A Bacia do Rio Negro se estende pelos estados do Amazonas e de Roraima, no Brasil, e também avança pelos territórios vizinhos da Colômbia, Venezuela e Guiana. Na sua porção no Amazonas, a bacia é uma das regiões mais preservadas de todo o bioma amazônico, com biodiversidade incalculável. Por outro lado, a parte da bacia localizada em Roraima vem sofrendo grande degradação ambiental causada pelo garimpo ilegal de ouro, desmatamento e roubo de terra, ou "grilagem de terra".
Aproximadamente 68% da Bacia do Rio Negro no Brasil está formalmente protegida por um conjunto de unidades de conservação e terras indígenas legalmente reconhecidas. A diversidade cultural da região é enorme: ali vivem 45 povos indígenas e estão localizados dois patrimônios culturais do Brasil – a Cachoeira de Iauaretê e o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro – além do ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina, lugar sagrado do povo Yanomami.
No Rio Negro, o ISA mantém trabalho de longo prazo e parceria institucional - que nos enche de orgulho - com associações indígenas e suas lideranças, entre elas a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), a Hutukara Associação Yanomami (HAY) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR).
Mantemos escritório e equipe na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), considerado o município mais indígena do Brasil, localizado no Alto Rio Negro. De São Gabriel, também descemos com as águas do Negro para apoiar comunidades e associações indígenas dos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, ambos no Amazonas. Em 2009, o ISA incorporou a organização Comissão Pró-Yanomami (CCPY), sua equipe e legado, abrindo escritório em Boa Vista (RR) e passando a atuar diretamente com o povo Yanomami e outros povos de Roraima.
Atualmente, o ISA atua na Bacia do Rio Negro com a promoção de processos formativos, articulando parcerias para a proteção dos territórios indígenas, valorização da diversidade socioambiental, segurança alimentar das comunidades, desenvolvimento de cadeias de valor da economia da floresta para geração de renda e produção de pesquisas interculturais que dêem visibilidade aos conhecimentos tradicionais e modos de vida das populações que, há muitos anos, mantém as florestas da região preservadas.
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Comunicação indígena será decisiva para enfrentar mudanças climáticas em 2025
Capazes de conectar saberes ancestrais e práticas decisivas para a preservação da floresta, comunicadores indígenas terão papel crucial nos espaços de decisão a respeito do clima
Este texto faz parte da série O Jornalismo no Brasil em 2025 e foi originalmente publicado na Newsletter Farol Jornalismo.
Enquanto o mundo assiste a eventos climáticos cada vez mais extremos – como as secas históricas que assolaram a Amazônia em 2023 e 2024, e o sul do país com chuvas torrenciais que inundaram várias cidades no Rio Grande do Sul em maio passado, uma pergunta ecoa: como enfrentaremos a crise climática global? No coração dessa resposta estão os indígenas. Em 2025, os povos originários terão muito a ensinar sobre como enfrentar um fenômeno que já afeta milhares de vidas no planeta.
Na bacia do Rio Negro, localizada no extremo noroeste do estado do Amazonas, onde vivem 23 povos indígenas, comunidades que habitam a região há milhares de anos enfrentam tanto as cheias recordes quanto secas prolongadas que desafiam sua sobrevivência. Foi que aconteceu em 2023, quando a navegabilidade dos rios foi afetada pela seca histórica, dificuldade o acesso à roça, de onde tiram o seu principal alimento, a mandioca. Essas populações dependem da floresta e dos rios para viver. Mudanças no ciclo das chuvas afetam a dinâmica e comportamento dos peixes, das minhocas e até a fertilidade do solo. Esses impactos não são meramente "dados" para os povos indígenas: são vivências que alteram profundamente suas práticas de subsistência, rituais e a sua relação com a natureza.
Nessa região, desde 2005, quem tem feito esses registros são os Agentes Indígenas de Manejo Ambiental, uma iniciativa da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA). Os resultados dessas pesquisas são publicados em uma revista chamada Aru, que está em sua quarta edição, disponível na internet e também circulando no formato impresso na região.
Grupos mostram resultados de pesquisas sobre suas regiões durante o II Encontro Geral dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental - Aimas|Ana Amélia Hamdan/ISA
Mesmo diante dos desafios apresentados pelas mudanças climáticas, os modos de vida tradicionais dos povos indígenas oferecem um farol em meio à crise. Com práticas sustentáveis, como o manejo agroflorestal e o uso de técnicas de pesca e roçado que respeitam os ciclos naturais, essas comunidades demonstram que é possível viver em harmonia com a natureza – eles preferem afirmar que são partes da própria natureza e da terra mãe, por isso, há tanto cuidado e respeito com ela.
As técnicas parecem simples, mas carregam uma sofisticação baseada em milhares anos de observação e interação direta com a natureza – um conhecimento que os cientistas recém começam a reconhecer como essencial no enfrentamento das mudanças climáticas. Isso é comprovado por vários estudos, que deixam claro que os territórios indígenas são os mais preservados no Brasil.
Porém, os povos indígenas, guardiões das florestas, sofrem ataques aos seus direitos e garantias constitucionais todos os dias, seja no Executivo, no Legislativo e Judiciário. Por isso a necessidade de uma mobilização permanente e de luta por essas conquistas.
Em um cenário de mobilização e de luta, a comunicação tem um papel crucial. É aqui que entra a Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, a Rede Wayuri. Criada em 2017 para fortalecer as narrativas dos povos indígenas, a rede utiliza podcasts, redes sociais e materiais educativos para divulgar informações que combinam saberes tradicionais e práticas contemporâneas. Além de alertar sobre os impactos das mudanças climáticas, a Wayuri valoriza e compartilha estratégias indígenas de adaptação, aproximando os povos da região e levando suas vozes ao mundo.
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Comunicadores indígenas de 10 etnias do Rio Negro após a III Oficina de Comunicadores da Rede Wayuri, em São Gabriel da Cachoeira (AM)|Ana Tui/ISA
A Rede Wayuri também age como um radar, registrando os efeitos das mudanças climáticas em territórios indígenas e mobilizando comunidades para agir. Um exemplo é o trabalho realizado para documentar cheias e secas extremas, que não apenas informam os próprios indígenas, mas também ajudam a alertar a sociedade sobre a gravidade da crise. É a prova viva de que os povos indígenas não são apenas vítimas das mudanças climáticas, mas protagonistas na luta por soluções.
Enquanto o planeta busca saídas para a crise em reuniões e eventos como as COPs, os saberes indígenas e a comunicação comunitária se mostram ferramentas indispensáveis. Reconhecer isso não é apenas um ato de justiça histórica, mas também uma estratégia urgente para salvar o futuro de todos. Como a floresta, os rios e as comunidades que nela vivem nos mostram, é preciso conectar saberes, práticas e vozes em uma verdadeira teia de soluções climáticas.
Em 2025, a tendência é que a comunicação popular, as redes comunitárias ocupem os espaços de decisão a respeito do clima, para poder comunicar aos povos da floresta o que se tem proposto para salvar o planeta, pois somos nós que estamos a segurar essa panela de pressão do aquecimento global.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
“Vitória coletiva”: Maurício Ye’kwana é o primeiro indígena a assumir coordenação da Saúde Yanomami e Ye’kwana
Liderança da região de Auaris deixa a diretoria da Hutukara Associação Yanomami para suceder o médico Marcos Pelegrini, que ocupou o cargo por um ano e quatro meses
Mauricio Ye'kwana em manifestação da Aliança em Defesa dos Territórios contra o garimpo|Cassandra Mello/Teia Filmes/ISA
Maurício Ye’kwana, liderança e ex-diretor da Hutukara Associação Yanomami (HAY), assumiu o cargo de coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye’Kwana (DSEI-YY). A ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou a portaria publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (19/12). Esta é a primeira vez que um indígena assume o cargo de coordenador do DSEI-YY, órgão responsável pela saúde dos indígenas da maior Terra Indígena do Brasil.
“É uma vitória coletiva para o povo Yanomami e Ye’kwana. Eu não esperava essa nomeação, foi uma surpresa, mas eu aceitei esse desafio diante das tomadas de decisões coletivas das associações da Terra Indígena Yanomami. Fico muito animado em ter energias positivas para enfrentar os desafios junto às lideranças”, disse ao Instituto Socioambiental (ISA).
Maurício Ye’kwana tem formação técnica em Gestão Territorial pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Além de diretor da HAY, ele já atuou na Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kwana (FPEYY, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), trabalhando em operações conjuntas com a Polícia Federal para retirada de invasores, especialmente no combate o garimpo ilegal.
Por cinco anos, fez parte da assessoria indígena do DSEI-YY. Ele agora sucede o médico Marcos Pelegrini, que ocupou o cargo por um ano e quatro meses. Pelegrini pediu exoneração na última segunda-feira (15/12).
“Agradeço a todos pela oportunidade de colaborar na reconstrução do subsistema de saúde indígena e pelo aprendizado que tive em participar desse processo. Estarei à disposição para contribuir com o que for possível”, disse Pelegrini em mensagem de despedida.
Antes, o enfermeiro Leandro Bola ocupava o cargo, tendo sido a primeira nomeação após o governo federal decretar Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) na Terra Indígena Yanomami.
O governo reconheceu a crise no território em 21 de janeiro de 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Boa Vista após se chocar com as imagens de crianças e anciãos desnutridos.
Desde então, o governo e os indígenas trabalham juntos para recuperar a Terra Indígena Yanomami da crise causada pelo garimpo ilegal, que atinge o território em diversas áreas, como saúde, educação e desmatamento.
Desafios e prioridades
Seguir no combate das mazelas causadas pelo garimpo ilegal será uma prioridade para Maurício Ye’kwana. Ele afirma que focará também em capacitar conselheiros distritais e restabelecer relações com profissionais da saúde que vivem na Terra Indígena Yanomami.
“Temos foco no combate à malária, que afeta todo o território atingido pelo garimpo. Esse vai ser o maior desafio. Vamos continuar cuidando dos casos de desnutrição e cuidar da saúde mental dos jovens de Auaris e Maturacá”, afirmou.
Segundo a liderança, é preciso melhorar a segurança dos profissionais que trabalham na Terra Indígena Yanomami e fazer um amplo diálogo com os profissionais, principalmente os enfermeiros.
“Eu não vou estar sozinho, terei o apoio de parceiros para trabalhar na crise humanitária que existe na Terra Indígena Yanomami. Vou olhar todos como uma família, pois os Yanomami e Ye’kwana são parentes. Eu aprendi isso convivendo com o Davi [Kopenawa, xamã e presidente da Hutukara Associação Yanomami], que é como se fosse meu segundo pai”.
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Mauricio Ye'kwana discursa no encontro de Lideranças Yanomami e Ye'kuana, onde os indígenas se manifestaram contra o garimpo em suas terras|Victor Moriyama/ISA
Novo momento
Ele trabalhará diretamente com Weibe Tapeba, chefe da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). Ambos fazem parte de um grupo de indígenas que integram posições de protagonismo dentro do governo federal para lidar com as questões indígenas.
“A nomeação do Maurício Ye’kwana representa um novo momento na saúde indígena no território Yanomami. A partir do diálogo com lideranças e gestores de organizações indígenas, conseguimos pactuar o nome do Maurício, que concentra atributos importantes para que ele consiga dar continuidade ao planejamento no DSEI. Cumprimos, portanto, com o papel de articulação para que esse importante momento pudesse se tornar realidade”, declarou.
O secretário de Saúde Indígena explicou, ainda, que planeja atender à necessidade de ampliação no número de profissionais a fim de alcançar todas as comunidades indígenas, e de estruturação de equipamentos de saúde e saneamento, além do aperfeiçoamento da rede de assistência em Boa Vista e na Terra Indígena Yanomami, com a implantação do Centro de Referência em Surucucu.
“Será o primeiro do país a ofertar serviços de atenção especializada, implantação de telessaúde em quatro polos bases e na CASAI Yanomami, além da implantação da Unidade Hospitalar de Retaguarda da Saúde dos Povos Indígenas de Roraima”, afirmou.
A execução será uma parceria com a UFRR, sendo resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde, Ministério da Educação e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
Desde 2023, lideranças indígenas assumem cargos estratégicos no governo federal, como Joenia Wapichana sendo a primeira presidente indígena da Funai e Sonia Guajajara sendo a primeira ministra dos Povos Indígenas, criado no início da terceira gestão de Lula.
“A relação do Estado Brasileiro com os povos indígenas começa a mudar. Agora, gestores indígenas estão ocupando espaços estratégicos da gestão em diversas instâncias do Governo Federal, o que nos permite, implantar um novo modelo de governança e gestão indígena na administração pública”, avaliou Weibe Tapeba.
Ainda conforme Weibe Tapeba, a partir de janeiro de 2025 , a Sesai deve construir uma estratégia com as organizações indígenas em conjunto com Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana para o monitoramento e planejamento das ações do DSEI, reforçando a participação social indígena.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Formação de Promotoras Legais Populares Indígenas fortalece a luta contra a violência de gênero no Rio Negro
Lideranças femininas indígenas promovem o diálogo entre saberes tradicionais e direitos legais, ampliando redes de apoio e proteção em suas comunidades
Entre os dias 11 e 13 de novembro, o segundo módulo do Promotoras Legais Populares Indígenas reuniu cerca de 80 lideranças femininas das cinco coordenadorias regionais da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e da sede do município de São Gabriel da Cachoeira para discutir os direitos das mulheres em conexão com as culturas locais. O objetivo principal foi auxiliá-las para replicar esses conhecimentos em suas comunidades e organizações de base e promover o enfrentamento à violência de gênero, em especial a praticada contra as mulheres.
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Segundo módulo do Promotoras Legais Populares Indígenas reuniu mais de 80 mulheres rionegrinas na Casa do Saber da Foirn|Vanessa Fernandes/ISA
A iniciativa, promovida pelo Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN/Foirn) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e o Observatório da Violência de Gênero no Amazonas (OVGAM) da Universidade Federal do Amazonas, combina os conhecimentos jurídicos com os saberes e práticas indígenas, considerando tanto a realidade das mulheres nas comunidades quanto no contexto urbano.
Dulce Morais, antropóloga e assessora de gênero do ISA, explica que o primeiro módulo, realizado no segundo semestre de 2021, após período mais intenso da pandemia de Covid-19, buscou detalhar informações sobre direitos das mulheres e ferramentas jurídicas destinadas à sua proteção, e também ajudou a identificar as estratégias coletivas associadas ao sistema de conhecimentos, cuidados e práticas rionegrinas de prevenção e enfrentamento às violências contra as mulheres, jovens e crianças.
O segundo módulo seguiu a mesma proposta e o início da programação foi dedicado ao resgate de diversas ações de enfrentamento realizadas no Rio Negro desde o ano de 2018. Carla Dias, antropóloga do ISA foi uma das organizadoras da formação e conta que os momentos de trocas coletivas proporcionam o compartilhamento de experiências individuais e a construção conjunta de estratégias de cuidado e acolhimento, fundamentadas nos modos de vida, práticas e conhecimentos indígenas de cada povo e região de atuação da Foirn.
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Mulheres analisam mapeamento das associações e comunidades de origem na região do Rio Negro|Vanessa Fernandes/ISA
“Foi uma oportunidade também para fortalecer as redes de apoio e parcerias nos cuidados de prevenção e enfrentamento às violências contra as mulheres rionegrinas”, destacou.
Elizângela Costa, liderança Baré e também organizadora da atividade, ressaltou a importância de unir o conhecimento das leis ocidentais, os serviços do Estado e os saberes tradicionais no enfrentamento à violência contra mulheres indígenas. “Hoje, vivemos nesses dois mundos: o tradicional e o contemporâneo. Para continuar existindo nesses dois espaços, precisamos caminhar com esses dois saberes”, afirmou.
Segundo ela, é necessário produzir um entendimento e nomear as violências. “Muitas vezes, dizemos que não sofremos violência porque achamos que é algo cultural. Mas sempre reforço: cultura não é violência. Precisamos saber o que é cultura e também identificar o que é violência”, destaca.
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Elizângela Baré e Durvalino Dessano contando narrativas de origem da força das mulheres do Rio Negro|Vanessa Fernandes/ISA
Fortalecer práticas locais, como a valorização da língua materna, das práticas de alimentação saudável, benzimentos e o uso de plantas medicinais e a retomada do benzimento pelas famílias foram estratégias mencionadas pelos grupos durante o mapeamento de redes de apoio e estratégias de cuidado e acolhimento, aliado a presença e atuação de estruturas como Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), Centro de Atenção Psicossocial (Caps), hospital, delegacia e as organizações sociais presentes nos territórios.
Natália Farias, doutoranda do núcleo de pesquisas da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, contribuiu com a apresentação dos serviços públicos de saúde oferecidos na sede municipal de São Gabriel da Cachoeria, especialmente, para casos de violência sexual.
Renata Vieira, advogada do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA), apresentou juntamente com Mayitê Fontes Ambrósio, advogada do corpo técnico da Foirn, informações sobre as leis brasileiras que garantem direitos e proteção às mulheres e os serviços públicos disponíveis para sua proteção.
“É importante que as mulheres conheçam seus direitos, bem como as políticas públicas que o Estado oferece, para poderem reivindicar direitos e exigir políticas específicas para a sua realidade, mas sabemos que há limites tanto da perspectiva legal, quanto dos serviços públicos ofertados, que em sua maioria são inadequados para as especificidades socioculturais e geográficas das mulheres indígenas que vivem na Amazônia. Por isso, é importante que elas se utilizem dos próprios conhecimentos e fortaleçam as redes de apoio locais e familiares para o combate à violência dentro dos seus territórios”, afirmou Renata.
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Representantes das cinco coordenadorias da Foirn participaram da formação|Vanessa Fernandes/ISA
No último dia do encontro, por meio da atividade de estudo de casos fictícios, baseados em situações reais, as participantes, divididas em grupos, identificaram os tipos de violência ou vulnerabilidades enfrentadas pelas personagens e discutiram como agir diante dessas situações. “Elas puderam exercitar a combinação de práticas locais com os serviços e políticas públicas disponíveis para o manejo das situações, uma potente produção coletiva para as participantes”, finalizou Carla.
Flavia Melo, coordenadora do Observatório da Violência de Gênero do Amazonas (OVGAM) apresentou, de forma dialogada com as participantes, o trabalho de pesquisa “Tecendo a Vida sob Braços Fortes: caracterização da violência contra mulheres na cidade de São Gabriel da Cachoeira”, realizado no âmbito desta parceria interinstitucional, que traz um compilado de dados e análises de boletins de ocorrência com vítimas mulheres coletados na delegacia de São Gabriel da Cachoeira entre os anos 2010 e 2019.
Segundo Flávia, “os números são uma importante ferramenta de incidência política, seja para dar mais visibilidade à violência contra mulheres, para induzir políticas públicas específicas ou para informar o controle social”.
José Miguel Olivar, pesquisador e parceiro desde o início das iniciativas de cuidados com as violências de gênero no Rio Negro destacou que “a partir desses encontros, tem sido possível perceber a troca de informações, de afetos e de compreensões sobre a violência. Esse processo tem ajudado na ampliação e fortalecimento dessas redes de cuidado e luta política”, comentou.
O exercício de fazer o mapeamento georreferenciado das comunidades e bairros de origem das participantes evidenciou a extensa distribuição geográfica da rede de mulheres rionegrinas conectadas à agenda de prevenção e enfrentamento à violência de gênero. O mapeamento geográfico das participantes subsidia a organização dos demais módulos da trilha formativa do Promotoras Legais Populares Indígenas do Rio Negro e o acompanhamento do potencial multiplicador da iniciativa.
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Mulheres fizeram o exercício de mapear suas associações e comunidades de origem em mapa georreferenciado produzido em tecido por Renata Alves, do ISA|Vanessa Fernandes/ISA
Rede de multiplicadoras
Uma das representantes da região do Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn), Carlinha Yanomami, da comunidade de Maturacá, na Terra Indígena Yanomami no Amazonas, disse estar empolgada com a participação na oficina e que o conhecimento adquirido é de grande importância para elas.
“Nós, mulheres Yanomami, muitas vezes não conhecemos bem nossos direitos. Se estão machucando nós pelo psicológico ou pelo físico, então oficinas como essa, com certeza, vão contribuir muito para nos ajudar. O que a gente aprende, o que a gente tem de conhecimento, a gente compartilha com as que ficaram (nas aldeias)”.
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Mulheres se organizaram em rodas para discussões em grupo. Os resultados foram apresentados a todas as participantes|Vanessa Fernandes/ISA
Pedrina Gonçalves Gaspar, Baré, representante da região do Alto Rio Negro e Xié (Caibarnx), conta que o que mais ela achou importante foi poder entender questões sobre os direitos das mulheres. “A gente sabia de algumas coisas, mas não de tudo. Aqui, algumas dúvidas foram esclarecidas. Poder vir, ouvir e levar esse conhecimento para outras mulheres, para nossas associações. Trabalhamos com associações de homens e mulheres, e achei fundamental participar para aprender sobre nossos direitos e repassar às mulheres na base”.
Ivaneide Júlio Galdêncio, do povo Baré, vive no município de Santa Isabel do Rio Negro e conta que nunca tinha escutado sobre outros tipos de violência e que o encontro foi importante para que ela aprendesse a identificar e, assim, também levar o conhecimento a outras mulheres, nas reuniões da associação, nas comunidades: “às vezes, nós sofremos [violências] e nem percebemos. Pensamos que violência é só apanhar, levar soco. Mas vai além. Às vezes, os homens falam palavrão, tratam mal e nem percebemos que isso também é uma forma de violência, né”.
“Lugar de mulher é onde ela quiser”
Após o encerramento da oficina, a programação seguiu com a IX Assembleia Geral Eletiva de Mulheres do Rio Negro, que reelegeu Cleocimara Reis para dar continuidade aos trabalhos realizados nos últimos dois anos a frente do Departamento de Mulheres.
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Reeleição de Cleocimara Reis foi celebrada com presentes e cantos tradicionais. Emocionada, ela agradeceu o reconhecimento|Vanessa Fernandes/ISA.
Cleocimara Reis recebeu 44 votos, do total de 55 das representantes votantes das Coordenadorias Regionais da Foirn. Ela agradeceu, emocionada, e falou do desafio de representar as mulheres de 23 povos das 750 comunidades indígenas da região, distribuídas em três municípios - São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Em sua fala, destacou a importância de enfrentarem, juntas, os desafios e fortalecer a luta coletiva. “Que a gente possa fazer o nosso movimento de mulheres de verdade. Que a gente possa se apoiar para a gente ter a equidade de gênero que a gente fala tanto. A gente acompanha o sofrimento e a luta de cada mulher, seja jovem, criança, adolescente, adulta ou idosa. Precisamos trabalhar contra as desigualdades e a favor da nossa força coletiva”, reforçou a liderança.
Cleocimara Reis também destacou a importância e necessidade de fortalecer as parcerias com setores governamentais e parceiros da sociedade civil organizada, haja vistas que os desafios do DMIRN são muitos e complexos, exigindo assim um trabalho a muitas mãos.
A cerimônia foi encerrada pelas mulheres indígenas rionegrinas com festa e renovação do esperançar. Reunidas, as representantes de cada Coordenadoria Regional ofertaram presentes, como colares e cuias a Cleocimara, e entoaram cantos nas línguas indígenas, com mensagens fortes de agradecimentos, felicitações e desejos de uma boa gestão para os próximos quatro anos. “E como a gente sempre fala, lugar de mulher é onde ela quiser. Muito obrigada”, finalizou a coordenadora reeleita do DMIRN.
O segundo módulo de formação do Promotoras Legais Populares Indígenas e a IX Assembleia Eletiva do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro foram produzidos com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), da Nia Tero e da Google. As opiniões expressas na reportagem não refletem necessariamente as opiniões dos parceiros apoiadores.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Pesquisadores indígenas constatam segundo ano seguido de seca no Rio Tiquié, no Amazonas
Extremos de seca e calor foram sentidos e reportados pelos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs), com impactos nas práticas de manejo das comunidades
Em 2025, pesquisadores indígenas de comunidades do Rio Tiquié completarão 20 anos de estudo dos ciclos anuais. Eles são conhecidos regionalmente como Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs) e sua pesquisa foca em processos e fenômenos cíclicos, que acontecem todos os anos ou em intervalos de tempo mais longos, mas regulares.
Observam peixes, anfíbios e formigas, que geralmente se reproduzem nos mesmos dias, depois de fortes chuvas que acontecem em algumas estações entre novembro e abril. Também, as plantas que estão dando flores e frutos que alimentam as pessoas e os animais e os esforços dos conhecedores para curar cada época e garantir que transcorram de forma sã, sem infortúnios ou doenças. Diariamente, além de observar esses e outros temas socioambientais, eles também tomam notas em seus cadernos.
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Participantes da oficina em Cunuri-Ponta (Wapunuhku), no médio curso do Tiquié, representaram 18 comunidades|Danilo Parra
O ano no Rio Tiquié começa quando cai a constelação da Jararaca (Aña poero na língua tukano, conhecida em outras regiões da Amazônia como Boiaçu) e tem início uma estação com chuvas mais regulares (em relação aos três meses anteriores) e alguns repiquetes do rio, nomeados conforme as partes do corpo da cobra que estão alcançando o horizonte ao poente.
Essa estação se estende por novembro e dezembro. Assim, em novembro são realizados encontros entre os AIMAs e a equipe do Instituto Socioambiental (ISA) para ler as anotações e organizá-las para produzir uma descrição conjunta daquele ano. Ao longo dos anos, a persistência em realizar esses encontros motiva os pesquisadores indígenas a manterem e aprofundarem suas observações e anotações.
Neste ano, o encontro ocorreu entre os dias 15 e 23 de novembro, na comunidade Cunuri-Ponta (Wapunuhku), no médio curso do Tiquié. Estiveram presentes todos os atuais 22 AIMAs dessa região, representando 18 comunidades de seis etnias (Tukano, Desana, Tuyuka, Yebamasa, Tariana e Yuhupdeh).
Participaram ainda três conhecedores: Nazareno Marques (Tukano de Moopoea), Teodoro Barbosa (Yebamasa de Pinokope) e Januário Alves (Tuyuka de Ahkãrabua), além de moradores do local, uma equipe do ISA (Aloisio Cabalzar e Danilo Parra, Mauro Pedrosa, com a cineasta Mariana Lacerda).
Além das anotações trazidas pelos AIMAs em seus diários, são levadas para esses encontros informações produzidas em outros contextos e escalas espaciais, que possam contribuir na interpretação do ciclo anual. A principal delas são as narrativas que explicam a estrutura e o funcionamento do território-cosmos tukano, comentadas pelos especialistas presentes.
Na oficina, no primeiro momento, os diários foram lidos e alguns de seus aspectos foram destacados: os pulsos do rio com os nomes das estações, as etapas do trabalho agrícola, as migrações e reproduções dos peixes, e as florações e frutificações das plantas.
Em seguida, foi elaborada uma linha do tempo horizontal, tendo como primeira referência o nível do rio, plotando os outros temas em níveis inferiores do papel. Finalizada essa parte, foram escritos três textos sobre o ano completo, um por sub-região – Alto Tiquié, Rio Castanha e Médio Tiquié – divididos em seções para cada uma das principais constelações que marcam as estações do ano. Ao mesmo tempo, foram elaboradas representações gráficas do calendário anual, também uma para cada sub-região. São desenhos grandes compostos coletivamente.
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Ismael dos Santos e Andriele Freitas organizam as informações dos diários em oficina|Mauro Pedrosa/ISA
Um assunto que foi desenvolvido nesse encontro com os conhecedores foi a estrutura do universo em camadas e como elas estão interrelacionadas, como o manejo do mundo feito pelos especialistas requer manejar energias, água, ar e outras substâncias vitais entre elas. Essas camadas também estão estruturadas a partir de instrumentos de criação, assim como o corpo humano – banco, suporte-de-cuia, cuia, lança-chocalho, dentre outros.
A cura de doenças é concomitante à cura do mundo em seus devidos tempos. Foram identificadas 13 camadas, começando pela mais profunda, Wamudia, o Rio Umari, até a mais alta, Karãkoditapati, lago de sumo de frutos doces, situada acima da camada das estrelas e da qual se pode buscar alívio para os períodos de quentura extrema.
Em duas rodas de conversa noturnas, esse tema foi exposto pelos conhecedores, assim como benzimentos relacionados. Na segunda sessão noturna, também foram colocadas questões específicas sobre aspectos que chamaram a atenção no ciclo anual que se encerrou.
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Nazareno Marques, conhecedor, explica para os AIMAs as camadas do mundo|Aloisio Cabalzar/ISA
Esse é o segundo ano de seca extrema em toda a Amazônia, com déficits significativos de chuvas e muitos rios atingindo seus níveis mais baixos já registrados. É o caso dos rios Solimões, Purus e Madeira, cujos leitos se transformaram em extensos bancos de areia, prejudicando o abastecimento de água, o transporte e a pesca.
No porto de Manaus, o Rio Negro atingiu o segundo recorde consecutivo de seca, algo inédito em mais de 120 anos de registros. Como esse local está próximo à confluência com o Solimões, essa medição reflete a influência de ambos, com o Solimões drenando as águas do Negro.
Os pontos de medição do Rio Negro acima também mostraram vazões acentuadas, mas não alcançaram níveis extremos, até porque o período de maior vazão acontece nos primeiros meses do ano nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos.
O Alto Rio Negro, mesmo sendo uma região significativamente mais chuvosa, teve o segundo ano consecutivo com períodos mais secos e quentes entre os meses de agosto e outubro, com impactos na agricultura familiar e na pesca, principais atividades da economia e soberania alimentar das comunidades indígenas.
Segundo os AIMAs, os tubérculos plantados nas roças não resistiram e tanto as mandiocas quanto frutíferas plantadas e silvestres, secaram com as altas temperaturas. Por outro lado, os verões com vários dias de sol e calor intenso propiciaram a queima de maior número de áreas abertas para novos roçados. Com a queima das roças, apareceram muitos besouros mereasipama nos ingazeiros, que são comestíveis.
Observaram também muitas florações na floresta no final do ciclo passado e nesse, como japurá da beira do rio, mas nem toda floração frutificou. As frutas que produziram muito foram patauá (wahkarika), uacu, umari, pupunha e ingá-de-metro; mas deu pouco buriti e ucuqui.
Aves como tucano, japus e japins apareceram mais nesse último ciclo e migrações dos animais também continuaram, como caititu, queixadas e macacos-barrigudos. Porco caititus e macacos atacaram mais as roças em todo o Rio Tiquié, comendo as frutas plantadas que são alimento. O mesmo aconteceu com periquitos e papagaios comendo muito os frutos das palmeiras ao redor das comunidades.
A pesca ficou mais difícil com a estiagem e a seca dos rios, muitos frutos dos quais os peixes se alimentam nos igapós caíram no solo seco da mata, assim os peixes ficaram magros e sem gordura. As grandes estiagens facilitaram também o emprego de práticas de pescaria mais predatórias, como mergulhos, arrasto com redes nas praias e tinguijamentos nos afluentes, levando os peixes a fugirem para outros lugares. Isso causou a escassez de peixes no Rio Tiquié.
No Alto Tiquié, não foram observadas piracemas de aracu-riscado (Leporinus agassizii) e araripirá (Chalceus macrolepidotus). Também não aconteceram migrações de sarana (Curimatella alburna), já que o rio secou muito.
Tanajuras (dusa) revoaram o ano todo, depois que chovia bastante, e não apenas nas esperadas épocas de reprodução – fenômeno atribuído às mudanças recentes nos ciclos.
O que chamou mais a atenção foram os verões intensos nos últimos meses do ano indígena do Rio Tiquié. Como tem sido repetidamente reportado pelos AIMAs nos últimos anos, o calor forte dificulta a lida nas roças, reduzindo o horário de trabalho às horas de sol menos intenso, e também desregula vários ciclos de vida.
Em 2024, houve o agravante de chegar muita fumaça de longe, com a piora da qualidade do ar, provocando mais doenças, como doenças respiratórias, diarreia e malária. Por outro lado, houve redução do número de suicídios nas festas, com mais preocupação e realização de proteção pelos conhecedores dos rituais.
Os AIMAs seguem vivenciando seus espaços no rio, na floresta, nas roças e capoeiras onde fazem seu manejo cotidiano. Suas anotações, ao longo do tempo, ajudam a entender como essas paisagens vão se reproduzindo e as relações que as constituem se renovam.
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Rede Energia e Comunidades pede revisão da Tarifa Social de Energia Elétrica
Consumo médio de famílias beneficiárias já chega a 150 kWh/mês e a campanha reivindica que o desconto de 100% seja aplicado para consumos de até 200 kWh/mês
Pessoas seguram cartazes reivindicando tarifa social justa e inclusiva no ato de lançamento da campanha, em Belém | Paula Gomes (@gomespaula_)
O consumo médio de energia de famílias atendidas pela Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE) chegou a 150 kWh/mês no primeiro semestre deste ano, de acordo com a Rede Energia e Comunidades, que afirma que o desconto atual por faixa de consumo tem se tornado obsoleto, pois corresponde a aproximadamente R$30 por mês.
Por isso, foi criada a campanha “Energia dos Povos”, cuja finalidade é pressionar por uma revisão da TSEE, que irá beneficiar comunidades quilombolas e indígenas, mas também famílias de baixa renda de todo país. A Campanha da Rede Energia e Comunidades, grupo formado por instituições sociais, foi lançada neste mês e também pede que o acesso ao benefício seja menos burocrático, incluindo automaticamente famílias que fazem parte do CadÚnico e que, muitas vezes, não têm conhecimento desse direito.
Assista ao vídeo da campanha:
O programa prevê uma tabela escalonal, que diminui a porcentagem de desconto conforme o consumo cresce, sendo de apenas 10% para residências com consumo mensal entre 101 kWh e 200 kWh. Em 2023, o consumo médio já chegava a 140 kWh/mês.
“Considerando este quadro de consumo médio das famílias, é nítido que a TSEE, criada para aliviar o peso da conta de luz das famílias mais vulneráveis, já não está cumprindo seu papel de forma adequada há muito tempo”, afirma a campanha sobre a taxa que é um benefício concedido pelo governo a famílias classificadas como de baixa renda.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica apontam que 7,7 milhões de famílias atendem aos requisitos para receber o benefício, porém, por motivos diversos, não contam com a redução da tarifa.
“Além disso, o cálculo da primeira faixa de desconto da tarifa precisa ser atualizado: é necessário um aumento de pelo menos 200 kWh para aliviar o contexto de pobreza energética em que milhões de pessoas vivem no Brasil”, diz trecho da campanha.
Segundo Ciro Campos, do Instituto Socioambiental (ISA), a tarifa social também contribui menos do que poderia para o desenvolvimento econômico das comunidades na Amazônia e outras regiões do país.
“Os comércios e projetos produtivos normalmente consomem eletricidade acima desse limite, então o desconto fica diluído e o preço final fica parecido com a tarifa cheia cobrada na cidade. Portanto, é preciso fazer alguns ajustes nessa política para que ela ajude a desenvolver os negócios comunitários”, explicou.
O desconto é feito de forma escalonada, de acordo com o consumo mensal da residência. No caso de famílias indígenas e quilombolas é dado desconto de 100% quando o consumo não ultrapassa 50 kWh; 40% se o consumo fica entre 51 kWh e 100 kWh e 10% se o registro é entre 101 kWh e 220 kWh.
Para famílias que não são indígenas ou quilombolas, o maior desconto é de 65% se o consumo for até 30 kWh e as duas últimas duas faixas de descontos e consumo são iguais para todos os tipos de família.
Na prática, o consumo médio das famílias atendidas pelo benefício foi de 130 kWh entre 2020 e 2022, segundo nota técnica do Instituto Pólis. Enquanto no período de 2017 a 2019, a média foi de 120 kWh. E, como já mencionado, chegou a 150 kWh/mês no primeiro semestre deste ano.
Para 49% dos entrevistados, a conta de luz é a que mais impacta no orçamento doméstico. Na Amazônia, a situação é ainda mais preocupante: de acordo com uma pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC) realizada para o Instituto Pólis, duas em cada três pessoas entrevistadas na região — responsável por um quarto da energia produzida no Brasil, segundo a campanha — identificaram a conta de luz como o item de maior impacto no orçamento doméstico.
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Indígenas são impedidos de plantar roças devido à venda de créditos de carbono na Amazônia
Organizações denunciam transações sem consulta que impactam a vida nas aldeias na fronteira Brasil-Colômbia: "viramos vigias da floresta"
O cotidiano dos povos Tukano, Kotiria (Wanano), Desano, Tariano, Piratapuia e outros que habitam o rio Uaupés e afluentes, na Terra Indígena (TI) Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, foi impactado pela contrato de venda de créditos de carbono realizado entre comunidades indígenas colombianas e a empresa suíça South Pole. Considerada uma das maiores consultorias do mercado de carbono, a empresa acumula em seu portfólio o polêmico projeto Kariba, no Zimbábue, que foi objeto de uma série de denúncias de jornais internacionais pela falta de transparência e repasses injustos de recursos às comunidades africanas.
Quatro associações indígenas brasileiras dos rios Uaupés e Papuri relataram ao Instituto Socioambiental (ISA) a insegurança que estão enfrentando desde que os “parentes colombianos” fecharam acordo de créditos de carbono na fronteira na região da Cabeça do Cachorro, no Noroeste Amazônico. Drones voando em cima das comunidades, das roças, das áreas de pesca e da floresta no entorno virou algo tão comum quanto o voo das aves amazônicas.
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Assembleia reuniu comunidades indígenas da região de Iauaretê, no Rio Uaupés, onde mercado de carbono se tornou uma preocupação|Juliana Radler/ISA
“As comunidades começaram já a reclamar em 2022 que tinha muito drone, que estavam fiscalizando eles. Isso é o que eles não conseguiam entender: o que eram esses drones e por que estavam fazendo essa fiscalização?”, questionou uma liderança Tukano da Associação das Mulheres Indígenas do Distrito de Iauaretê (Amidi), que atua há mais de 20 anos na defesa da cultura e do território indígena na região do Médio Rio Uaupés, na fronteira entre Brasil e Colômbia.
Medo e desinformação na fronteira
Os indígenas, inicialmente, não sabiam o motivo dos drones sobrevoarem a região. Medo e boatos de que poderiam ser narcotraficantes ou guerrilheiros se espalharam. Depois, foi descoberto que os drones eram da empresa South Pole, que estava fiscalizando as comunidades indígenas com o intuito de averiguar se a floresta vinha sendo queimada para a abertura de roças — prática milenar para a subsistência das comunidades. As roças indígenas rionegrinas compõe o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (SATRN), que são inclusive Patrimônio Cultural Imaterial tombado pelo Iphan.
As lideranças brasileiras contaram que nunca houve nenhuma comunicação oficial das associações colombianas, da empresa South Pole ou do governo colombiano sobre os projetos de carbono na fronteira. O problema se acentuou quando os indígenas colombianos passaram a invadir as áreas de roça do lado brasileiro, pois estão impedidos de plantar e levar seu modo tradicional de vida. “Os parentes colombianos nos falaram que agora são vigias da floresta. Não podem mais fazer roças e recebem dinheiro para comprar seus alimentos de fora”, comentou um dos líderes Kotiria, da Associação das Comunidades Indígenas do Rio Waupés Acima (Acirwa).
Liderança Kotiria da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Uaupés (Amiaru), disse que em sua comunidade as pessoas começaram a acreditar que seriam expulsas. “Primeiro, eu fiquei com muito medo. Uns falavam que iam tirar as nossas casas da comunidade”. A liderança contou que após participarem de algumas assembleias e reuniões convocadas pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) sobre o tema, com a presença de advogados, a comunidade ficou mais tranquila e ciente dos seus direitos. “Do lado brasileiro, não vamos assinar nada sem consulta livre, prévia e informada”, enfatizou a representante da Amiaru, fazendo menção ao Protocolo de Consulta dos Povos Indígenas do Rio Negro.
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Mapa da região de atuação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que abrange 23 povos indígenas e a TI Alto Rio Negro, na fronteira com a Colômbia e Venezuela|PGTA TI Alto Rio Negro/Foirn
Falta de transparência
O processo de negociação entre empresa e indígenas colombianos ocorreu sem transparência e consulta às comunidades, segundo as lideranças brasileiras e a escuta feita pelo jurídico da Foirn na região. “Tudo foi feito sem diálogo comunitário, apenas com negociações envolvendo algumas famílias”, comentou o advogado da Foirn. As lideranças brasileiras informam que indígenas colombianos estão preocupados com o futuro das comunidades, já que não podem mais fazer suas roças e o recurso recebido também não é suficiente para o sustento. “O que sabemos é que o contrato não foi bom para os parentes colombianos e alguns estão arrependidos”, informou a liderança da Acirwa.
“As maiores comunidades colombianas que estão invadindo as áreas de roça brasileiras são Ibacaba, São Joaquim e Igarapé Inambu. Já no Alto Papuri, são as comunidades de Santa Maria, Los Angeles e Acaricuara que estão vindo fazer roça no lado brasileiro”, explicou a liderança Tukano da Associação das Comunidades Indígenas Alto Rio Papuri (Aciarp).
Na comunidade colombiana de Ibacaba, uma das envolvidas na transação de créditos de carbono, os indígenas da etnia Kotiria não podem mais fazer roças. Acordos antigos entre Kotirias do Brasil e da Colômbia de uso dos territórios tradicionais para fazer roças, não estão mais vigorando. Assim, nascem conflitos e incertezas quanto ao futuro das comunidades e a permanência da população, já que os contratos são de longo prazo, segundo as lideranças indígenas. “Os nossos antepassados trabalhavam bem juntos, mas agora essa situação de carbono está atrapalhando. Os colombianos também são Kotirias, falam a mesma língua que nós. Vivemos na mesma cultura”, lamentou o representante da Acirwa.
As comunidades indígenas brasileiras na fronteira com a Colômbia afirmam que a negociação de carbono realizada junto às comunidades colombianas nos rios Uaupés e Papuri trouxe um tremendo impacto negativo para o modo de vida indígena. A roça é mais do que o sustento alimentar, está na base da cultura indígena. Sem roça, não há vida na comunidade. Para os brasileiros, é preciso que haja um diálogo transparente entre as autoridades brasileiras e colombianas sobre os projetos de carbono nas terras indígenas fronteiriças.
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Paisagem florestal da Terra Indígena espelhada nas águas calmas do Rio Uaupés, afluente do Negro que liga Brasil e Colômbia|Juliana Radler/ISA
“Para cada comunidade colombiana chegou um motor e uma voadeira quando eles negociaram o contrato. Essas voadeiras e motores eram para eles fazerem a articulação na área. Depois receberam motosserra, tanque de água, placas solares, baterias. Esses são os materiais que eles receberam. Por isso, ficamos preocupados. Se os colombianos vão continuar a trabalhar desta forma com as empresas, isso poderá acontecer com a gente. As empresas são desobedientes, elas podem entrar na parte do Brasil e querer trabalhar assim. Na minha visão temos que nos defender e termos uma posição clara”, alertou o líder Tukano da Aciarp.
Nesta região da fronteira Brasil-Colômbia o trânsito entre indígenas é livre e o uso dos territórios indígenas em ambos os lados é regido por acordos comunitários entre povos que falam a mesma língua e possuem a mesma cultura, como é o caso dos Kotiria e dos Tukano. Há muitos anos, a convivência entre os indígenas brasileiros e colombianos nesta região é pacífica e com amplo intercâmbio.
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Rio Uaupés em Iauaretê com vista para a torre de telefonia móvel já em território colombiano|Juliana Radler/ISA
Cowboys do carbono
Especialistas no mercado de carbono, como o Instituto Talanoa de Política Climática, alertam para o crescente número de projetos conflituosos, oriundos de negociações que envolvem empresas emergentes apelidadas de “cowboys do carbono”. De acordo com apuração do departamento jurídico da Foirn, federação indígena que representa as associações de base da região, a empresa South Pole é a responsável pelo projeto que vem causando impacto negativo nestas comunidades, denominado “Proyecto REDD + de Los Pueblos Indígenas del Vaupés Yutucu e Otros.
A empresa suíça South Pole está envolvida em uma das maiores polêmicas sobre negociação de créditos de carbono junto a comunidades tradicionais, no projeto Kariba, no Zimbábue, como noticiou o jornal britânico The Guardian em março deste ano. Estima-se que o projeto Kariba tenha arrecadado mais de 100 milhões de euros desde 2011, mas as comunidades envolvidas não se beneficiaram de forma justa dos recursos. Denúncias também foram feitas pela agência de jornalismo investigativo Follow the Money, pelo principal jornal alemão, Die Ziet e pela revista The New Yorker.
Amazônia colombiana
Na Amazônia colombiana, a South Pole desenvolve três projetos de REDD + nos departamentos do Uaupés (Vaupés ou Waupés) e do Amazonas, sendo dois deles registrados e validados na plataforma de certificação Verra, de acordo com o Diagnóstico de Projetos REDD+ na Amazônia Colombiana, feita pelo Instituto Amazónico de Investigaciones Cientificas, da Colômbia.
Este documento revela que a South Pole desenvolve o maior projeto de REDD+ na Colômbia, desenvolvido em outra área preservada, na região do Putumayo. Este projeto tem vigência de 30 anos e incide em uma área de 3.824.920 hectares, equivalente a 65,62% da área da reserva.
Já o projeto Yucutu e Outros, que vem impactando as comunidades indígenas brasileiras na TI Alto Rio Negro, tem vigência de 20 anos e abrange uma área de 850.062 hectares, o que equivale a 21,69% da área da Grande Reserva do Vaupés, na Colômbia, segundo o diagnóstico mencionado acima. A área de impacto do projeto engloba 74 comunidades indígenas colombianas.
A soma da área dos projetos implementados pelo South Pole na Colômbia chega a 4.806.513 hectares, o que equivale a 9,94% da área da Amazônia colombiana e 20% da área disponível para REDD+ nas suas reservas. Este número coloca a South Pole como a maior implementadora de projetos de REDD+ nas reservas amazônicas colombianas, conforme aponta o Instituto Amazónico.
O mercado voluntário de carbono teve uma rápida expansão na Colômbia e segundo dados da Plataforma Renare - Registro Nacional de Reducción de Emisiones y Remoción de GEI (Gases do Efeito Estufa), existe um total de 51 projetos de REDD+ na Amazônia colombiana, sendo nove já em fase de implementação, conclui o Diagnóstico sobre projetos de REDD+ na Colômbia.
Diante de denúncias de violações de direitos e da desconfiança sobre a veracidade dos projetos locais de carbono, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) posicionaram-se com recomendações claras para que as comunidades brasileiras não fechem contratos até que haja a definição de critérios e orientações para a inserção das Terras Indígenas no mercado de carbono.
A pergunta importante a ser feita é: os projetos locais de carbono são de fato soluções para o combate às mudanças climáticas ou apenas mera maquiagem verde (greenwashing) para enriquecer oportunistas?
“Para tanto, será necessário considerar as salvaguardas, os riscos envolvidos, as estruturas de governança, a segurança jurídica, os potenciais benefícios para os povos indígenas e, sobretudo, a contribuição destes projetos para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, escreveu a Funai em nota oficial em abril deste ano.
Já em agosto passado, o MPF expediu recomendação para que fossem suspensas todas as operações, contratos e tratativas em andamento no tema de crédito de carbono e no modelo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), que incidem nos territórios indígenas e tradicionais, com ou sem regularização fundiária definitiva, no estado do Amazonas.
“O documento recomendou que a comercialização de créditos carbono, no Brasil ou no exterior, seja suspensa. Tal informação deve ser encaminhada para todos os atores envolvidos nas tratativas e negociações em andamento, já iniciadas ou finalizadas – desde comunitários, lideranças, empresas e instituições nacionais ou internacionais –, para ciência e adoção das medidas recomendadas”, noticiou o MPF em seu site oficial. No entanto, o Conselho Nacional do Ministério Público, em setembro passado, solicitou por liminar que houvesse a suspensão da recomendação do MPF do Amazonas afirmando que tal medida extrapola suas atribuições.
O ISA entrou em contato com a empresa South Pole para ter informações sobre o projeto, mas não recebeu retorno até o fechamento desta publicação
* Os nomes das lideranças indígenas entrevistadas não foram mencionados por medida de proteção à fonte
E acompanhe os episódios do boletim de áudio "Vozes do Clima", do ISA, que tem o objetivo de levar informações a povos indígenas e quilombolas e comunidades tradicionais sobre os temas relacionados à pauta climática.
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Mulheres indígenas do Rio Negro lançam livreto sobre enfrentamento à violência de gênero
Publicação construída coletivamente traz estratégias de cuidado e prevenção, promovendo diálogo e fortalecimento em um território de grande diversidade cultural
Mulheres indígenas do Rio Negro se reuniram na Casa do Saber da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) na noite do dia 11 de novembro para o lançamento do livreto Cuidados e prevenção no enfrentamento à violência contra mulheres no Rio Negro. Um material informativo construído a muitas mãos a partir de diálogos e reflexões sobre gênero e violências ocorridas entre as mulheres rionegrinas das diversas etnias da região.
A publicação está disponível no acervo do ISA para download gratuito e foi organizada pelo Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN) da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), em parceria com o Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental (ISA) e a Faculdade de Saúde Pública da USP.
A cerimônia de lançamento, realizada durante a programação do II Módulo de Formação de Promotoras Legais Populares Indígenas, foi marcada por uma apresentação de canto e dança tradicional das mulheres representantes da Coordenadoria das Organizações Indígenas do Distrito de Iauaretê (Coidi), seguida de uma roda de conversa entre as participantes e representantes de instituições parceiras.
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Mulheres da Coidi iniciam dança tradicional|Vanessa Fernandes/ISA
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Cerimônia de abertura foi seguida de roda de conversa|Vanessa Fernandes/ISA
Promotoras Legais Populares Indígenas
Trata-se de um espaço de formação destinado às lideranças comunitárias indígenas e ensina conhecimentos teóricos e práticos sobre as leis e direitos das mulheres, a fim de promover diálogos que levem em consideração os contextos e especificidades locais, possibilitando que estas mulheres possam se tornar replicadoras desses conhecimentos em suas organizações e comunidades. O segundo módulo em São Gabriel da Cachoeira, promovido pelo DMIRN em parceria com o ISA e a Faculdade de Saúde Pública da USP, ocorreu de 11 a 13 de novembro.
Em sua fala inicial, Cleocimara Reis Gomes, coordenadora do DMIRN, explicou que a elaboração da publicação e toda a sua escrita foi pensada para tornar acessível especialmente às mulheres de base que têm dificuldade com o português.
A região do Rio Negro abriga povos de 23 etnias e três língas cooficiais (baniwa, nheengatu e tukano). “A gente tentou facilitar também nas palavras para que a gente pudesse deixar que as pessoas entendam o que está dentro desse livro”, disse Cleocimara Gomes.
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Cleocimara Gomes, coordenadora do DMIRN|Vanessa Fernandes/ISA
Dividido em três partes, o livreto faz um resgate das atividades colaborativas realizadas ao longo dos últimos cinco anos na região, trazendo uma caracterização das violências contra mulheres a nível local e um resumo das discussões e reflexões geradas a partir do I Módulo de Promotoras Legais Populares Indígenas, realizado no município em 2021.
Em um segundo momento, a publicação apresenta estratégias utilizadas pelas mulheres indígenas rionegrinas no enfrentamento às violências, em consonância com os aparelhos públicos disponíveis, em especial na sede do município de São Gabriel da Cachoeira, para denúncias dos casos e acolhimento às vítimas.
Elizângela da Silva Costa, Baré, liderança indígena com origem em Cué Cué Marabitanas, e doutoranda pela Faculdade de Saúde Pública da USP, é uma das responsáveis pela escrita do livreto e reforçou, durante o lançamento, sobre a importância dos conhecimentos tradicionais no enfrentamento à violência doméstica, além do uso de uma linguagem acessível, trazendo as informações para o contexto vivenciado pelas mulheres e homens em suas comunidades.
“Esse livro foi escrito com um olhar do meu dia a dia. E, às vezes, a gente quer aprender mais leis, leis, leis, só que aquelas leis [ocidentais] não estão diariamente com a gente dentro do nosso território. O que está diariamente com a gente é as nossas plantas, é as nossas roças, é a margem dos nossos rios, eles que ajudam a gente a curar as nossas vivências do dia a dia”, refletiu Elizângela Baré. Segundo ela, os espaços de diálogos com as novas gerações precisam ser resgatados para que os ensinamentos sejam repassados e não se percam no tempo.
O uso das plantas para chás, banhos e outros feitios tradicionais com o intuito de “amansar o marido”, contra mau olhado e outras questões que afetam o bem-estar e as relações delas no âmbito da família e da comunidade, ressaltou, também precisam estar entre as estratégias de cuidado das mulheres indígenas no enfrentamento à violência, assim como sua sustentabilidade e autonomia por meio das artes, dos artesanatos e da agricultura como forma de geração de renda.
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“Esse livro foi escrito com um olhar do meu dia a dia", afirmou a liderança Elizangela Baré no lançamento|Vanessa Fernandes/ISA
A última parte da publicação é dedicada a orientar a facilitação de rodas de conversa sobre as violências enfrentadas por mulheres indígenas do Rio Negro. Carla Dias, antropóloga do ISA e uma das escritoras e organizadoras da cartilha, destacou a relevância do trabalho coletivo registrado e promovido pelo livreto. Segundo ela, a iniciativa responde às demandas de lideranças femininas que reconhecem a importância de aprofundar o entendimento sobre as violências de gênero, mas enfrentam desafios para abordar o tema e dar início a ações como rodas de conversa voltadas para cuidados, direitos e enfrentamento à violência.
Segundo a antropóloga, o material também busca registrar e fortalecer estratégias de cuidado, prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres, além de incentivar o diálogo. O objetivo é assegurar que essas práticas sejam ampliadas e alcancem as comunidades de base, especialmente em um território tão extenso e diverso como o do Rio Negro.
“Que esse livro possa ser uma ferramenta de apoio para as lideranças rionegrinas, ampliando o alcance e a produção das estratégias de cuidados de vocês [mulheres]. De cuidados com vocês mesmas, de cuidados com as famílias. Estratégias que vocês têm ali à mão, para que combinadas às responsabilidades e políticas do Estado vocês possam viver bem”, salientou Carla Dias.
A importância do trabalho coletivo e dos diversos processos, parcerias e trabalhos realizados pelo Departamento de Mulheres também é salientado pela antropóloga Dulce Morais, do ISA, na elaboração do material.
“A condução de rodas de conversas, as pesquisas documentais realizadas em instituições do Estado, oficinas, formações e publicações foram fundamentais para a participação das mulheres indígenas, as trocas de conhecimentos e, finalmente, o desenvolvimento do livro”, disse ela, que também contribuiu com a escrita do livro.
Outro destaque da publicação são as ilustrações originais, criadas pela artista e graduanda do curso artes visuais na Unicamp Larissa Ye’padiho Mota Duarte, do povo Tukano.
Ela também ilustrou a cartilha Cuidados com o uso de bebidas alcoólicas na região do Rio Negro, lançada em fevereiro de 2024 e desenvolvida pelo ISA e Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas do Rio Negro (DAJIRN) da Foirn, em pareceira com o DMIRN.
Como liderança e ex-coordenadora do Departamento de Mulheres, ela conta que na época de elaboração dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) das Terras Indígenas do Rio Negro, percorreu o território e conheceu diversas mulheres e realidades. Os encontros com outras mulheres ao longo do caminho a inspiraram na hora de desenvolver o trabalho.
“Desenhar é também uma forma de escrever uma história, um sentimento, uma luta, uma resistência, um registro dos nossos conhecimentos tradicionais, artísticos e ancestrais. Eu tentei fazer todas vocês [mulheres] através do desenho”, afirmou Larissa Duarte.
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As mulheres indígenas participantes receberam a versão impressa do livreto durante o evento de lançamento|Carla Dias/ISA
Para Edneia Teles, do povo Arapaço, diretora da Secretaria Municipal de Juventude Esporte e Lazer (SEMJEL), a missão foi cumprida com sucesso. “Eu achei lindo, parecido com a gente. Fui logo buscar quem tinha feito. Pra mim, foi inédito isso, porque geralmente quem faz isso são os cariúas [não indígena/branco em nheengatu ]. Aí, quando a gente foi vendo, eu falei pra minha colega ‘isso aqui está lindo’”, relatou.
Ela ressaltou a linguagem acessível do livro e sua utilidade para o compartilhamento de informações. “Também vamos levar essa mensagem para outras mulheres que não têm esse conhecimento, compartilhar o que tem nesse livro através de fotos e das palavras colocadas nele”, finalizou.
O professor José Miguel Olivar da Faculdade de Saúde Pública, e Janete Alves Desana, vice-presidente da Foirn, completam o time de escrita e organização do material. O projeto gráfico e a diagramação são da designer e ilustradora Kath Xapi Puri.
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'Eles poluem, mas quem são afetados somos nós': juventudes do Rio Negro refletem sobre racismo ambiental e justiça climática
Durante Assembleia Geral, os jovens deram continuidade a preparação da Carta de Direitos Climáticos da Juventude Indígena do Rio Negro, que será levada à COP 30 de Belém
Jovens do Rio Negro relatam como as mudanças climáticas afetam seus territórios | Vanessa Fernandes/ISA
Adolescentes e jovens indígenas, reunidos no municípios de São Gabriel da Cachoeira (AM) para a V Assembléia Geral Eletiva do Departamento de Adolescentes de Jovens Indígenas do Rio Negro (Dajirn), refletiram sobre os efeitos da crise climática e do racismo ambiental sentidos e observados em umas das regiões mais preservadas do Brasil: o Alto Rio Negro, no noroeste do Estado do Amazonas
Participaram da assembleia, realizada entre os dias 23 e 26 e outubro, cerca de 100 jovens representantes das coordenadorias das associações do alto rio Negro e Xié (Caibarnx), do médio e baixo rio Negro (Caimbrn), do Distrito de Iauaretê (Coidi), do baixo Tiquié, Uaupés e afluentes (Diawi’i), Baniwa e Koripako (Nadzoeri) e da sede de Sao Gabriel da Cachoeira.
A assembleia é promovida pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).
Os representantes de 24 etnias das cinco coordenadorias regionais da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) relataram o aumento do calor que prejudica o trabalho nas roças, a insegurança alimentar causada pelas secas e grandes enchentes, a ausência de saneamento básico e acesso à água tratada.
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Nos grupos de trabalho, jovens refletiram sobre o futuro ideal para os seu territórios | Rede Wayuri
O encontro dá continuidade a um caminho trilhado por lideranças jovens da região, junto com o movimento socioambiental, para a construção da Carta de Direitos Climáticos da Juventude Indígena do Rio Negro.
A carta tem o objetivo principal de apresentar as demandas prioritárias dos territórios sob a perspectiva da juventude indígena e promover o diálogo com a sociedade, incidir nos espaço de decisão e gerar impacto na Conferência do Clima da ONU de Belém (PA) em 2025 - a COP 30 - espaço onde os países signatários negociam acordos sobre a mudança climática que afetam diretamente a vida das comunidades locais.
Os povos indígenas estão entre as populações que menos contribuem para as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no mundo, são os que mais contribuem para a preservação das florestas e rios, mas estão entre as populações que mais são impactadas pelos efeitos da crise climática, escancarando o racismo ambiental e as injustiças climáticas, conceitos e pautas muitas vezes distanciadas dos territórios.
Por um futuro ideal nas comunidades
Os eixos temáticos prioritários definidos pelos jovens durante o encontro foram: 1. gestão do lixo; 2. segurança alimentar; 3. saúde; 4. segurança para atuação em defesa das comunidades e do meio ambiente; preservação da cultura, diálogo geracional, conhecimento e saberes indígenas em diálogo com a ciência; 5. política ambiental na pauta dos governos estaduais e municipais.
A partir das vivências e observações do contexto local e global, os jovens destacaram que as populações indígenas, ribeirinhas, mulheres, crianças e idosos são os grupos mais afetados pelas mudanças climáticas no mundo. “Os ricos não vão ser afetados, né, porque eles têm tecnologia. Eles poluem, mas quem são afetados somos nós os ribeirinhos, os favelados, e nós indígenas principalmente”, observa Osvaldo Cardoso da Silva, do povo Baniwa, articulador Nadzoeri.
Fenômenos como o excesso de calor, verão fora de época, enchentes e secas sem controle foram os impactos mais mencionados. “Com secas mais prolongadas e chuvas intensas em períodos inesperados, isso afeta a agricultura local, dificultando o cultivo e a segurança alimentar, já que muitas comunidades dependem da agricultura”, relataram as representantes da Caimbrn, Mariete e Francicleia, do povo Baré.
“Esse é um desequilíbrio não é natural, ele é provocado por uma atividade predadora, e é uma realidade que a gente tá vivendo”, afirmou João Alex, do povo Yanomami, integrante da delegação Caimbrn.
No exercício de imaginar como seria um futuro ideal para as suas comunidades, o acesso a água tratada, a saúde de qualidade e a fontes renováveis de energia foram alguns dos pontos apresentados, além da coleta e destinação adequada do lixo, saneamento básico e investimento em tecnologias e alternativas de geração de renda que respeitem os modos de vida das comunidades, suas culturas e o meio ambiente.
“Mais saúde e bem-estar para todos. Imagine uma comunidade livre de doenças e com água potável e saneamento básico. Que a cultura e a tradição indígena sejam preservadas e celebradas. Imagine uma comunidade orgulhosa da sua história e identidade, transmitindo seus valores para as futuras gerações”, representante da sede.
A partir das discussões e a coletas das ideias apresentadas pelos grupos de trabalho da assembleia, as lideranças do Dajirn seguem para a etapa de escrita da Carta de Direitos Climáticos, que prevê ainda um retorno do texto aos territórios para revisão e aprovação junto às comunidades e associações até chegar a sua versão final a ser apresentada na COP 30.
‘Pelas novas gerações’
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"Eu quero que vocês, juventude, estejam sempre ativos juntamente comigo", afirmou Jucimery | DECOM/Foirn
Jucimery Teixeira Garcia, do povo Tariano, foi eleita a nova coordenadora do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas da Foirn pelos próximos quatro anos. Representante das associações do Distrito de Iauaretê, ela agradeceu emocionada aos votos de confiança da família, da comunidade e dos adolescentes e jovens presentes na assembleia.
“Eu quero que vocês, juventude, estejam sempre ativos juntamente comigo, assim uniremos forças”, disse ela, reforçando o desejo do reconhecimento das vozes jovens tanto nos territórios quanto fora.
Em seu discurso, Jucimery lembrou que o trabalho à frente do departamento, além de fortalecer a autoestima dos jovens, é também pelas próximas gerações. “A gente também tem que trabalhar para os que vão vir, para as nossas crianças, para nossos irmãos, nossos primos, e até futuros filhos também”, finalizou.
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Rede Wayuri e estudantes debatem cultura, educação e saúde mental de jovens do Rio Negro
Resultado da oficina, os produtos em áudio poderão ser acessados por jovens do mundo inteiro por meio da plataforma U-Report da Unicef
Participantes da oficina no Telecentro do ISA em São Gabriel da Cachoeira | Vanessa Fernandes/ISA
Durante dois dias, lideranças juvenis e de grêmios estudantis de São Gabriel da Cachoeira (AM) participaram de oficina de Rádio e Podcast promovida pela Rede Wayuri de Comunicadores Indigenas do Rio Negro e Organização Viração Educomunicação.
Aprendendo na prática, os estudantes levantaram diversos temas de interesse e produziram conteúdos que poderão ser acessados por pessoas do mundo inteiro por meio da plataforma U-Report, desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que busca promover a participação cidadã de adolescentes de jovens por meio das redes sociais.
A atividade aconteceu na sala Dagoberto Azevedo, no Telecentro do Instituto Socioambiental (ISA), em São Gabriel da Cachoeira (AM).
Prestes a completar sete anos de criação, a Rede Wayuri, ligada à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e com parceria do ISA, vem neste período atuando em todo o território que abrange os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, onde estão cerca de 750 comunidades de povos de 23 etnias.
Como primeiro exercício, os participantes da oficina foram convidados a fecharem os olhos e identificarem sete diferentes sons ao redor. Cachoeira, pássaros diversos, vassoura varrendo o chão e os ventiladores ligados foram os que mais se destacaram. A proposta era entender as diferentes camadas de sons que compõem um ambiente e que ajudam a contar uma história a partir de um local.
Em seguida, divididos em grupos, os estudantes fizeram rodadas de discussão e levantaram as pautas de interesse para os exercícios de produção, seguindo as etapas de proposição, planejamento, criação e avaliação, conduzido pelo educomunicador Nilson Mangin Junior.
“A gente conseguiu entender um pouco as necessidades dos jovens e dar espaço nos áudios, com o rádio, para eles poderem falar, se expressar e aprender um pouco como fazer e um pouco como isso é potente”, avalia Nilson.
Planos de continuidade dos estudos, saúde mental, identidade cultural do Rio Negro e participação política dos jovens estiveram entre os temas escolhidos e discutidos, que geraram episódios de podcasts que poderão ser acessados em breve por meio da plataforma U-report.
A estudante Naira Estefani, do povo Baniwa, participou da produção sobre a cultura no Rio Negro, em que o grupo ressaltou a impotancia da valorização das tradições, especialmente da língua. “Eu achei essa oficina ótima e uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a parte de aprender a fazer um podcast. Eu diria que uma frase que eu deixo pra hoje é saber se comunicar, saber falar com as pessoas. Aqui eu aprendi com pessoas incríveis, sobre várias coisas incríveis e conheci pessoas incríveis”, avaliou.
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Da esquerda para a direita, Luiza Gianesella, analista de projetos da Viração (esq.), Jhony Aguiar, do povo Tuyuka e IFAM, Claudia Ferraz, do povo Wanano, coordenadora da Rede Wayuri e Judite Loretta, do povo Piratapuia, responsável pelo acompanhamento do Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA) de São Gabriel da Cachoeira. | Suellen Samantha/Rede Wayuri
Judite Loretta, do povo Piratapuia, é responsável pelo acompanhamento do Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA) de São Gabriel da Cachoeira. Para ela, a oficina tem uma grande importância porque, “além de despertar ideias, renovação, faz com que eles também tenham novas expectativas de multiplicar para outros adolescentes”. “Eu vejo uma grande importância estar sempre motivando para que eles possam despertar melhores ideias de uma forma mais cultural e Indígena aqui na cidade de São Gabriel”, afirmou.
Ao final da oficina, os estudantes experienciaram o funcionamento de uma rádio na prática e fizeram a leitura dos roteiros produzidos ao vivo através da programação online da Rádio Wayuri.
Coordenadora da Rede Wayuri, Claudia Ferraz, do povo Wanano, explica que este é o início da realização de um projeto antigo de trabalhar a Educominucação nas escolas da rede pública e também nas comunidades indígenas do Rio Negro.
Os próximos passos incluem não só a ampliação das oficinas, mas também da programação da rádio online. “Vamos continuar com as oficinas, com cada grêmio em suas escolas e o objetivo principal é de criar um programa de rádio que irá fazer parte da grade da programação da rádio online Wayuri”, finaliza.
U-Report
Luiza Gianesella, analista de projetos da Viração, explica que, além de possibilitar o acesso a todas as informações disponibilizadas pela plataforma, o objetivo é também entender o que jovens e adolescentes de todo o país desejam e anseiam, por meio das enquetes feitas pelo chatbot Iuri através do WhatsApp, Facebook e Telegram.
“A gente quer que eles pensem essa ferramenta como uma possibilidade de levar mais longe aquilo que eles criam. Então os produtos comunicativos, todas as ações de comunicação que a rede [de comunicadores] pensa, pode ter uma parceria muito legal com o que a gente faz no U-report”. Uma vez na plataforma, os conteúdos podem ser acessados por pessoas do mundo inteiro.
Para conversar com o Iuri, basta enviar COMEÇAR pelo chat na página do Facebook ou no WhatsApp para (61) 9687-1768. No Telegram, basta buscar pelo canal @ureportbrasil.
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Cine Japu, em São Gabriel da Cachoeira (AM), integra programação do Dia Internacional da Animação
A mostra ocorre simultaneamente em mais de 200 cidades brasileiras nesta segunda-feira (28/10)
Cine Japu, em São Gabriel da Cachoeira (AM) 📷 Ana Amélia Hamdan/ISA
O Cine Japu foi uma das iniciativas selecionadas para compor o circuito nacional da mostra de curtas-metragens no Dia Internacional da Animação, celebrado na próxima segunda-feira (28/10), com exibições simultâneas em todo o país.
Em São Gabriel da Cachoeira, a programação terá início às 19h no telecentro do ISA - localizado na rua Projetada, nº 70 - Centro - com entrada gratuita.
O Dia Internacional da Animação é uma mostra de animação com filmes nacionais e internacionais que ocorre em mais de 200 cidades em todas as regiões do país.
No Amazonas, além de São Gabriel da Cachoeira, ela também ocorre em Manaus, Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Tefé. Em 2024 o evento comemora 21 anos desde sua primeira edição.
Criado em 2023, o Cine Japu é uma iniciativa do ISA com participação da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, que promove sessões quinzenais de cinema e rodas de conversa, com o objetivo de ampliar os diálogos, compartilhar olhares e saberes entre as comunidades e instituições da região, promovendo o fortalecimento das culturas indígenas por meio da arte e do lazer.
A programação do especial do cine clube contará com a exibição de filmes da Mostra Nacional e Internacional, com classificação a partir de 14 anos. Confira:
MOSTRA NACIONAL
Maré Braba
Dir. Pâmela Peregrino - stop motion - 07:16 - 2023 - Porto Seguro/BA
Ela, que conecta a todos pelas suas águas, observa e opera as mudanças decorrentes do aquecimento global. O povo à beira-mar é o primeiro a sentir suas agitações e mudanças de humor.
Manu Sonha com Onças
Dir. Daniel Og - 2D - 05:32 - 2023 - Rio de Janeiro/RJ
Manu Sonha com Onças é a história de um sonho da menina Manuela que essa noite se encontra com os felinos que habitam sua imaginação e a ajudam a despertar sempre um pouco mais pra quem ela é e o que quer ser no mundo.
Hoje Eu Só Volto Amanhã
Dir. Diego Lacerda - 2D, 3D, Colagens - 08:00 - 2024 - Recife/PE
Cada pessoa é um Carnaval e Marina sabe qual o dela. Nas ladeiras de Olinda ela busca o êxtase da folia carnavalesca, a música, a gritaria, o calor, a alegria, o amor.
Alguns Sinaes
Dir. Samu Mariani - Stop Motion com objetos - 01:23 - 2023 - São Paulo/SP
O vazio constitui o cheio. É como a fofoca científica diz afinal: os átomos contém mais espaço que matéria. Numa boa ficção, podem ser espaços que formas de vida de lógica ainda desconhecida ocupem de forma criativa.
O Nome da Vida
Dir. Amanda Pomar - 2D/3D - 13:00 - 2024 - Juiz de Fora/MG
O Governo Geisel ostentava um discurso moderado, prometendo a famigerada transição democrática enquanto continuava a perseguir os opositores do regime militar. Exemplo dessa dissimulação, o Massacre da Lapa foi arquitetado para aniquilar os dirigentes do PCdoB em dezembro de 1976.
O Futuro Que Me Alcance
Dir. Nat Grego - 2D tradigital - 04:35 - 2023 - São José dos Campos/SP
O Futuro Que Me Alcance é um videoclipe animado da canção de Reynaldo Bessa que nos leva por uma viagem surreal e existencial pelas memórias e afetos do eu-lírico.
Absorta
Dir. Luiza Pugliesi Villaça - 2D - 08:00 - 2023 - São Paulo/SP
Nara, uma jovem adulta exausta, decide tomar um banho após um longo dia. Mas ao submergir na banheira para relaxar, seu momento de introspecção é interrompido por um peixe preso no ralo. Águas profundas e desconhecidas serão exploradas à medida que ela é invadida por diferentes fases da sua vida.
‘Minha vó dizia: menina, não chore pitanga. Cê não queria? Então chupa essa manga!’. “Receita de Vó” nos leva ao quentinho da casa da vó, onde comidas cantam e dançam ao som do mundo mágico do Hip Hop.
MOSTRA INTERNACIONAL
Después del eclipse
Dir. Bea R. Blankenhorst - stop motion - 12:08 - 2019 - Argentina
Argentina, década de 1920. Em um pequeno povoado agrícola, o Club Social anuncia uma grande noite de festa. Dois jovens apaixonados esperam ansiosos pelo momento de se encontrar e dançarem
Le renard et l'oisille
Dir. Fred & Sam Guillaume - 3D - 12:06 - 2018 - Suíça
Uma raposa solitária precisa improvisar a paternidade para um bebê pássaro recém-nascido. Dois caminhos se cruzam e uma família é formada, até que o destino mostra para cada um a vida que devem levar.
No leste de Montreal, um garoto vai ao restaurante local para buscar cachorros-quentes para ele e sua avó, que está debilitada. No local, ele encontra uma garçonete angustiada por estar sozinha no atendimento.
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Ila, la niña tejedora
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