curso na região e que impactam direta e indiretamente os povos indígenas e comunidades tradicionais que vivem na região.
Assembleia do Xingu+ 2024
No primeiro dia, os conselheiros definiram a data, as pautas e as comitivas que irão participar do 6º Encontro da Rede Xingu+, que dessa vez será realizado na comunidade São Francisco, na Resex Rio Iriri, Pará. Entre 28 a 31 de maio, os membros do Xingu+ e os seus parceiros irão debater os desafios enfrentados pelos povos da floresta e traçar estratégias para a proteção do Rio Xingu, seus modos de vida e para a preservação da floresta em pé.
Avanço das ameaças ao Xingu
O segundo dia foi dedicado à atualização dos dados de desmatamento na Bacia do Xingu. Para isso, os conselheiros do Xingu+ retomaram o mapa de pressões e ameaças produzido no ano passado, para avaliar as áreas mais impactadas pelo avanço do roubo de madeira, garimpo e de obras de infraestrutura no Xingu - especialmente a Ferrogrão (EF-170), que prevê a ligação do norte do Mato Grosso ao sul do Pará, com objetivo de fortalecer a rota de escoamento de grãos.
A ferrovia irá passar próximo a Terras Indígenas e Áreas Protegidas, como a região do Instituto Kabu, que representa 12 comunidades do povo Mẽbêngôkre-Kayapó distribuídas entre as Terras Indígenas (TIs) Baú e Menkragnoti e duas comunidades da TI Panará.
O território está na área mais impactada pelo traçado da ferrovia e não houve, até o momento, consulta aos povos indígenas associados ao Instituto Kabu: “Não fomos consultados. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) usou um documento que não garante que foi realizado o processo de consulta prévia, livre e informada, conforme previsto na Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) . Após 7 anos a agência reconheceu o erro deles e enviou um documento pedindo desculpas pro instituto Kabu. Eles precisam pedir desculpas para todos os caciques, crianças, floresta e rios”, lamentou o conselheiro da Rede Xingu+ e relações públicas do instituto Kabu, Mydjere Kayapó.
A analista do Instituto Socioambiental (ISA), Mariel Nakane, destaca que os estudos do projeto da Ferrogrão foram retomados em 2023, após 2 anos de paralisação por conta de decisão liminar no caso da ADI 6553, no Supremo Tribunal Federal. Em julho de 2023, a Rede Xingu+ apresentou subsídios técnicos sobre a retomada do projeto, e em outubro de 2023 ingressou como membro da sociedade civil do GT Ferrogrão, criado pelo Ministério de Transportes para debater os estudos e processos sobre o projeto, completa Mariel Nakane.
São obras com essa, prioritárias para o Estado, que continuam ameaçando a maior floresta tropical do mundo e violando direitos dos povos que ali habitam. No outro extremo do Xingu, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que chegou na região há mais de onze anos, deixa um legado de impactos irreversíveis, como relatou o conselheiro Gilliard Juruna, representante da Associação Yudjá Mïratu, da Volta Grande do Xingu (AIMIX) durante o segundo dia da reunião do conselho do Xingu+:
“Com o hidrograma atual, não está havendo reprodução de peixes abaixo da barragem. Os Tracajás estão morrendo. Os furos estão secando e em processo de erosão. Somos nós que estamos monitorando. As ilhas estão virando terra firme e não há frutas suficientes para os peixes. Estamos vendo peixes com deformação”.
A animação 'Pulsa, Xingu+', lançada no ano passado, ilustra uma proposta de hidrograma produzida pelos pesquisadores do MATI (Monitoramento Ambiental Territorial Independente) da Volta Grande do Xingu. Composto por cientistas locais e acadêmicos, o coletivo monitora diariamente os impactos provocados pela operação de Belo Monte.
Assista à animação!
Fortalecimento da Gestão Territorial e Ambiental do Xingu
“Se a gente quiser melhorar a gestão da nossa terra, de quanto recurso vamos precisar?”, perguntou Pedro Gasparinetti, economista e diretor do Fundo de Conservação Estratégica (CSF).
O Fundo está construindo, em parceria com a Rede Xingu+, a Calculadora de Custos para a Gestão de Terras Indígenas, uma calculadora online que tornará possível quantificar os custos para a implementação dos eixos apontados nos Planos de Gestão Territorial e Ambiental(PGTAs) das Terras Indígenas do Corredor Xingu.
O terceiro dia do encontro foi dedicado à avaliação da última etapa de desenvolvimento da ferramenta, que foi elaborada a partir das despesas passadas de oito Terras Indígenas da Bacia do Xingu, com diferentes projeções, como: mudanças na população e grau de pressões e ameaças. Durante o 6o Encontro da Rede Xingu+, será apresentada a versão final da Calculadora de Custos de Gestão em Terras Indígenas.
Para Winti Khĩsêtjê, conselheiro da Rede Xingu+, a calculadora online vai facilitar muito a construção de orçamentos para captação de recursos de acordo com as prioridades das comunidades. Além da ferramenta de cálculo online, também foi discutida uma proposta de Fundo para o Corredor Xingu, destinado ao apoio à implementação dos PGTAs e Planos de Manejo das Terras Indígenas e Reservas Extrativistas do Xingu.
Corredor de Áreas Protegidas do Xingu: um escudo verde contra a destruição
Se por um lado os empreendimentos de alto impacto socioambiental e as atividades ilícitas violam os direitos dos povos indígenas e tradicionais nas Terras Indígenas e Unidades de Conservação do Xingu, por outro, o Conselho Político do Xingu+ está avaliando junto ao Governo Federal a criação de uma figura de gestão integrada no Corredor de Áreas Protegidas do Xingu, que garanta não apenas a manutenção dos processos ecológicos ao longo neste imenso território, mas também a proteção e o bem estar dos povos que nele vivem.
No quarto dia do encontro, os conselheiros do Xingu+ receberam Iara Vasco, diretora de criação de manejo de Unidades de Conservação no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Raoni Rajão, diretor de política de controle de desmatamento no Ministério do Meio Ambiente (MMA). A representante do ICMBio reconheceu a importância do Corredor de Áreas Protegidas do Xingu, que comporta um dos maiores mosaicos contínuos de Terras Indígenas e Unidades de Conservação no planeta, para a conservação da sociobiodiversidade.
Segundo o conselheiro Francisco de Assis, “a Rede Xingu+ fez a gente entender a conexão de uma terra com a outra”. Para a liderança da Resex Rio Iriri, os indígenas e ribeirinhos do Xingu têm a mesma causa e devem lutar unidos.
A Bacia do Rio Xingu compreende uma área de aproximadamente 53 milhões de hectares nos Estados do Pará e do Mato Grosso e abrange uma grande diversidade de povos e ecossistemas, de florestas densas e várzeas do bioma Amazônia até áreas de vegetação típicas do Cerrado. Para Raoni Rajão, representante do MMA, a Rede Xingu+ é uma articulação extremamente importante para conter o desmatamento na região do Xingu. “A partir do momento que uma rede como essa documenta e reúne denúncias ao longo do corredor, você consegue ligar os pontos”, afirmou o diretor de política de controle de desmatamento no Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Com 22 Terras Indígenas e nove Unidades de Conservação, o Corredor é considerado uma das regiões com maior sociobiodiversidade no mundo, abrigando 26 povos indígenas e centenas de comunidades ribeirinhas. Há séculos esses povos tradicionais manejam e protegem suas florestas, que comportam um imenso conjunto de espécies de plantas e animais, algumas ainda desconhecidas pela ciência. O Corredor Xingu tem um papel crucial na proteção da Amazônia e do clima global.
Xingu+ se reúne com órgãos do governo para reivindicar os direitos dos povos da floresta
No quinto e último dia de reunião, a comitiva de conselheiros do Xingu+ foi recebida por André Dias, Diretor do Departamento de Universalização e Políticas Sociais de Energia Elétrica, do Ministério de Minas e Energia. Os conselheiros levaram as demandas de suas comunidades sobre o andamento de instalação de energia fotovoltaica nas aldeias e nas comunidades do Corredor Xingu. Para Winti Khĩsêtjê, a audiência no Ministério de Minas e Energia (MME) foi muito importante, para o xinguanos discutirem com o governo como essas políticas públicas podem chegar às comunidades do Xingu e atenderem as necessidades da população indígena e ribeirinha.
A nossa luta é uma só!
Durante a avaliação da reunião do Conselho do Xingu+, Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu, afirmou que houve muito aprendizado e troca entre os conselheiros durante os 4 dias de reunião. “Cada dia que passa, a gente fica mais forte. Temos que pensar no futuro, não podemos deixar acabar, temos que dar continuidade para proteger o corredor Xingu. Quem luta vence, quem não luta fica por último. Precisamos ter essa luta conjunta, precisamos ter mais jovens para aprender”.
*A Rede Xingu+, é uma aliança política entre 32 organizações de povos indígenas, de comunidades tradicionais do Xingu e organizações da sociedade civil que atuam em Terras Indígenas e Unidades de Conservação na bacia do Rio Xingu, no chamado Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental.
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Antecessor, Dom Edson Damian passa a ser bispo emérito; em entrevista ao ISA, ele relembra viagens às comunidades e encontros com papas
Em uma cerimônia que reuniu ritos católicos e rituais indígenas, o bispo Dom Raimundo Vanthuy Neto assumiu em 11 de fevereiro a Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM). O bispo Dom Edson Damian, que esteve à frente da Diocese por 15 anos, fez a passagem na presença do cardeal dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus.
O diretor-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Barroso, do povo Baré, colocou um cocar no novo bispo.
A cerimônia aconteceu no ginásio Arnaldo Coimbra e reuniu religiosos, instituições e representantes de paróquias de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. As danças e rituais indígenas na cerimônia foram o Carriçu, Mauako e Japurutu, além da defumação.
Dom Edson Damian apresentou sua renúncia ao Papa Francisco ao completar 75 anos de idade, dando início ao processo para indicação de um novo religioso. Dom Vanthuy foi escolhido e ordenado bispo em 4 de fevereiro deste ano, em Roraima, onde atuava.
Com grande emoção, ele apresentou a família e contou que os pais são migrantes nordestinos que se mudaram para Roraima na busca por uma melhor condição de vida.
O novo bispo nasceu em 10 de maio de 1973 em Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte. Começou a sua formação no Seminário São José de Manaus em 1991, sendo ordenado diácono em 11 de julho de 1999 e presbítero da Diocese de Roraima em 2001.
Foi diretor e professor do Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia, atualmente Faculdade Católica do Amazonas, e colabora com os estudos sobre o Cristianismo e Povos Indígenas na Amazônia.
Com o lema “Servir na caridade e na esperança”, Dom Vanthuy escolheu celebrar a missa descalço. Ele pediu aos povos indígenas que ensinassem a ele sua coragem, lembrando a persistência e a resistência frente às pressões da colonização. “É um povo subversivo, que enfrentou o processo de colonização. E, resguardando suas línguas indígenas, dizem: ‘continuamos indígenas’”, disse. “A esperança tem outro nome, que é a coragem”, completou.
Dom Vanthuy falou da preocupação com o alcoolismo, um dos principais problemas enfrentados pelos povos indígenas do Médio e Alto Rio Negro e se dirigiu às instituições pedindo para que haja união de esforços no enfrentamento à questão.
Gilce Guilherme França, professora do povo Baré, participou da cerimônia e ofereceu a Dom Vanthuy uma peneira de arumã com contornos do rosto do novo bispo e um cálice em madeira da floresta.
“Ele mostrou essa preocupação com a ecologia e com a casa comum, que é o nosso território. Mostrou humildade com os povos indígenas. Também mostrou preocupação com o alcoolismo, que é um problema grande nas cidades e nas nossas comunidades. Está sendo acolhido pelos povos do Rio Negro”, disse.
Além do diretor-presidente da Foirn, participaram da celebração representantes de outras instituições, como a coordenadora da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Regional Rio Negro, Dadá Baniwa; o coordenador do Distrito Sanitário Especial do Alto Rio Negro (DSEI-ARN), Luiz Brasão; o diretor do Instituto Federal do Amazonas - Campus São Gabriel da Cachoeira, Renato Valadares; Instituto Socioambiental (ISA) e Exército.
Durante sua atuação em São Gabriel da Cachoeira, dom Edson Damian esteve aberto ao diálogo interinstitucional, com parceria e colaboração constantes em encontros e debates realizados na FOIRN e no ISA.
Em seu site, a FOIRN informa que a presença de Marivelton Baré na cerimônia destaca a importância do diálogo e cooperação entre diferentes instituições e grupos sociais para a promoção da paz e da harmonia na sociedade.
Durante o ano de 2023, dom Edson esteve em várias sessões do Cine Japu - projeto do ISA e da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas que promove exibições de filmes em São Gabriel da Cachoeira -, participando dos debates e divulgando a programação durante as missas.
A Diocese é formada por 11 paróquias: três na cidade de São Gabriel da Cachoeira (Catedral, Dom Bosco e Aparecida), e seis no território indígena, sendo Taracuá, Iauaretê e Pari-Cachoeira (Triângulo Tukano), Assunção do Içana, Cucuí e Maturacá. Há ainda as paróquias de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Em janeiro, o então padre Vanthuy esteve em São Gabriel e, acompanhado de dom Edson Damian, conheceu lideranças de comunidades indígenas e participou de encontro da Escola de Teologia, quando foi lançada a Carta compromisso para prevenir as violências e o suicídio.
Para Dom Edson Damian essa é uma iniciativa que trará benefícios para toda a população. “Meus últimos dias em São Gabriel são coroados por propostas oportunas e que trarão benefícios para a população”, disse. Ele recebeu na Diocese a visita da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e da presidente da Funai, Joenia Wapichana, repassando a elas as demandas que constam na carta.
Muito emocionado durante a cerimônia de troca de bispos, ele fez agradecimentos, dizendo que em seu coração tem lugar para todos aqueles com quem caminhou.
Dom Edson passa agora a ser bispo emérito da Diocese de São Gabriel da Cachoeira e, até o final do ano, ficará em Jaguari (RS), na companhia de seu pai, Gerônimo, que completará 102 anos, e dos irmãos e irmãs.
Quando assumiu a Diocese, também ganhou um cocar, que ficará no Rio Negro. Ele falou do grande aprendizado que teve ao lado dos povos indígenas: “Os indígenas me ensinaram a viver com o estritamente necessário e a ser feliz.”
Em entrevista, dom Edson relembrou algumas passagens enquanto esteve à frente da Diocese mais indígena do país. Leia abaixo algumas delas:
Diários
Antes de vir para cá (São Gabriel da Cachoeira) me aconselharam a escutar vários sábios que tinham trabalhado aqui. Um deles se chamava padre Casimiro Beksta. Ele foi um salesiano que teve grande sensibilidade nos valores culturais indígenas e foi o primeiro que começou a estudar muito, inclusive devemos a ele a tradução do livro de Grünberg do alemão para o português (Theodor Koch-Grünberg - “Dois anos entre os indígenas: viagens no noroeste do Brasil - 1903-1905”).
Foi o padre que descobriu o talento do Feliciano Lana (artista indígena, do povo Desana), visitando comunidade perto do Rio Tiquié e oferecendo materiais a ele.
Eu visitei o velho salesiano que estava acamado para fazer uma entrevista. E uma das coisas que ele me disse foi: “você está chegando numa realidade totalmente diferente, numa riqueza sociocultural e linguística extraordinária. Você leve um caderninho para registrar a cada dia aquilo que você viu, as impressões que teve, as pessoas com quem você conversou.” E fiz isso desde o primeiro dia. Hoje tenho cerca de 15 diários com essas anotações.
Temores
Eu lembro-me do medo que eu sentia quando eu ia visitar as comunidades acima de Iauaretê. No Rio Uaupés e no Rio Papuri há cachoeiras perigosíssimas. E os práticos indígenas diziam: “bispo, aqui podemos passar na cachoeira sem desembarcar.” E eu pensava, mas será que vai dar? Com essa água tão violenta. Pois dava.
As primeiras vezes eu fechava os olhos, tomava um banho de água que vinha contra a gente, e passava. Outras vezes diziam: “bispo, aqui é perigoso. O senhor anda pela trilha que nós vamos pelo rio.”
Nas primeiras vezes eu usava colete, depois com o tempo eu levava o colete e servia para assentar em cima, pois o banco é duro. Nas últimas vezes eu já esquecia o colete. Deus me perdoe porque, às vezes, a gente coloca Deus à prova e confia demais.
No ano passado, sabendo que era a última viagem que eu faria pelo Rio Papuri, lá tem a famosa Cachoeira do Pato – são três cachoeiras, uma seguida da outra. E todas as vezes que eu passei lá, o prático dizia: “agora, o senhor desembarca, e vai pela trilha. Eu vou subir a cachoeira sozinho.” Tinha sempre um outro que ajudava a carregar o material, a comida, a lona, e caminhava mais de hora pela trilha e lá em cima embarcava de novo.
Da última vez era um prático jovem, arrojado. E ele perguntou: “bispo, o senhor já subiu a Cachoeira do Pato?”. Eu respondi que não, que todas as vezes eu desembarquei.
“Mas dessa vez tem água suficiente para subir com segurança.” Eu perguntei: “Você tem certeza?” “Tenho.” Os jovens são assim.
Então foi assim. Mas que medo eu senti, eu fechava os olhos. Mas senti segurança nesse jovem e consegui transpor as três cachoeiras. Eu venci o medo definitivamente. Já posso partir passando por essa aventura também.
Alagamento
É claro que eu tinha medo de alagar. E aconteceu uma vez. Eu estava indo de Maturacá (no território Yanomami) para visitar a comunidade do Maiá, muito longe. Saímos de madrugada porque chegaríamos lá no fim da tarde, pelo Rio Cauaburis.
Fazia cerca de três horas que tínhamos saído da aldeia e o prático, numa corredeira, ele entrou com muita velocidade. E bateu com violência numa pedra ou numa árvore. Eu estava sentado na voadeira (pequena embarcação a motor) e caí. Afundei.
Quando estava afundando na água eu lembrei: “os meus pais e meus familiares vão me receber morto. Se um dia puderem, dessa distância, me encontrar.”
Mas de repente eu consegui subir. E aconteceu o milagre que foi o seguinte: o prático, um indígena Yanomami, que também caiu fora da voadeira, não sei se com a mão ou com o pé, ele tirou a mangueira que abastecia o motor. O motor ficou funcionando, mas a voadeira não saiu do lugar porque não tinha combustível.
E tinha um seminarista que estava dormindo na voadeira. Ele não caiu. Quando ele viu que eu subi pedindo socorro, ele me pegou pelos braços e me ajudou a entrar de novo.
E, por incrível que pareça, o Adão, que era nosso prático, ele vinha nadando com uma mão e trazendo um banquinho com a outra. Porque ele era muito baixinho, ele tinha que assentar no banquinho para poder dirigir.
Aí embarcamos sem palavra alguma. E chegamos tarde da noite ao Maiá. Eu achei que eu ia partir para a eternidade.
Malária
Quando eu vim para cá, eu tive muito medo da malária. Quando eu fui para Roraima, em 1999, me disseram: prepare-se para a malária, que é o batismo que a gente recebe quando chega lá.
Eu fiquei 10 anos em Roraima, nenhuma malária. Quando eu vim para São Gabriel, me disseram: agora você não escapa, pois tem malária em todas as aldeias. Eu visitei todas as aldeias e parto daqui sem nenhuma malária.
Línguas indígenas
É a minha limitação. É claro que se aqui fossem faladas apenas uma ou duas línguas, eu teria me dedicado. Mas são 18.
Mas eu me esforcei tanto que, desde as primeiras visitas, quando chegava às aldeias, o prático indígena, ele me ensinava como é que eu devia dizer “bom dia, boa tarde, boa noite, como vai, é uma alegria estar com vocês”.
Ele explicava isso, então aprendi essas poucas palavras em várias línguas. Isso causou um impacto que impressionou. Porque a gente chegava saudando, eles diziam: “mas o bispo mau chegou e já fala a nossa língua.” É claro que na segunda pergunta eu me perdia.
Bento XVI
Quanto eu fui a Roma para a primeira visita ao Papa Bento XVI, que era muito sisudo, conservador inclusive. Eu fui preparado para 15 minutos de conversa.
Eles me disseram: “chegando lá, você vai fazer um pequeno relato da situação da Diocese.” Cheguei, ele me saudou e, para minha surpresa, ele tinha um mapa sobre a mesa. Disse-me: “a sua região é imensa, não tem estradas, você deve gastar muitas horas pelos rios”.
Eu disse que tinha um pequeno relatório, mas ele preferiu conversar.
Primeira pergunta: “o povo daquela região está destruindo muito a floresta?”
Aí foi a minha vez de dizer: “é a região mais preservada da Amazônia porque os habitantes são povos indígenas: 90%. O povo indígena não destrói a floresta. Eles são os guardiões da floresta. Eles são nossos mestres em ecologia. É por isso que se explica que eles não destroem. Eles cuidam da nossa mãe terra, nossa casa comum.”
Ele perguntou: “e os índios se confessam?”
Aí eu disse: “confessam. E tem um detalhe, eles começam a confessar e dizem assim, agora eu vou confessar na minha língua.” O papa perguntou para mim: “você entende todas as línguas?” Respondi: “de que jeito? Eu cheguei lá velho, já com 60 anos, são 18 línguas. Como é que eu vou aprender? Mas Deus Pai, Criador, ele fez todos os povos à sua imagem e semelhança. E é Deus Pai que perdoa, Ele que se entenda com os seus índios.”
Papa Francisco
Em 2015, o Papa Francisco escreveu a encíclica Lovato si´. Uma carta dirigida ao mundo inteiro falando sobre o cuidado com a casa comum, a ecologia, o aquecimento global. A necessidade de mudar completamente esse sistema que ele chama de tecnocrático que está destruindo e colocando em perigo a sobrevivência da humanidade.
Em 2019, surpreende mais ainda, convocando um sínodo especial para a Amazônia. Em 2020, eu participo do Sínodo de Roma. Esse encontro é dedicado ao tema ecologia integral.
Aí eu pude conversar pessoalmente com o papa e entreguei a ele o cálice feito de pau-brasil por um artesão daqui. E ele ficou tão feliz. Ele olhou para mim e disse assim: “hoje faz 75 anos que eu fiz a minha primeira comunhão”.
Depois, eu pude fazer uma outra visita agora em 2021, com todos os 19 bispos da regional Norte. Eu levei um presente em nome de todos os bispos. Ao fim da conversa eu me aproximei, disse: “olha, eu sou da diocese mais indígena. Amazonas é o Estado que concentra a maior população indígena do país e por isso estou lhe oferecendo esse presente que foi confeccionado pelas mulheres indígenas lá de São Gabriel.”
Quando eu coloquei na cabeça dele, ele perguntou: “imagina se apareço na Praça de São Pedro com uma mitra dessa?”
Aprendizado
Uma das coisas que me impressionou foram os povos que vivem em comunidades tão isoladas. Chegávamos às comunidades para visitar as casas com quase nada. Sem móveis. Eu ficava me perguntando. “Como é que eles vivem?”
Então, uma das lições que eu aprendi aqui se chama sobriedade. Os indígenas ensinam a gente a viver com o estritamente necessário.
Para que encher a vida de bugiganga. Quando a gente tem o necessário para viver, a gente é mais feliz do que comprando, consumindo desenfreadamente.
Esse materialismo consumista está destruindo a mãe Terra e gerando pessoas sempre insatisfeitas e infelizes.
Os indígenas me ensinaram a viver com o estritamente necessário e ser feliz.
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Representantes da maior articulação de mulheres indígenas no Brasil falam em roda de conversa sobre trajetória e parceria com o ISA para segunda edição do Mapa das Organizações de Mulheres Indígenas
Foi entoando a mensagem “nunca mais um Brasil sem nós” que, no dia 30 de janeiro, seis integrantes da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) se reuniram no espaço Floresta no Centro, em São Paulo (SP), para uma roda de conversa em que dividiram, com mais de 50 pessoas, a importância do apoio à luta das mulheres indígenas para avançar na proteção das florestas e dos direitos dos povos indígenas.
“Nós precisamos reflorestar as mentes para a cura da terra, nós precisamos aldear todos os espaços possíveis com nossos corpos-territórios e nós precisamos estar cada vez mais juntas com a sociedade”, enfatizou a diretora-executiva da Anmiga, Braulina Baniwa, sobre a importância da roda de conversa, que contou ainda com a participação das cofundadoras Joziléia Kaingang, Shirley Krenak, Jaqueline Kuña Aranduha, Lucimara Patté, além de Keila Guajajara, responsável pela comunicação da Anmiga.
Com mediação da jornalista Bianca Santana, o evento integrou a agenda das representantes da Anmiga no escritório do Instituto Socioambiental (ISA) para a produção conjunta da segunda edição do Mapa das Organizações de Mulheres Indígenas – que, em sua primeira edição, em 2020, registrou a existência de 85 organizações de mulheres indígenas, em 21 estados do país.
Prevista para ser lançada ainda em 2024, a nova edição reunirá informações atualizadas do mapeamento de organizações, departamentos, institutos, associações e grupos do movimento indígena de mulheres. As inscrições de organizações podem ser feitas até o dia 15 de fevereiro neste link.
Protagonismo feminino
Iniciando a conversa, Joziléia Kaingang trouxe uma reflexão sobre o fortalecimento da rede das mulheres indígenas a partir de sua tese de doutorado, Articulação das Mulheres Indígenas no Brasil: em movimento e movimentando redes. Ela revelou que as mulheres indígenas têm um longo histórico de articulação, mas que só em 2021 é que a Anmiga foi formalizada, por mulheres dos seis biomas brasileiros – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal –, buscando fortalecer a luta pelo bem viver e pelos territórios indígenas, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seu conhecimento tradicional.
Joziléia explicou que, na Anmiga, todas partem de um local, uma comunidade, uma família, para então integrar essa rede ampliada. “A gente se expande, mas a gente retorna e é importante retornar para que a gente possa se conectar novamente e se potencializar espiritualmente”, acrescenta. Adentrando mais em sua pesquisa e vivência, ela também pondera os desafios enfrentados pelas suas integrantes, que precisam de uma dedicação contínua e diária, deixando suas famílias para fazer parte desse movimento e articular coletivamente com diversas mulheres indígenas para que a rede chegue cada vez mais nos territórios.
A exemplo disso, ela lembrou a construção da Marcha das Mulheres Indígenas. Organizada pela Anmiga, a Marcha chegou a sua terceira edição em 2023, reunindo mais de oito mil pessoas nas ruas de Brasília. Joziléia Kaingang contou também que esse momento, ao reunir todas essas mulheres-biomas na capital política do Brasil, ajudou também a suscitar debates urgentes. “A Anmiga hoje está em vários espaços, dentro do Poder Executivo, do Legislativo, mas ela está também no chão do território, batendo o pé no chão, balançando o maracá, cantando e mantendo a nossa espiritualidade”, finalizou.
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Braulina Baniwa trouxe ao público um pouco mais sobre o processo de construção da mobilização de mulheres, que culminou na formalização da organização. “É um desafio muito grande trazer essa força de todas as mulheres que caminham conosco e, ao mesmo tempo, fortalece essa caminhada de demarcar espaços com os nossos corpos-territórios, indo ao encontro da humanidade e pedindo respeito a nossa diversidade de corpos que está presente em diversos lugares”, declarou.
Sobre a organização interna da Anmiga, Braulina explicou que ela é feita por meio das categorias: mulheres-terra; mulheres-sementes; mulheres-raízes; e mulheres-água. Juntas, elas formam um conselho consultivo e deliberativo, num formato que, em suas palavras, se caracteriza como uma árvore que cria sementes e gera outras sementes, trazendo frutos.
Assim, ela define as mulheres-raízes como as que estão nos territórios, que articulam e protegem os seus a partir de suas vozes ou da participação em uma organização coletiva. As mulheres-sementes, por sua vez, são as que se mobilizam nos espaços de articulação estaduais e são as escolhidas pelas mulheres como referência local. Já as mulheres-terra são as cofundadoras e as que fazem uma representação no cenário da política nacional e internacional, enquanto as mulheres-água que são as que atuam e defendem os direitos das mulheres indígenas internacionalmente.
“A Anmiga vem com esse processo de forma inédita e revolucionária, em que todas mulheres indígenas são e precisam ser respeitadas a partir da sua diversidade. Não importa se eu não falo bem o português, eu tenho a ciência, eu carrego esse saber comigo, esse corpo-território que se movimenta e transita entre os espaços também pede socorro pela demarcação de suas terras, pela soberania alimentar e luta pelo bem viver sem violência para as mulheres”, concluiu Braulina.
Keila Guajajara lembrou da Caravana das Originárias, uma jornada feita pela Anmiga em 2022 por todo o país, e trouxe ao debate a importância de garantir a presença das mulheres indígenas na mídia e a responsabilidade de contar essas histórias, amplificar suas vozes e mostrar que a luta delas também é importante. “Se vocês adentrassem os territórios, se vocês pudessem ouvir metade do que a gente ouve quando realiza a caravana, metade do que as nossas mulheres passam pra gente. É um saber que nenhuma escola, nenhuma universidade, e que nenhum lugar vai passar porque é uma sabedoria de vida, uma sabedoria ancestral”, complementou.
Lucimara Patté, do povo Xokleng, falou sobre a tese do “Marco Temporal” que teve sua Terra, Ibirama-La Klãnõ, como centro das discussões. Para ela, a tese tem como objetivo roubar e destruir territórios. “O território que nós protegemos com os nossos corpos. Nós lutamos porque o nosso território é o nosso corpo e quando essa tese se torna lei, a gente tem que repensar, recalcular, mas a gente continua nessa luta, porque antes mesmo da própria tese, nós temos a constituição a nosso favor”, defende. Ela ainda destaca a importância de trazer o debate sobre a tese em diversos espaços. “Precisamos ecoar nossas vozes para que elas sejam ouvidas.”
Jaqueline Kuña Aranduha, do povo Guarani Kaiowá, por sua vez, trouxe ao debate a importância da união com outros movimentos sociais, principalmente em um momento de colapso climático no Brasil e no mundo. “As questões climáticas não são somente responsabilidade dos povos indígenas, não é somente responsabilidade dos governos, mas de cada um. Então, as uniões são fundamentais, porque se a gente não estiver conectado, se as lutas forem isoladas, a gente não consegue avançar”, justificou.
Na mesma direção, Shirley Krenak destacou o papel das mulheres indígenas no combate às questões climáticas. “Nós somos a cura da terra, mas essa responsabilidade de curar a Terra não é só nossa, porque não somos só nós povos indígenas que bebemos água, que comemos terra. Então a luta para preservar a Terra, preservar a biodiversidade e preservar os biomas é de todos nós”, defendeu.
Acompanhe a luta das mulheres indígenas em @anmigaorg!
Assista ao vídeo do evento!
Floresta no Centro é o espaço do ISA no centro da cidade de São Paulo. Visite!
Endereço:Loja Floresta no Centro, na Galeria Metrópole 2º Mezanino
Av. São Luís, nº 187 - República, São Paulo, CEP 01046-001
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Encontro no espaço Floresta no Centro, na capital paulista, reúne seis mulheres-biomas da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga)
No próximo dia 30 de janeiro, terça-feira, às 19h, seis integrantes da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) se reúnem em São Paulo (SP) para uma roda de conversa sobre o movimento de mulheres indígenas, as lutas que protagonizaram nos últimos anos e suas perspectivas para o próximo período.
Braulina Baniwa, mestra em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), cofundadora da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA) e cofundadora da Anmiga; Joziléia Kaingang, doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cofundadora e coordenadora da Anmiga; Shirley Krenak, coordenadora do Instituto Shirley Djukurnã Krenak e cofundadora da Anmiga; Keila Guajajara, jornalista e coordenadora de comunicação na Anmiga; Jaqueline Kuña Aranduha, povo Guarani Kaiowá, cofundadora da Anmiga; e Lucimara Patté, do povo Xokleng, bacharel em Direito e cofundadora da Anmiga, compartilharão suas experiências no bate-papo, que contará com a mediação da jornalista Bianca Santana.
O encontro acontecerá na loja Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA), em São Paulo (SP), e a participação será gratuita.
Organizada pelo Programa Povos Indígenas no Brasil, do ISA, a mesa “Mulheres indígenas em luta” explorará ainda as possíveis alianças entre as lutas das mulheres indígenas e de outros movimentos de mulheres, além dos caminhos para a valorização e visibilidade de pautas prioritárias para mulheres indígenas – como participação política, combate à violência de gênero, saúde e educação diferenciadas.
Articuladora da Marcha das Mulheres Indígenas, a Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
A Marcha, criada em 2020, chega em sua quarta edição em 2024 já consolidada como a maior mobilização de mulheres indígenas do País, levando mais de oito mil pessoas às ruas de Brasília por mais representatividade política e pelo fim da violência de gênero.
Essas e outras mobilizações de mulheres indígenas foram tema de destaque no livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022, do ISA, que, além de um encarte temático, também traz dados sistematizados sobre as organizações de mulheres indígenas – resultado de um mapeamento feito pelo ISA em 2020.
Sobre as participantes
Mestra em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), Braulina Baniwa é co-fundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), cofundadora da Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA).
Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joziléia Daniza Jagso é indígena mulher do Povo Kaingang. Cofundadora e coordenadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Enquanto liderança indígena do Povo Kaingang, fez parte da equipe de construção do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) no Gabinete da Ministra e enquanto Secretária Nacional de Articulação e Promoção dos Direitos Indígenas.
Coordenadora do Instituto Shirley Djukurnã Krenak, Shirley, do povo Borum Krenak do leste de Minas Gerais, desenvolve diversos projetos educacionais e de fomento à cultura indígena. Shirley Krenak também é cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Mulher Indígena do Povo Guajajara, Mãe, Jornalista por formação, Mulher Semente e Coordenadora de Comunicação da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Jaqueline Kuña Aranduhá, do povo Guarani Kaiowá, é cientista social pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Ela também é cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e integrante da Kuñangue Aty Guasu.
Mulher indígena do Povo Laklãnõ/Xokleng, do Bioma Mata Atlântica. Lucimara Patté é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Doutora em ciência da informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Bianca Santana é jornalista e autora de “Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, 2021)” e “Quando me descobri negra (SESI-SP, 2015. Fósforo, 2022)”.
Mediação: Bianca Santana
Doutora em ciência da informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Bianca Santana é jornalista e autora de “Continuo preta: a vida de Sueli Carneiro (Companhia das Letras, 2021)” e “Quando me descobri negra (SESI-SP, 2015. Fósforo, 2022)”.
Serviço
Evento: Roda de conversa: Mulheres Indígenas em Luta
Data: Terça-feira, 30 de janeiro de 2024
Horário: 19h
Local: Loja Floresta no Centro, no 2º piso da Galeria Metrópole - Av. São Luiz,187 - Centro, São Paulo - SP
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Filme sobre a rede de comunicadores indígenas do Rio Negro (AM), que já percorreu festivais de cinema em 11 países, tem lançamento online
“Vai começar”! diz o comunicador João Nilton, do povo Yanomami, em cena que dá início ao documentário Wayuri. A obra conduz o espectador para dentro da Amazônia, durante a primeira oficina da Rede Wayuri, na comunidade de Duraka, em São Gabriel da Cachoeira (AM) e tem estreia online nesta quinta-feira (14/12).
Assista!
As imagens – muitas feitas pelos comunicadores – mostram rostos e vozes dos comunicadores indígenas que navegam pelas águas do Rio Negro e pelos mais diversos meios de comunicação levando adiante cultura e informações. E são muitas as histórias da Rede Wayuri.
Durante a pandemia, os comunicadores trabalharam bastante para produzir e divulgar informação confiável, inclusive em línguas indígenas, e combater as fake news que colocaram vidas em risco. Em 2020, o coletivo recebeu o título de herói mundial da comunicação, concedido pela Repórteres Sem Fronteiras.
A rede também foi reconhecida pela inovação e o combate à desinformação na Amazônia brasileira e recebeu, em 2021, outra premiação: o Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project (WJP), na cidade de Haia, na Holanda, durante o Fórum Mundial de Justiça.
Reconhecimento internacional
Japão, Portugal, França, Irlanda, Panamá, Estados Unidos, Austrália, Malásia, Índia e, é claro, Brasil. No total, "Wayuri" já percorreu 15 festivais em 11 países, levando adiante a história da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas, que atua no médio e alto Rio Negro, uma das regiões mais preservadas da Amazônia, dando voz à diversidade e à luta de povos como Baré, Tukano, Baniwa, Wanano, Piratapuia, Hup´dah e Yanomami.
O documentário levou o prêmio de melhor filme do Borderless Film Festival, no Japão, e foi vencedor do Prêmio Patrimônio Cultural/Linguístico e Identidade, no estadunidense Latino & Native American. Na Índia, a história dos comunicadores da Amazônia venceu na categoria ecologia.
A exibição mais recente no exterior aconteceu em Bagnolet, no entorno de Paris, em 6 de setembro. O documentário também foi indicado para o Goverla Cinema Lovers, na Ucrânia, mas possivelmente não foi exibido devido à guerra.
O filme é de Diana Gandra, que vive entre a França e o Brasil, com coordenação de produção e editorial da articuladora de políticas socioambientais do ISA, Juliana Radler.
A estreia do filme aconteceu em janeiro deste ano, durante a V Oficina de Comunicação da Rede Wayuri, em São Gabriel da Cachoeira (AM), na presença dos protagonistas: os comunicadores indígenas.
Além disso, o documentário foi exibido em maio, na inauguração do Cine Japu, no Telecentro do ISA, também em São Gabriel e teve uma exibição especial para 40 convidados no Centro Cultural Casarão de Ideias, em Manaus, seguido de roda de conversa com quatro comunicadores da Wayuri.
A Amazônia pelos povos indígenas
Coordenadora da Rede Wayuri, Cláudia Ferraz, do povo Wanano, fala da importância do reconhecimento dos trabalhos do coletivo de comunicação indígena.
“Essa divulgação é muito importante e nos fortalece. Estamos também cada vez mais falando nas universidades. Mesmo sem termos formação em comunicação, fazemos a comunicação popular. É importante a gente ir expandindo e mantendo a troca de parcerias, de produções coletivas. Mas é importante também que nosso trabalho seja reconhecido por quem está no território indígena”, diz.
Para Juliana Radler, a Rede Wayuri ecoa as vozes da Amazônia e o documentário dá visibilidade a esse trabalho.
“A Rede Wayuri dá voz a quem é da Amazônia, a quem mora aqui, aos povos indígenas. As pessoas daqui vão falar do seu lugar. A gente vê muito acontecer de uma pessoa que vem à Amazônia, passa alguns meses e escreve um livro, faz palestras, enquanto as pessoas daqui são invisibilizadas. A Rede Wayuri dá voz a quem de fato vive nesse território ancestral. São os povos indígenas essas vozes da Amazônia. E o filme ecoa essas vozes”, reflete.
E para se comunicar com o território e a diversidade cultural de 23 povos, a Rede Wayuri tem sua linguagem própria, seja falando português ou em línguas indígenas.
“A Rede tem linguagem própria e esse é nosso diferencial. Fazemos comunicação de parente para parente, dando vez e voz a essas pessoas, mulheres, homens, jovens, crianças. E somos capazes de comunicar com nossas linguagens! É muito bom ver o filme rodando o mundo”, diz Juliana Albuquerque, do povo Baré, comunicadora da Wayuri.
Liderança jovem e ex-coordenadora do Departamento de Adolescentes e Jovens da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (DAJIRN-Foirn), Adelina Sampaio, povo Desana, ressalta que a Wayuri é uma conquista do movimento e da juventude indígenas. “A rede vem para mostrar a luta das lideranças, a realidade nos territórios e outros temas. A Wayuri mostra um pouco de tudo em suas redes, em áudios, vídeos e fotos, multiplicando e debatendo informações”, afirma.
Com muita emoção, a diretora Diana Gandra conta que conhecer a Rede Wayuri e filmar com os comunicadores foi especial tanto profissional quanto pessoalmente. A cineasta diz que, seja no exterior ou no Brasil, a principal reação das pessoas quando veem o “Wayuri” é de surpresa e encantamento. “Acho que existe uma mobilização para que esse filme seja visto. É hora de o espaço para a voz dos indígenas ser mais amplo”, diz.
Segundo Diana, o filme mostra a Rede Wayuri e também a luta na qual a rede se engaja, trazendo uma mensagem de preservação socioambiental, de não à mineração, sim aos espaços e às vozes indígenas, não ao marco temporal, não à violência contra as mulheres indígenas.
Ela sonha agora em fazer um longa-metragem com a Rede Wayuri. “Os comunicadores, a Claudinha, o Moisés, a Laura, todas as pessoas que participam da Rede, são para mim exemplos que os brasileiros e todas as pessoas no mundo deveriam conhecer”, finaliza.
Navegando na informação
Ligada à Foirn e com a parceria do Instituto Socioambiental (ISA), a Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas foi criada em 2017. Começou com poucos comunicadores e vem ganhando força a partir da valorização das próprias comunidades indígenas e da importância do trabalho dos comunicadores na defesa dos seus direitos e do acesso à informação. Mesmo com as dificuldades de comunicação em algumas áreas remotas da Amazônia, o coletivo de comunicação leva as informações adiante.
A rede atua em um território indígena onde estão cerca de 750 comunidades de povos de 23 etnias nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos. Em São Gabriel da Cachoeira, além do português há quatro línguas indígenas co-oficiais: Nheengatu, Tukano, Baniwa e Yanomami.
Atualmente, a Rede Wayuri está em fase de expansão. Até 2022, o coletivo contava com cinco bolsistas e 50 colaboradores voluntários. Este ano, são 19 bolsistas que atuam a partir das áreas urbanas e de comunidades indígenas, sendo que os colabores continuam atuantes.
O coletivo realiza semanalmente o programa de rádio Papo da Maloca, que vai ao ar na FM 92,7. Em seguida, Cláudia Wanano edita o programa, dando forma ao Podcast Wayuri, disponibilizado nas principais plataformas de áudio.
A Rede também está reforçando sua presença nas redes sociais, com participação em coberturas de eventos como o Acampamento Terra Livre (ATL) e Marcha das Mulheres.
Visite o instagram da Rede Wayuri: https://www.instagram.com/rede.wayuri/.
Novos projetos estão a caminho!
Ficha Técnica “Wayuri”
Filme:
Diana Gandra
Coordenação de produção e editorial:
Juliana Radler
Imagens:
Rede Wayuri, Instituto Socioambiental, Adelson Ribeiro (Tukano), Álvaro Socot (Hup´dah), Naiara Bertoli, Ana Tui, Raquel Uendi, Moisés Baniwa, Juliana Radler, Diana Gandra, Irinelson Piloto (Tukano), Christian Braga, Plínio Guilherme (Baniwa)
Apoio: German Cooperation, Idem Institute e Rainforest Foundation Norway
Prêmios
Melhor filme - BORDERLESS FILM FESTIVAL (Japão)
Patrimônio Cultural/Linguístico e Identidade - LATINO & NATIVE AMERICAN (EUA)
Melhor filme na categoria ecologia - THILSRI INTERNACIONAL FILM FESTIVAL (Índia)
Participação em festivais
ACAMPADOC | País: Panamá
https://www.acampadoc.com/festival/
BOOM FESTIVAL | País: Portugal
https://boomfestival.org/boom2023/
MARMOSTRA | País: Portugal
https://marmostra.pt/
BORDERLESS FILM FESTIVAL | País: Japão
https://borderlessfilmfestival.weebly.com/
GOVERLA CINEMA LOVERS | País: Ucrânia
(O festival pode ter sido interrompido pela guerra)
CORK FILM WEEK | País: Irlanda
https://corkfilmfest.org/
LATINO & NATIVE AMERICAN | País: EUA
https://www.lanaff.org/
FORT SMITH | País: EUA
https://fortsmithfilm.com/
TAGUÁ FESTIVAL DE CINEMA | País: Brasil (Brasília)
https://festivaltaguatinga.com.br/
CINEMAZ | País: Brasil
https://www.cinemaz.com.br/
INTERNATIONAL KUALA LUMPUR ECO FILM FEST 2023 | País: Malásia
https://filmfreeway.com/kleff
INTERNATIONAL MULTICULTURAL FILM FESTIVAL | País: Austrália
https://filmfreeway.com/InternationalMulticulturalFilmFestival
AUSTRALIA INDEPENDENT FILME FESTIVAL (AIFF) | País: Austrália
https://www.ausindefest.com/
THILSRI INTERNACIONAL FILM FESTIVAL | País: Índia
festivalthilsri@gmail.com
NATURE & CULTURE - FILME FESTIVAL | País: Dinamarca
https://filmfreeway.com/poeticphonotheque
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