"Devastamos mais da metade do nosso País pensando que era preciso deixar a natureza para entrar na história: mas eis que esta última, com sua costumeira predileção pela ironia, exige-nos agora como passaporte justamente a natureza".
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos motes da fundação do ISA em 1994.
O ISA trabalha em parceria com povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais para elaborar soluções inovadoras para os desafios enfrentados por estas comunidades e povos. Nossas iniciativas apoiam e promovem a defesa de direitos, gestão e proteção territorial, economias do cuidado, processos formativos, restauração ecológica inclusiva e produtiva. Elas são baseadas em processos de experimentações e trocas de saberes transparentes, equitativas e de longo prazo com nossos parceiros, que tem como base a valorização dos modos de vida destas populações e a garantia de seus direitos.
Nossa abordagem de atuação coloca a potência dos saberes tradicionais em diálogo com práticas legais, acadêmicas e de mercado. A inovação, produzida a partir dessa interação entre diferentes mundos, pensamentos e linguagens, oferece caminhos para o reconhecimento pela sociedade brasileira - e mundial -, que são estes povos que cuidam e protegem as florestas que prestam os serviços socioambientais para a própria sobrevivência do planeta e cada um de nós.
Há diversas outras iniciativas que apontam para soluções originais para os desafios enfrentados pelas populações indígenas e tradicionais para garantir o direito à terra, o bem-viver, a preservação de suas florestas e modos de vida, intrinsecamente interdependentes. A formação de jovens comunicadores indígenas, por exemplo, capacita tecnicamente a juventude dos territórios do Xingu e do Rio Negro em dominar a tecnologia para contar suas próprias histórias, defender seus direitos e se conectar com a cultura de seus de seus antepassados. Conheça abaixo outros exemplos de soluções desenvolvidas pelo ISA e seus parceiros locais e nacionais:
Copiô, Parente, o primeiro podcast feito no Brasil para os povos da floresta
Xingu Solar, projeto de promoção de energia fotovoltaica no Xingu
Redário é destaque em simpósio internacional sobre restauração ecológica
Iniciativa brasileira de redes comunitárias de sementes nativas esteve na SER2025, em Denver (EUA), e reforçou o protagonismo das comunidades na restauração ecológica
A experiência brasileira com redes comunitárias de sementes nativas ganhou destaque internacional durante a 11ª Conferência Mundial de Restauração Ecológica (SER2025), realizada entre 30 de setembro e 4 de outubro de 2025, em Denver, Estados Unidos. A analista Danielle Celentano, do Instituto Socioambiental (ISA), representou o Redário com a apresentação “The Redário Initiative: Community-Based Native Seeds for Restoration in Brazil (Iniciativa Redário: Sementes Nativas Comunitárias para a Restauração no Brasil)”.
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Danielle Celentano, analista sênior de Restauração Ecológica do Redário, apresentou a iniciativa em conferência internacional|Lia Domingues/ARSX
A palestra integrou o simpósio “Delivering seed-based restoration at scale – Global approaches to scaling the supply of high-quality native seed (Restauração em larga escala com base em sementes – Abordagens globais para ampliar o fornecimento de sementes nativas de alta qualidade)”, que reuniu especialistas de diversos países para discutir estratégias que ampliem o fornecimento de sementes nativas de alta qualidade para a restauração ecológica em larga escala. A apresentação teve ótima repercussão, com sala cheia e muitos participantes de outros países interessados em incentivar e replicar a iniciativa, que foi reconhecida como uma referência inspiradora.
O Redário reúne 27 redes comunitárias de coletores de sementes de quase todos os biomas brasileiros, fortalecendo a cadeia da restauração ecológica e valorizando o papel das comunidades locais. O trabalho apresentou os principais desafios do setor — como o desequilíbrio entre oferta e demanda e a falta de políticas públicas adequadas — e apontou soluções como mecanismos financeiros de apoio, incentivos fiscais, Pagamentos por Serviços Ambientais e contribuições filantrópicas.
Em 2024, o Redário comercializou 14 toneladas de sementes de 163 espécies, beneficiando 1.277 coletores, dos quais 64% são mulheres, e contribuindo para a restauração de cerca de 1.500 hectares em diferentes regiões do país. Consolidado como um modelo escalável, o Redário demonstra o potencial das comunidades locais para gerar impactos ambientais e sociais positivos e duradouros na cadeia da restauração ecológica. Como afirmam os autores do estudo. “Escalar a restauração exige reconhecer o valor das pessoas e dos territórios que guardam as sementes do futuro.”
“O Papo da RAC”, promovido pela Rede Amazônidas pelo Clima (RAC) e Instituto Socioambiental (ISA), na última sexta-feira (24/10), em parceria com o Canto Coworking, em Belém (PA), reuniu representantes de organizações da sociedade civil para um bate-papo que discutiu, de forma direta com o público, o tema “O que a COP30 tem a ver com a nossa vida?”. O evento foi o terceiro de uma série de debates que vêm aproximando as agendas da COP30 das realidades locais.
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Isabela Canto (RAC), Lucas Nassar (Comitê COP30), Juliana Maia (ISA), Ronaldo Amanayé (Fepipa), Érica Monteiro (Malungu) e Ivanildo Brilhante (CNS) destacam necessidade de ouvir as vozes de povos e comunidades tradicionais nas ações para enfrentar a crise climática|Kelvyn Gomes
Focado nas discussões sobre adaptação e justiça climática, o bate-papo mediado por Isabela Canto, da Rede Amazônidas pelo Clima (RAC), contou com a participação do diretor-geral do Lab da Cidade e representante do Comitê COP30, Lucas Nassar; da analista de políticas climáticas do Instituto Socioambiental (ISA), Juliana Maia; do coordenador executivo da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Ronaldo Amanayé; da diretora da Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu), Érica Monteiro; e do representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Ivanildo Brilhante.
Para Isabela Canto, o objetivo da RAC é fomentar de forma concreta o debate sobre temas que estão nas conferências globais, mas que muitas vezes parecem distantes da realidade das comunidades amazônicas. “Uma discussão tão rica quanto essa, onde a gente fala de adaptação climática, levando em consideração vários contextos, tanto do contexto urbano, quanto das comunidades tradicionais, local, global, é sempre enriquecedor”, afirmou.
A mediadora do debate também destacou a importância dessa aproximação entre interlocutores de diferentes espaços. “É sempre, pra nós, muito importante receber e fomentar a conexão entre pessoas amazônidas que estão nesses lugares de discussão”, completou.
Linguagem como estratégia de democratização do conhecimento para o debate climático
Para Lucas Nassar, diversas áreas do conhecimento ocidental historicamente colonizadas têm se inspirado nos saberes e fazeres das populações tradicionais como estratégia de mitigação e adaptação climática, como é o caso da arquitetura.
“Um esforço da esperança de entender que existiam e existem povos, tanto os originários, quilombolas, extrativistas e muitos outros, e que mais do que aprender, eles têm a ensinar a gente, porque sabem trabalhar em sintonia com a natureza”, afirmou Lucas Nassar, representante do Lab da Cidade e do Comitê COP30, uma coalizão da sociedade civil criada para fortalecer a incidência das organizações da América Latina em negociações da COP30 a partir do protagonismo amazônico.
Ivanildo Brilhante alertou para o cuidado com as apropriações sobre essas “inspirações” que, muitas vezes, acabam privatizadas em um processo ancorado, inclusive, pelo conhecimento acadêmico. “Cria uma onda nova, um processo novo, e o colonialismo novo é o colonialismo da narrativa, da desculpa do incentivo, um modelo que privatiza o conhecimento. Ela [a universidade] exige um sistema já preparado para isso, sistematizado. É assim que o conhecimento é privatizado. Então pra nós, é nos adaptar a isso, é acessar os códigos da universidade pra gente desconstruir”, explicou o líder extrativista e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas da Universidade Federal do Pará (PPGAA-UFPA).
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Érica Monteiro trouxe a importância de se traduzir os conceitos e entendimentos sobre o que significam as mudanças climáticas na vida das populações que vivem nos territórios|Kelvyn Gomes
Assim como Ivanildo, Érica Monteiro, coordenadora da Malungu, destacou a importância de se traduzir os códigos relacionados ao debate climático trazidos pela COP. A liderança quilombola considera que “traduzir” ajuda no entendimento do que são as mudanças climáticas para o seu próprio povo. “A partir de quando eu consegui acessar o espaço da discussão sobre mudanças climáticas, eu entendi que têm outras palavras que podem garantir o entendimento sobre o que são as mudanças climáticas”, afirmou Érica.
“É muito mais fácil de dizer porque os peixes não apareceram mais, ou porque deu pouco camarão, ou porque o açaí ficou caro, então a gente consegue fazer essa tradução dessas palavras técnicas para as palavras locais”, concluiu.
Nenhuma decisão sobre nós, sem nós
Para salvar o planeta, é necessária a implementação de ações, sobretudo governamentais, que consigam resolver as questões ambientais mais urgentes.
De acordo com a analista de políticas climáticas do ISA, Juliana Maia, é latente a necessidade da implementação de planos, programas e ações voltadas à sociedade como um todo, para dar conta da pauta da adaptação climática. No entanto, a analista avalia que ainda existem inúmeros desafios pela frente. “ É fundamental reconhecer e incorporar os saberes tradicionais como base das soluções que precisamos para mitigação e adaptação climática, além de ampliar o acesso a recursos voltados para ações nesse campo. Os países do Sul Global e populações vulnerabilizadas sofrem os efeitos da emergência climática de forma mais intensa.” avaliou.
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Evento reuniu representantes de organizações socioambientais em Belém, antes da 30ª Conferência das Partes|Kelvyn Gomes
Como forma de garantir que, além de serem ouvidos, os povos indígenas possam tomar decisões sobre seus territórios e fomentar suas estratégias para a mitigação e adaptação climática, não apenas de seus territórios, mas de todos os amazônidas, Ronaldo Amanayé, diretor executivo da Fepipa, explica que mais de 1.200 indígenas representados pela entidade estão se organizando para participar da COP30 em Belém.
De acordo com ele, o intuito do grupo é reivindicar a efetivação de políticas públicas essenciais para a adaptação e mitigação climática, como é o caso da demarcação das Terras Indígenas. “Estamos lutando para que o Brasil e o mundo entendam que essas demarcações e homologações são essenciais para mitigar esses grandes impactos e para frear as mudanças climáticas”.
O representante da Federação dos Povos Indígenas do Pará também lembrou da importância do financiamento direto para as organizações indígenas e de representação dos povos tradicionais, como forma de garantir condições de execução da gestão ambiental e territorial da floresta. “A gente tá preparado, com algumas propostas, para conversar com os grandes financiadores e chefes de Estado, para que a gente possa pautar isso de uma forma verdadeira, não romantizada, propostas exequíveis para os nossos territórios, para nós, povos indígenas, e para o mundo, para que tenhamos um planeta mais eficiente e equilibrado”, concluiu Ronaldo.
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Fórum Socioambiental em Manaus reforça protagonismo de povos indígenas e tradicionais na agenda climática do Amazonas
Presidente no CNS classificou momento como uma renovação de aliança pela defesa dos territórios e das políticas climáticas justas
Nos dias 22 e 23 de outubro, o Centro Cultural dos Povos da Amazônia, em Manaus, foi palco de um encontro histórico. O I Fórum Socioambiental de Políticas Climáticas no Amazonas reuniu mais de 80 pessoas entre lideranças indígenas e de comunidades tradicionais, representantes da sociedade civil, instituições de pesquisa, órgãos governamentais e parceiros técnicos para debater os caminhos da agenda climática no estado - e no país.
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Em dois dias de atividade, o encontro reuniu mais de 80 pessoas no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, em Manaus|Michel Dantas/ISA
Organizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em parceria com o Memorial Chico Mendes, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), redes e instituições locais, o evento buscou construir um espaço de diálogo e troca de experiências, destacando o papel dos povos da floresta na manutenção dos ecossistemas e na regulação do clima global.
Ao longo de dois dias, oito mesas temáticas guiaram as discussões, abordando desde os desafios e oportunidades dos projetos de carbono e dos pagamentos por serviços ambientais até experiências de governança climática e financiamento para uma transição justa.
Assista ao resumo do evento abaixo.
As conversas também promoveram o intercâmbio de experiências como o projeto pioneiro de REDD Suruí, em Rondônia, o Sistema de Incentivos por Serviços Ambientais (SISA), do Acre, e o programa jurisdicional de REDD+ do Pará, com a presença de Ronaldo Amanayé, da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), e ainda modelos de parceria com a iniciativa privada, como o caso da empresa franco brasileira, VEJA.
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Presidente do CNS, Júlio Barbosa, extrativista e um dos companheiro de Chico Mendes em empates pela defesa da floresta em pé no Acre|Michel Dantas/ISA
Para o presidente do CNS, Júlio Barbosa, o encontro representou “um novo empate” - uma aliança renovada entre indígenas, extrativistas e quilombolas pela defesa dos territórios e do meio ambiente, inspirada na estratégia criada pelos extrativistas do Acre para impedir o desmatamento.
O que foram os “empates”
Entre as décadas de 1970 e 1990, seringueiros do Acre criaram o empate, uma forma pacífica de resistência ao desmatamento. Organizados por sindicatos, famílias inteiras se colocavam diante dos peões e jagunços para impedir a derrubada da floresta, dialogando numa tentativa de convencê-los a parar. Lideranças como Wilson Pinheiro e, depois, Chico Mendes, marcaram o movimento, que realizou 45 empates até 1988 e se tornou símbolo da luta extrativista pela defesa da floresta.
“Nossos territórios são instrumentos essenciais de equilíbrio climático. Eles precisam ser valorizados, porque é lá que se produz biodiversidade e se mantém o clima mais saudável. O Estado precisa reconhecer e apoiar quem mantém a floresta em pé”, afirmou Júlio.
A fala resume o consenso entre os participantes: políticas climáticas eficazes precisam reconhecer o protagonismo dos povos que há séculos manejam e protegem as florestas, valorizando seus modos de vida e seus conhecimentos.
De Rondônia, o líder do povo Paiter Suruí, Almir Suruí, reforçou a importância de unir o conhecimento tradicional à ciência ocidental e alertou para os efeitos concretos das mudanças climáticas na Amazônia.
“Ano passado, a Amazônia praticamente não produziu castanha. Isso é efeito direto das mudanças climáticas. Precisamos de políticas públicas que fortaleçam nossos modelos de agrofloresta e sustentabilidade, com apoio técnico e financeiro, para garantir a vida na floresta e fora dela”.
Almir participou da mesa sobre mapeamento de projetos de carbono florestal na Amazônia e compartilhou a experiência do Projeto Carbono Suruí, liderado pelo povo Paiter na Terra Indígena Sete de Setembro - pioneiro no Brasil como iniciativa indígena de comercialização de créditos de carbono certificados, destacando-se pelo protagonismo da comunidade na concepção e gestão.
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A esquerda, o líder maior do povo Paiter Suruí, Almir Suruí, durante a mesa sobre projetos de carbono florestal na Amazônia, com a engenheira florestal Karoline Brasil (direita), do Idesam|Michel Dantas/ISA
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Francisca Arara, Sec. dos Povos Indígenas do Acre, Juliana Radler, do PRN/ISA e Hulicio Moisés Kaxinawa, pres. da Organização do Povo Indígena Huni Kuin do Alto Purus (Opiharp)|Michel Dantas/ISA
Já a experiência da construção do Sistema de Incentivos aos Serviços Ambientais do Acre foi analisada pela Secretária dos Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, junto com representantes da sociedade civil que têm participação na governança do sistema. Francisca explicou sobre a definição da repartição de benefícios e como vem sendo implementada essa agenda, assim como os desafios de se levar esse debate para a população, mostrando que os serviços ambientais são aliados do desenvolvimento econômico sustentável.
Carbono no Amazonas
Durante o evento, o diretor-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Henrique dos Santos Pereira, apresentou um panorama histórico e conceitual das políticas climáticas do estado, destacando a trajetória do Amazonas na formulação de instrumentos como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e os programas de REDD+.
Segundo ele, o estado foi pioneiro na criação de uma política estadual de serviços ambientais, mas enfrenta hoje fragilidade institucional e contradições em sua implementação, especialmente por ter “transferido” para a iniciativa privada a captação e o gerenciamento de projetos de carbono.
Henrique também destacou a importância de distinguir o mercado regulado de carbono, previsto nas convenções internacionais, do mercado voluntário, que tem sido foco de fraudes e carece de regulação estatal.
Também presente no evento, o procurador da República do Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas, Fernando Beloto, ressaltou o papel do órgão na defesa dos direitos socioambientais e climáticos. Ele informou que mais de 300 processos relacionados a questões ambientais tramitam atualmente no estado, citando casos como o do potássio no território Mura, os projetos de carbono em Carauari e a exploração de gás.
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O diretor-presidente do INPA, Henrique dos Santos Pereira, também compareceu ao evento|Michel Dantas/ISA
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Hélio Gessem Tukano, diretor da Foirn, em mesa com o procurador do MPF do Amazonas, Fernando Beloto|Michel Dantas/ISA
No debate sobre como os projetos de carbono estão chegando às comunidades, lideranças do Amazonas relatam assédio de empresas, cooptação de lideranças e contratos abusivos ou pouco transparentes sobre direitos e deveres das comunidades.
A liderança extrativista Natália Nascimento, da Associação dos Moradores do Baixo Riozinho (Asmobri), em Carauari (AM) - caso citado pelo MPF -, relatou a situação de uma empresa que iniciou projeto no território com contratos abusivos, gerando conflitos internos e irregularidades no processo.
Segundo ela, ainda que o projeto tenha sido suspenso após denúncias das comunidades, as pressões continuam, com tentativas de forçar lideranças a assinar acordos para reverter a decisão do Ministério Público Federal.
“Eles ligam 24h. Quando a gente não atende, mandam áudio, texto, dizendo que querem negociar, ‘mas se eu não quiser, que depois não me arrependa’. Eu entendo isso como uma ameaça”, afirmou.“Quando grandes empresas tomam a frente com o discurso de salvar o mundo, quem sempre cuidou da floresta passa a ser tratado como invasor", finalizou Natália.
A vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Janete Alves, relatou que, na Terra Indígena Alto Rio Negro, na fronteira com a Colômbia, um projeto de carbono firmado do lado colombiano resultou em invasões de roças no lado brasileiro, já que os contratos impediam as comunidades de abrir novas áreas em seus próprios territórios.
Segundo Janete, empresas também têm se aproximado de comunidades brasileiras. Ela explica que, futuramente, as comunidades podem avaliar a possibilidade de desenvolver projetos, mas somente após capacitação e construção das iniciativas a partir dos próprios territórios, seguindo os protocolos de consulta, a organização política e os PGTAs.
“É um processo que exige paciência, porque precisamos discutir melhor, temos muitas preocupações e também precisamos nos capacitar, além de ouvir as experiências dos outros parentes”, concluiu.
Ronaldo Amanayé, liderança da FEPIPA compartilhou experiências sobre projetos de carbono|Michel Dantas/ISA
Oportunidades e caminhos
Corroborando com o pensamento das lideranças indígenas e extrativistas, o presidente do INPA destacou que a crise pode se transformar em oportunidade para movimentos sociais, organizações da sociedade civil e academia influenciarem os rumos das políticas climáticas.
“Podemos construir, com a participação efetiva do Estado e das comunidades, ambientes mais seguros juridicamente, confiáveis e com protagonismo local, garantindo que os serviços ambientais prestados pelos povos e comunidades sejam de fato reconhecidos e compensados.”
Henrique defendeu também a reconexão entre as agendas de biodiversidade, agrobiodiversidade e clima, lembrando que o Amazonas abriga tesouros genéticos únicos, como o guaraná, o cupuaçu, a mandioca e o abacaxi, que são espécies fundamentais para a segurança alimentar global.
“Um dos mais importantes serviços ambientais prestados pelos agricultores indígenas e tradicionais é a conservação da agrobiodiversidade. O Amazonas tem um potencial imenso e precisa transformar essa riqueza em política pública, com base na valorização de quem conserva.”
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Para lideranças, cientistas e sociedade civil, políticas climáticas eficazes precisam reconhecer o protagonismo dos povos indígenas e tradicionais|Michel Dantas/ISA
Na mesma direção, o líder extrativista Júlio Barbosa destacou o papel estratégico dos territórios tradicionais na resposta à crise climática. Segundo ele, as reservas extrativistas e demais áreas comunitárias são instrumentos essenciais de equilíbrio climático e devem estar no centro das políticas públicas.
“Hoje temos mais de 60 reservas extrativistas na Amazônia, uma imensidão de florestas, e mais de 50 milhões de hectares de terras públicas ainda sem destinação, vulneráveis à grilagem e à violência. Os nossos territórios são instrumentos importantes de adaptação às mudanças climáticas, mas precisamos de uma política de valorização dos produtos da biodiversidade”, afirmou.
Para o presidente da Foirn, Dário Baniwa, o reconhecimento do manejo e dos conhecimentos tradicionais é fundamental para uma estratégia climática eficaz no país. Ele defende que o Estado valorize a organização e a sustentabilidade desenvolvidas nos territórios, garantindo benefícios coletivos aos povos indígenas.
O líder também destacou a urgência de mecanismos diretos de financiamento climático, livres de intermediários e baseados nos planos de gestão territorial e ambiental, em vez do mercado de carbono. “Sem os povos indígenas, não há floresta em pé. E sem a floresta, não há futuro para o planeta.”
Dário ressaltou ainda que negócios socioambientais comunitários já fortalecem a economia local e a preservação da natureza, e que as políticas públicas devem respeitar os protocolos de consulta e garantir participação efetiva das comunidades em todas as etapas.
Dário Baniwa, presidente da Foirn, fala sobre a economia local alinhada com a preservação da natureza|Michel Dantas/ISA
Juliana Radler, analista de políticas socioambientais do Programa Rio Negro do ISA, destaca a parceria do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e da Foirn e o apoio do Banco Mundial, da Rainforest Foundation Norway, da Aliança pelo Clima da Áustria e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas para a realização do Fórum que, às vésperas da COP30, que ocorrerá entre 10 e 21 de novembro, em Belém (PA), se consolidou como um marco de articulação regional e política.
“Pela primeira vez reunimos lideranças de Rondônia, Acre, Pará e indígenas e extrativistas de todo o gigante Amazonas para discutir as políticas climáticas em Manaus, junto com especialistas da Academia, sociedade civil, governo e iniciativa privada. Essa reunião de mais de 40 lideranças extrativistas e indígenas demonstra a importância da governança e da autonomia desses povos em seus territórios”.
Para Juliana, o evento simboliza o fortalecimento da voz dos povos da Amazônia na construção de políticas de mitigação e adaptação justas e decoloniais. “Não podemos deixar que apenas o mercado financeiro dite os rumos do mercado de carbono. É preciso garantir que ele seja de fato decolonial, com justiça social e climática. Só haverá justiça climática se houver justiça social”, concluiu.
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Se não tiver a mão que coleta a semente, não tem projeto de restauração
Às vésperas da COP30, I Encontro da Rede de Sementes do Vale do Paraíba reforça importância de coletoras e coletores para Brasil cumprir meta de restauração assumida
União entre diversas frentes e políticas públicas para o fortalecimento de redes para garantir que a restauração dos ecossistemas seja realmente efetiva. Essa foi a mensagem que ecoou durante o I Encontro da Coopere (Cooperativa Rede de Coletores de Sementes do Vale do Paraíba), que aconteceu entre os dias 12 e 14 de setembro, em Tremembé, São Paulo.
O evento reuniu mais de 100 pessoas entre coletores, representantes do governo federal, e de organizações não governamentais, chamando a atenção para a necessidade de olhar para questões além da meta de restaurar hectares de vegetação nativa: o comprometimento com o consumo responsável, valorização da cultura popular e talentos locais. Também incentivar o protagonismo feminino, o resgate da ancestralidade e a profissionalização de quem coleta sementes.
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I Encontro da Rede de Sementes do Vale do Paraíba reuniu mais de 100 pessoas, entre coletores, representantes do governo e de ONGs|Andrea Ono/ISA
Café caipira, coco, forró, maracatu, Socorro Lira cantando “Majestade, o sabiá”, yoga ao amanhecer: teve de tudo para alimentar o corpo e a alma.
Quem esteve lá participou de uma prosa boa com os coletores dos núcleos de produção da cooperativa sobre “Os desafios e as oportunidades da restauração ecológica e da agricultura de regeneração” e da feira de trocas de sementes. Também levou pra casa mais conhecimentos sobre a "Muvuca" e seus usos como estratégia de restauração ecológica e produtiva em sistemas agroflorestais; marcação de matrizes e identificação botânica; coleta em altura e segurança no trabalho; produção de sementes florestais (coleta, beneficiamento e armazenagem); e qualidade e análise de sementes (legislação e pesquisa).
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A multiartista e produtora cultural Socorro Lira esteve presente no encontro|Fernanda Medeiros/ISA
Nas paredes da Casa de Sementes, inaugurada durante o encontro, mais que o nome Valdir do Nascimento, o companheiro assassinado em janeiro deste ano, a arte em grafite, idealizada e executada pelas mãos que também coletam sementes nativas e crioulas, conta a trajetória, lutas, parcerias e valores do coletivo que reúne agricultores familiares e assentados da reforma agrária articulado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), à agroecologia e ao Redário.
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Casa de Sementes é uma homenagem a Valdir do Nascimento, que foi agroflorestor, coletor de sementes nativas e restaurador da Rede de Sementes do Vale do Paraíba|Fernanda Medeiros/ISA
Hoje, a Coopere reúne 75 coletores de 40 unidades familiares em 10 municípios do Vale do Paraíba. Já coletou 10 toneladas de sementes de 130 espécies da Mata Atlântica e Cerrado e apoia o desenvolvimento de grupos de coletores na Zona da Mata Mineira.
Meta de restaurar
“A restauração não é feita apenas por coletores. Há várias frentes que precisam entrar em ação, para que ela aconteça. Acho que o desafio nosso aqui é unir essas frentes para que a gente possa conseguir ter resultados de impacto. Já estamos na metade da Década da Restauração. Temos aí mais uns cinco anos. Será que a gente tem esse tempo?”, afirmou Thiago Coutinho, coordenador da Coopere e membro do Conselho das Redes do Redário na abertura das atividades do encontro, fazendo referência à meta assumida pelo Brasil de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.
Ao classificar as redes como modelo organizacional conectado aos novos tempos, Marcos Sorrentino, diretor do Departamento de Educação Ambiental e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) falou sobre a importância de criar e fortalecer as redes, envolvendo diferentes setores da sociedade com o objetivo de incidir sobre as políticas públicas, para que a transição para uma sociedade sustentável seja possível.
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Thiago Coutinho, coordenador da Coopere e membro do Conselho das Redes do Redário fala sobre a meta de restaurar 12 mi de hectares até 2030|Fernanda Medeiros/ISA
COP 30
Para Marcos Sorrentino, encontros globais como a COP 30, que acontece em novembro próximo, em Belém, “precisam repercutir as vozes dessa diversidade de redes de sementes. Alguém precisa contar que não é fácil coletar semente para plantar doze milhões de hectares. Acima de tudo, contar para os gestores de políticas públicas que o Estado brasileiro só conseguirá coletar sementes suficientes, se for junto com a sociedade, junto com essas redes. E para fazer isso junto, é necessário que o recurso público fortaleça as redes, no sentido de superar as fragilidades. Então, o estado brasileiro não pode estar alijado, distanciado desse processo de fortalecimento das redes de sementes”.
Eduardo Malta, especialista em restauração do Instituto Socioambiental (ISA) e coordenador do Redário, foi além, lembrando as origens do ISA. “E socioambiental se escreve junto, né? O ISA nasceu lançando esse nome porque a gente acredita que uma floresta vazia de gente, isolada, para ser uma área de preservação, onde as pessoas não podem entrar, não é a solução para o planeta. Ele precisa ter florestas com as pessoas. Onde tenha gente”.
Avisa lá
Luciano Carvalho, representante do MST, reforçou a urgência de ações globais contra o que chamou de devastação brutal dos meios de vida que vem sendo sistematicamente mortos e envenenados.
“O Movimento Sem Terra se colocou o desafio enorme, a ambiciosa meta de plantar cem milhões de árvores. Mas só o movimento Sem Terra sozinho não vai conseguir. Já estamos na marca dos quarenta milhões de árvores plantadas. Temos mais aí, mais cinco anos pela frente para atingir nossa meta. Tem que avisar essas alianças o que nós temos que fazer com o campo e a cidade. Na perspectiva do plano nacional, plantar árvores e produzir alimentos saudáveis. Essa é a nossa tarefa política, esse grupo, essa rede de coletores de sementes. Isso é extraordinário”.
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Luciano Carvalho, representante do MST, fala sobre a meta da organização de plantar 100 milhões de árvores. Até agora, já foram 40 milhões|Andrea Ono/ISA
Onde tem gente, tem que ter comida
Bráulio Furtado Alvarez, do ISA de Viçosa – Zona da Mata Mineira, onde está se formando uma rede de coletores, lembrou que é preciso prestar atenção à produção de alimentos, “porque senão a gente vai restaurar as florestas e vai ficar comendo salsicha”, alertou.
E é justamente a restauração aliada à produção de alimentos a estratégia adotada pela Coopere, que tem sua área de atuação localizada numa das regiões mais industrializadas do país, antes habitada pelo povo puri, e que vem sendo historicamente degradada.
“Não é só a semente. Se não tiver a mão que coleta a semente, se não tiver o coletor, a coletora, não tem a semente. Mas também não é só restauração, é também agricultura regenerativa, restauração produtiva. Acreditamos que vai potencializar o processo e vamos conseguir chegar ali nos doze milhões de hectares. Agora a gente tem que trabalhar! Tá muito atrasado para um processo que é urgente, né? É para ontem”, finalizou Thiago Coutinho.
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Biblioteca Mário de Andrade, em SP, celebra centenário com muvuca de sementes
Atividades e debates nos dias 25 e 26 de outubro, com participações do ISA e do Redário, movimentam o centro da capital paulista
A Biblioteca Mário de Andrade, a primeira biblioteca pública de São Paulo, celebra seu centenário com uma vasta programação cultural entre os dias 24 e 26 de outubro. Realizada na sede da Biblioteca e nas Praças Dom José Gaspar e das Artes, a programação discute arte, música, literatura e o papel das florestas e dos povos como fontes de conhecimento.
Entre os destaques da celebração, estão as colaborações com o Instituto Socioambiental (ISA). No sábado (25/10), às 10 horas, a Praça Dom José Gaspar sedia uma "muvuca de sementes", técnica tradicional de plantio para restauração de áreas, que ressalta a importância da interação entre conhecimentos tradicionais, sementes, pessoas e os ciclos da natureza. A prática fortalece a visão que o ISA defende desde sua criação, hoje implementada pelo Redário, de que "não existe floresta sem gente".
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Muvuca de sementes sendo preparada. A técnica consiste em misturar diversas sementes nativas e lançá-las juntas ao solo, promovendo a restauração ecológica|Tui Anandi/ISA
Essa iniciativa dialoga com a mesa "Florestas como Biblioteca", que acontece no dia seguinte (26/10) a partir das 13 horas, também em parceria com o ISA.
A mesa tem a participação da escritora e cordelista Auritha Tabajara e do comunicador Leandro Karaí Mirim, do Museu das Culturas Indígenas (MCI), com mediação de Adriana Miranda, bibliotecária e documentalista do ISA. Juntos, eles convidam o público para explorar a compreensão da floresta como uma biblioteca viva, um espaço vital para a preservação de memórias e para a difusão de saberes e histórias.
Serviço
Evento | Muvuca de Sementes Dia: 25/10, sábado Horário: 10h Onde: Praça Dom José Gaspar, República, São Paulo
Mesa | Florestas como Biblioteca Dia: 26/10 Horário: 13h Onde: Auditório da Biblioteca Mário de Andrade, 1º andar (Rua da Consolação, 94 – República) Mediação: Adriana Miranda do Instituto Socioambiental (ISA) Painelistas: Auritha Tabajara, cordelista, e Leandro Karaí Mirim, do Museu das Culturas Indígenas (MCI)
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Cerimônia do 47º Prêmio Vladimir Herzog será em 27 de outubro, no Tucarena, em São Paulo
Aberta ao público, cerimônia de premiação começa às 20h, precedida pela tradicional roda de conversa e com transmissão pela TV PUC-SP
A cerimônia de entrega do 47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (PVH) será no próximo dia 27 de outubro, segunda-feira, às 20h, no Tucarena, em São Paulo. O evento, gratuito e aberto ao público, acontece após a 14ª Roda de Conversa com os vencedores, das 14h às 17h. Trata-se de iniciativa pioneira na história de um concurso jornalístico no Brasil.
Neste ano, o Prêmio Herzog recebeu 485 inscrições, das quais 168 em texto; 58 em vídeo; 26 em áudio; 39 em multimídia; 40 em fotografia, 18 em arte e 168 em livro-reportagem. Para marcar os 50 anos do assassinato de Vlado, patrono do certame, os organizadores instituíram uma nova categoria de premiação - Defesa da Democracia. O objetivo é destacar pautas sobre a política nacional, ataques ao Estado Democrático de Direito e formas com que as instituições brasileiras, em todas as esferas, estão atuando na defesa de nossa Democracia. Foram 120 produções jornalísticas inscritas.
Um grupo de 58 convidados integrou o Júri responsável por selecionar os finalistas. Em Sessão Pública de Julgamento realizada no último dia 7 de outubro, a Comissão Organizadora elegeu os vencedores nas oito categorias de premiação. Confira as produções premiadas.
Prêmio Especial Vladimir Herzog 2025
Uma das mais respeitadas jornalistas e documentaristas do Brasil, Dorrit Harazim, e um dos principais defensores da democracia e dos direitos humanos, Dom Angélico Sândalo Bernardino (in memoriam), serão os homenageados com as premiações especiais desta 47ª edição.
Para a comissão organizadora, ambos são vozes que fazem ecoar os princípios de solidariedade e respeito humano - tanto por meio do jornalismo praticado por Dorrit quanto pela defesa intransigente da vida em comunhão do povo brasileiro, como pregava Dom Angélico.
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Cartaz/Divulgação
Dorrit Harazim
Com passagens pelos principais veículos de comunicação do país, Dorrit iniciou no jornalismo em 1966, como pesquisadora da revista semanal francesa L’Express, em Paris. Trabalhou na revista Veja, foi repórter, editora de Internacional, redatora-chefe, editora especial e chefe do escritório da editora Abril em Nova York. Possui quatro Prêmios Esso e foi a primeira brasileira a receber o Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo, na categoria Excelência. Foi co-fundadora, em 2006, da revista piauí, na qual atuou como editora até 2012, e é colunista de Opinião do jornal O Globo desde 2010. Biografia produzida para o projeto Inspiração, da Abraji, mostra como Dorrit ainda faz história no jornalismo brasileiro.
Dom Angélico Bernardino (in memoriam)
O Bispo Emérito de Blumenau (SC) era jornalista diplomado e atuou como diretor do semanário O São Paulo, da Arquidiocese de Dom Paulo Evaristo Arns. Foi um dos principais representantes do setor progressista da Igreja durante a ditadura militar, com trajetória marcada por momentos históricos da luta por direitos humanos no Brasil, como os assassinatos sob tortura de Vladimir Herzog (1975) e Manoel Fiel Filho (1976), a execução do metalúrgico Santo Dias (1979) e a descoberta da vala clandestina de Perus (1990). Dom Angélico morreu em 15 de abril de 2025, aos 92 anos. O portal Memórias da Ditadura, organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, registra as vários lutas do “bispo que gritava junto com o povo”.
14ª Roda de Conversa com os ganhadores
Fruto da parceria do Prêmio com o Projeto Repórter do Futuro, da OBORÉ, o propósito da Roda de Conversa é incentivar a troca de experiências e compartilhar os bastidores das matérias premiadas. Tudo é organizado para colocar à disposição de estudantes e estudiosos do jornalismo o conhecimento sobre métodos e procedimentos que estão “por baixo” de algumas das reportagens reconhecidas como das mais importantes da imprensa brasileira.
As Rodas acontecem no Tucarena, com transmissão ao vivo pela TVPUC-SP. Desde a 1ª edição, em 2012, são coordenadas por Sergio Gomes (OBORÉ / Instituto Vladimir Hergog), Angelina Nunes (Abraji) e Aldo Quiroga (PUC-SP). Veja todas as edições aqui. Neste ano, o evento conta com o apoio da Jornalismo Jr (ECA/USP), Sindicato do Professores de São Paulo (SinproSP) e Federação dos Professores no Estado de São Paulo (Fepesp).
Comissão organizadora e promotora
A premiação é organizada pelo Instituto Prêmio Vladimir Herzog (IPVH), associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou político-partidários, fundada em novembro de 2022, em São Paulo.
A entidade reúne 18 instituições da sociedade civil, além da família Herzog: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI); Artigo 19; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ); Geledés; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental (ISA); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Coletivo Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e União Brasileira de Escritores (UBE).
O 47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos tem o patrocínio da Petrobras e do Governo Federal por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Nesta edição, um arco de alianças formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Teatro da PUC, TV PUC, OBORÉ, Pryzant Design e CDI atua como parceiros institucionais. A curadoria é da jornalista e pesquisadora Ana Luisa Zaniboni Gomes.
Desde a sua primeira edição, concedida em 1979, o Prêmio celebra a vida e obra do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura civil-militar no dia 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.
Serviço
47º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos
27 de outubro, segunda-feira, no Tucarena (PUCSP) – Rua Bartira, 347 - Perdizes: solenidade de premiação, das 20h às 22h, precedida da Roda de Conversa com os ganhadores, das 14h às 17h.
26 de outubro, domingo, às 11h, na Praça Memorial Vladimir Herzog - Rua Santo Antônio, 33, Bela Vista, atrás da Câmara Municipal de São Paulo, ao lado do Terminal Bandeira: inauguração do Calçadão do Reconhecimento – aplicação de 1.625 tijolos nos quais estarão gravados o nome de cada um dos vencedores do PVH ao longo de suas 47 edições. Nesta primeira fase, os tijolos aplicados fazem referência aos 52 jornalistas homenageados com o Prêmio Especial. Conheça os nomes aqui.
25 de outubro, sábado, 19h, na Catedral da Sé: Ato interreligioso em memória de Vlado e de todas as vítimas da ditadura.
Atividades são públicas e gratuitas, sem necessidade de apresentação de convite.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
Boletim de áudio "Vozes do Clima” aborda saberes ancestrais dos AIMAs como ferramentas de adaptação climática
Novo episódio entrevistou agentes indígenas de manejo ambiental do Rio Negro sobre os impactos das mudanças do clima em seus territórios
O Instituto Socioambiental (ISA) lançou nesta quinta-feira (16/10) o novo episódio do boletim de áudio “Vozes do Clima” que, desta vez, apresenta o trabalhos e as pesquisas realizadas pelos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs) do Rio Negro, Amazonas, como parte das estratégias para enfrentar a crise climática. As entrevistas foram feitas durante a oficina “Olhares Indígenas sobre as transformações nos territórios devido ao clima", realizada entre os dias 9 e 12 de setembro, em Brasília, como resultado de uma parceria entre o ISA, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e a Fundação Gaia Amazonas, no âmbito da Aliança Norte-Amazônica.
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Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs) do Rio Negro participam da oficina “Olhares Indígenas sobre as transformações nos territórios devido ao clima", em Brasília|Leonor Costa/ISA
O programa tem a apresentação de Claudia Wanano, coordenadora da rede Wayuri de comunicadores indígenas do Rio Negro, e conta com as participações de Milena Joaquim, indígena do povo Kuripako; Ronaldo Apolinário, do povo Baniwa; Damião Amaral Barbosa, do povo Yeba Masã; Hélio Gessem Monteiro Lopes, do povo Tukano e um dos diretores da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN); Aloísio Calbazar Filho, analista socioambiental do ISA; e Thaynah Gutierrez, da Rede de Adaptação Antirracista.
Ouça aqui!
Conhecimento ancestral e ciência contra a crise climática
Participantes durante a elaboração do calendário circular durante oficina de trabalho dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs)|Equipe ISA/Tiquié
Ao longo dessas duas décadas, os AIMAs vêm produzindo diários detalhados sobre o clima, a terra, a água, as roças e os ciclos da floresta, combinando observações tradicionais – como a leitura das constelações, o comportamento dos animais e das planta e o ciclo das águas – com o uso de cadernos, tablets e mapas. O trabalho é realizado em comunidades ao longo do Alto, Médio e Baixo Rio Negro, envolvendo povos Tukano, Baniwa, Dessana, Baré, Tuyuka, Koripako entre outros.
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Segundo Ronaldo Apolinário, muitas famílias perderam suas roças, cultivos e plantações|Leonor Costa/ISA
Esses registros revelam extremos climáticos, como secas prolongadas, incêndios em áreas de igapó e enchentes recordes, que têm provocado perdas de roças, mudanças na disponibilidade de peixes e riscos à segurança alimentar e à cultura dos povos indígenas.
Todas essas experiências foram compartilhadas pelos agentes do Rio Negro que participaram dos quatro dias de oficina, realizada em outubro, e também nas entrevistas ao Vozes do Clima.
“Isso (as mudanças no clima) afeta muito na questão de cultivo para abertura de nova roça e para trabalho da roça, principalmente o nosso sustento que vem através da roça, tanto para a produção de segurança alimentar, quanto para geração de renda. Esse ano impactou de 60 famílias que perderam suas roças, que perderam seus cultivos, como plantações de banana, abacaxi, cobiô, até as pimenteiras, que a gente come todo dia lá na nossa região", contou Ronaldo Apolinário, sobre os impactos das mudanças do clima em seu território.
“Alagaram as escolas, as que ficam mais perto do rio, e os professores ficaram com muita dificuldade de dar aula, de ensinar as crianças. Também as casas de algumas pessoas que alagaram, a família, os filhos não tinham para onde ir", lembrou Milena Joaquim, moradora da região do Alto Içana, em São Gabriel da Cachoeira.
O que esperar da COP30?
Os relatos dos AIMAs apontam uma constatação que precisa ficar cada vez mais nítida: indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e demais comunidades tradicionais são os que mais protegem os biomas e, por isso, devem ser os protagonistas das discussões e das políticas de combate à crise climática.
Thaynah Gutierrez, secretária-executiva da Rede por Adaptação Antirracista, em entrevista ao “Vozes do Clima", defendeu mudanças na elaboração das ações de adaptação pelo poder público.
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Thaynah Gutierrez considera importante fortalecer os espaços de construção e troca entre as comunidades tradicionais globais durante a COP30|Arquivo pessoal
“São mesmo os povos tradicionais, os povos originários, as comunidades negras que sempre estiveram naqueles territórios que vão conseguir dar soluções, que vão garantir nossa resiliência, nossa sobrevivência nos territórios. Justamente essas estratégias que precisam ser consideradas nas nossas abordagens de adaptação para as políticas públicas. A gente precisa mudar o eixo da política pública de adaptação para fazer ela partir do local e do território e assim subir por nível federal e que essas estratégias consigam ter recursos para isso", reforçou.
Em relação à COP30, Gutierrez espera que o evento traga experiências como as dos AIMAs para a centralidade dos debates. Para ela, a conferência da Amazônia precisa dar voz aos representantes de povos e comunidades tradicionais para que as ações aprovadas façam sentido para quem está nos territórios.
“A gente precisa fortalecer esses espaços de construção e troca entre as comunidades tradicionais globais e demonstrar que a gente pode, sim, ser protagonista na tomada de decisões. Porque historicamente a gente não era reconhecido, mas falta ainda esse lugar de protagonismo na tomada de decisão e acho que é para esse lugar que a gente vai percorrer na COP 30, tendo a presença massiva das comunidades tradicionais ali nos espaços das negociações e garantindo que a gente tenha essa visibilidade que nos é de direito", finalizou.
O que é o “Vozes do Clima”?
O boletim de áudio “Vozes do Clima” é uma realização do ISA, com produção da produtora de podcasts Bamm Mídia e apoio da Environmental Defense Fund (EDF) e propõe levar informações a povos e comunidades tradicionais sobre os temas relacionados à pauta climática. A identidade visual foi concebida pelas designers e ilustradoras indígenas Kath Matos e Wanessa Ribeiro. Além de ser distribuído via Whatsapp e Telegram, o programa também poderá ser ouvido nas plataformas de áudio Spotify, iHeartRadio, Amazon Music, Podcast Addict, Castbox e Deezer.
Este é o quinto episódio da segunda temporada de “Vozes do Clima”, que contará com um total de 12 edições e abordará os diversos debates sobre clima e a pauta socioambiental.
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As principais informações sobre o ISA, seus parceiros e a luta por direitos socioambientais ACESSE TODAS
ISA e O Joio e o Trigo lançam curso gratuito com soluções de povos e comunidades tradicionais para a crise climática
Aulas em vídeo e materiais de apoio abordam temas como defesa dos territórios, mercado de carbono, economia da sociobiodiversidade, sistemas agrícolas tradicionais e restauração ecológica
Em Santa Cruz, no Xingu, novas experiências usam tecnologias para restauro florestal|Ricardo Abad/ISA
Dividido em 14 vídeo aulas, que podem ser assistidas a qualquer momento, o curso é apresentado pela bióloga, educadora e comunicadora socioambiental, Jessi Alves, e aborda temas relacionados a mudanças climáticas, mercado de carbono, economias da sociobiodiversidade e restauração ecológica.
“Neste curso, vamos entender como chegamos até a crise ambiental atual, apontando as causas, mas também as soluções. Vamos discutir como povos e comunidades tradicionais são ricos em conhecimentos e experiências para enfrentar a crise climática e, com isso, promover justiça social e climática", explica Jessi Alves, na aula de abertura.
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A bióloga e educadora Jessi Alves apresenta o conteúdo das 14 vídeo aulas|Tauani Lima/ISA
O curso é dividido em duas partes, tem linguagem acessível e recursos audiovisuais de apoio para facilitar a compreensão.
A primeira aborda um panorama da crise. Nas primeiras aulas, o curso aponta as raízes da emergência climática e mostra como o uso intensivo de combustíveis fósseis, a monocultura, a pecuária e o desmatamento aceleraram o aquecimento do planeta. Também mostra como a crise climática aumenta ainda mais as desigualdades sociais e econômicas, e apresenta o conceito de racismo ambiental.
Na segunda parte, o curso traça um panorama das soluções, apresentando os serviços ambientais e mostrando como várias das atividades ligadas aos conhecimentos de povos e comunidades tradicionais se encaixam no conceito. A restauração ecológica, uma prática que traz bons resultados para as diferentes crises ambientais; e o mercado de carbono, atualmente o principal assunto na agenda climática, também são temas da segunda parte do curso.
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O trabalho das redes de sementes são soluções coletivas e somam às ações de restauração ecológica|Rodrigo Carvalho Gonçalves
E, por fim, são abordadas a política climática, as leis e normativas que tratam diretamente do assunto, mostrando o potencial de regulação climática que existe em programas de governo que apoiam a produção agrícola e extrativista em territórios coletivos.
Lançado às vésperas da COP30, a primeira na Amazônia, o curso parte da premissa de que sem os povos e comunidades tradicionais, a saída para a emergência climática fica ainda mais distante de se tornar uma realidade.
“Os modos de vida de indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais mostram que seu desenvolvimento ao longo dos milênios, na verdade, sempre preservou a natureza e promoveu a biodiversidade", explica Jessi Alves, na apresentação do curso.
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O Sistema Agrícola Tradicional Quilombola das comunidades do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo promovem a biodiversidade|Marília Garcia Sellen/ISA
O curso “Clima e Sociobiodiversidade: formulando soluções de futuro” é uma realização do Instituto Socioambiental (ISA) e de O Joio e o Trigo. A produção contou com apoio do Fundo de Defesa Ambiental e da Fundação Rainforest da Noruega.
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A solução que vem da Caatinga
Caatinga Climate Week coloca o bioma exclusivamente brasileiro no centro do debate climático a partir de experiências e saberes de povos e comunidades tradicionais
Caatinga Climate Week: saberes e resistências que floresceram durante quatro dias no coração do Semiárido pernambucano|Arthur de Souza/Centro Sabiá
O chão de terra arenoso entre o amarelo e o cinza, as árvores secas enfileiradas com mandacarus imponentes, a vegetação amarelada e rasteira, que compõem parte de um cenário que no imaginário de muita gente é sinônimo de pobreza, escassez e fome, foram territórios férteis de debates intensos, vivências e trocas entre os dias 1 e 4 de outubro, na região agreste de Pernambuco. Mas não são só essas características que formam o bioma Caatinga, que recebeu nos primeiros dias de outubro a Caatinga Climate Week, iniciativa organizada pelo Centro Sabiá, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).
As experiências compartilhadas durante os quatro dias mostraram que o único bioma exclusivamente brasileiro é também morada de milhares de espécies nativas, de uma sociobiodiversidade diversa e rica, de frutas e flores que desabrocham quando vem a chuva e de povos e comunidades tradicionais que há séculos desenvolvem suas estratégias de adaptação a partir de seus saberes ancestrais.
A Caatinga, bioma presente nos estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Ceará, Piauí, Maranhão e Minas Gerais e imortalizada na memória de cada brasileiro pelas letras de Luiz Gonzaga, ilustre pernambucano da cidade de Exu, é também a Caatinga expressada nas falas da líder índigena e coordenadora da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Elisa Pankararu, da etnia Pankararu, localizada no sertão de Pernambuco: a Caatinga é um bioma de resistência e de beleza.
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Elisa Pankararu: "Somos de beleza, de cultura e de conflito também, porque somos de resistência e somos de enfrentamento"|Beto Figueroa/Centro Sabiá
Segundo ela, a imagem que foi construída no país sobre o bioma é repleta de preconceito e discriminação, mas precisa ser superada: “Está nas artes, no cinema, nas pinturas, nos quadros e nós sempre somos visto como um lugar de mulheres feias com seus maridos magros, e crianças magras e feias também. E não somos. Somos de beleza, de cultura e de conflito também, porque somos de resistência e somos de enfrentamento", completou Elisa Pankararu, uma das lideranças mais respeitadas entre os povos de sua região e no movimento indígena brasileiro.
A Caatinga Climate Week
Durante quatro dias, entre as cidades de Caruaru, Garanhuns, Pesqueira, Vertentes, Jucati, Caetés, Arcoverde e Buíque, entre o agreste e o sertão pernambucano, cerca de 500 pessoas, de vários estados do país, passaram pelo evento e debateram a urgência de colocar a Caatinga no centro do debate climático.
Organizações da sociedade civil, movimentos de base de povos e comunidades tradicionais e da agroecologia, lideranças indígenas e quilombolas, ativistas socioambientais, representantes do poder público, influenciadores digitais e jornalistas puderam ver de perto diferentes experiências ao longo dos 400 quilômetros percorridos pela Caatinga Climate Week, nome propositalmente escolhido para fazer o contraponto a semanas internacionais que debatem a pauta do clima, como a Climate Week NYC (Semana do Clima de Nova York), ocorrida exatamente na semana anterior, em Nova Iorque, Estados Unidos.
Além dos filhos do bioma Caatinga, também estiveram presentes representantes da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica.
Segundo o coordenador de Mobilização Social do Centro Sabiá, Carlos Magno, o objetivo do evento foi mostrar que o povo da Caatinga, a partir de suas experiências, tem capacidade de ser protagonista das discussões feitas nos eventos climáticos e, sobretudo, agora no contexto da COP30, que será realizada em novembro, em Belém/PA.
“Essa semana do clima tem o intuito de fazer pontes, de conectar pessoas de diversos lugares para que a gente consiga realmente levar essa mensagem para a COP, de colocar a Caatinga no centro do debate climático. Seja em português, seja em inglês, seja em espanhol”, disse Carlos Magno, durante a plenária de abertura, realizada no Centro de Formação Paulo Freire, no assentamento Normandia, em Caruaru, uma das principais experiências de reforma agrária da região Nordeste.
Para a secretária executiva do ISA, Adriana Ramos, iniciativas como a Caatinga Climate Week são necessárias e urgentes para que o país possa aprender com os povos desse bioma as soluções que eles já apresentam.
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Adriana Ramos (ISA) e Carlos Magno (Centro Sabiá) destacam as soluções dos povos da Caatinga em meio às adversidade|Beto Figueroa/Centro Sabiá
“Aqui é um berço de grandes ideias. De um povo muito forte que vem construindo soluções, que é o que o mundo hoje está buscando. Soluções para o enfrentamento de situações muitas vezes adversas, sobretudo agora com as mudanças climáticas, situações criadas por outros, mas que a gente precisa ajudar a remediar. Então é uma grande honra poder estar aqui, se inspirando, bebendo nessa fonte e trazendo alguma contribuição", pontuou.
Rodrigo Junqueira, secretário-executivo do ISA, destacou que os outros biomas têm ainda muito o que aprender com a Caatinga, que já vem colocando em prática diferentes estratégias de adaptação climática.
“Vocês podem contar com a gente nessa continuidade, com tanta força, tanta resiliência, tanta resistência. Poder levar para Belém e para a COP todo esse aprendizado, toda essa luta que vocês têm. E saber que muito do que os outros biomas ainda estão aprendendo, sobre o que é adaptação, por exemplo, vocês já sabem, porque a vida de vocês passa por isso".
O evento não só cumpriu o objetivo de trazer o bioma de Luiz Gonzaga e de Patativa do Assaré para o centro da pauta mais debatida no momento, como mostrou que os povos da Caatinga têm as soluções para enfrentar a crise.
“A gente quer só que as pessoas reconheçam que a Caatinga é importante e que a gente pode construir muita coisa a partir desse lugar, da experiência dos povos, da inteligência coletiva que esse povo tem, da resistência e da resiliência que essas comunidades construíram nesse território", pontuou Carlos Magno.
Macaxeira: alimento, memória e resistência
Não eram nem 9 horas da manhã de quinta-feira (02/10) quando um grupo de cerca de 20 pessoas chegou no Sítio Serrote dos Bois, na zona rural de Caruaru, cidade pólo do agreste pernambucano e a primeira parada da Caatinga Climate Week. Aluísio Barbosa e Maria José Barbosa, agricultores familiares responsáveis pela casa, receberam os visitantes com café, chá, bolo de macaxeira e beiju. O alimento servido no intervalo da visita era fruto do principal assunto das mais de duas horas de conversa: a macaxeira.
Ali, no semiárido, a raiz, que em alguns lugares do Brasil é chamada de mandioca e em outros de aipim, é muito mais do que alimento e raiz fincada na terra. É também memória e resistência. A partir dela, agricultores familiares produzem farinha, beiju, goma, tapioca e tantos outros derivados e preservam o modo de vida tradicional de manejar a terra.
Enquanto caminhava com o grupo de visitantes pela plantação, Aluísio explicava como a macaxeira se tornou o principal alimento e fonte de recurso das famílias daquela região, tendo substituído a batatinha por ser mais adaptada aos longos períodos sem chuva do semiárido. Uma das aliadas nesse processo é a cisterna que Aluísio tem em seu quintal, parte do bem sucedido Programa de Cisternas do Governo Federal, tecnologia de acesso à água que já atendeu mais de 130 mil famílias nos últimos dois anos.
“Hoje, como eu sofri muito com a falta de água, eu tenho 208 mil litros de cisterna”, contou Aluísio.
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Cisternas do Programa de Cisternas, tecnologia de acesso à água que já atendeu mais de 130 mil famílias nos últimos dois anos|Túlio Seabra/Centro Sabiá
João Barbosa da Silva, o Dão responsável pela casa de farinha da Associação do Pequeno Produtor Rural de Caruaru, também fala sobre as diversas formas de se aproveitar a macaxeira. “Agora nós vamos conhecer como é o processo com ela para transformar na farinha. Ela tá dura, mas ela vai ser triturada, depois vai ser espremida a água, e depois torrada aquela massa”, explicou, percorrendo por todo o processo de produção da farinha e outros derivados da raiz.
Ao final da visita, Aluísio e Dão se juntaram também a José João dos Santos, conhecido como Pelé, para falar sobre os atuais desafios para as famílias que vivem da agricultura familiar na região, que passam pelos impactos das mudanças climáticas no plantio da macaxeira e em seus modos de vida, até o crescimento das frentes de trabalho precário na indústria têxtil da região de Caruaru.
“Passou esse tempo bom e agora a gente tá no tempo ruim. Mas mesmo no tempo ruim eu dou conselhos a muitos pais de família aqui para segurar os filhos na agricultura, incentivar, porque eu sou um exemplo disso”, disse Aluísio, cuja filha é responsável pela venda dos produtos na feira da agricultura familiar.
Nesse mesmo dia, além da visita ao Sítio Serrote dos Bois, os participantes da Caatinga Climate Week, divididos em grupos, visitaram as mulheres agricultoras do Sítio de Carneirinho, que se uniram em associação para acessar políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); e uma família na zona rural do município de Vertentes, que transformou a escassez de água em oportunidade de produção agroecológica diversificada, por meio das tecnologias sociais de adaptação climática.
Fé no sagrado guia mulheres negras quilombolas
A chegada nas comunidades quilombolas de Castainho e Estivas, na zona rural de Garanhuns, só foi permitida depois de pedir licença aos ancestrais que protegem o território. A recepção do grupo composto por 18 participantes da Caatinga Climate Week ficou por conta de Maria José Isídio, conhecida como Mestra Zeza do Côco, e sua filha Edvani Lopes Isídio, ambas lideranças do Quilombo Castainho; e Aparecida Nascimento e Marinho dos Santos, lideranças do Quilombo Estivas.
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18 participantes da Caatinga Climate Week pediram licença para entrar no território do Quilombo Castainho|Beto Figueroa/Centro Sabiá
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Os cânticos na frente da capela honram a resistência, tradição e cultura quilombola e fortalecem na luta pelo território|Beto Figueroa/Centro Sabiá
De frente a uma capela com uma porta no meio e duas cruzes laterais e diferentes imagens de santos em seu interior, as lideranças entoaram cânticos que fazem referência à travessia pelo Oceano Atlântico de escravizados retirados do continente africano e sua chegada até os territórios quilombolas que seguem resistindo para manter sua tradição, sua cultura e, principalmente, seu direito ao território.
“Pedir licença a essas pessoas que passaram por aqui, que chegaram primeiro antes de nós. Então a gente pede essas bênçãos para todos vocês que estão visitando esse território, que é um território sagrado. Se a gente compreende que essa terra que nós estamos pisando é nosso corpo, que a água que a gente bebe para sobreviver é o nosso sangue, a gente entendeu isso”, explicou Aparecida Nascimento, conhecida como Cida.
Principal liderança do Quilombo Castainho, Mestra Zeza do Côco abriu a porta de sua casa embolando um côco que fala da luta de sua família em preservar as tradições daquele território. Ela e sua filha Edvani apresentaram as estruturas da casa de farinha, de onde tiram os sustento da família.
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Principal liderança do Quilombo Castainho, Mestra Zeza, compartilha emocionada o que a cultura da mandioca representa para ela e sua família||Beto Figueroa/Centro Sabiá
“Não se perde nada da mandioca, tudo é utilizado. Tudo”, sentenciou Edvani, que junto com a mãe mostrou todas as etapas do processo de aproveitamento da raiz, a mesma que os agricultores do Sítio Serrote dos Bois, em Caruaru, chamam de macaxeira.
Mestra Zeza, emocionada, emendou contando o que a mandioca representa para a família: “Eu sinto um orgulho muito grande de falar, sempre eu falo isso. Porque eu vendi na feira por 34 anos. E foi daqui da casa de farinha que eu eduquei meus filhos. Eu tenho quatro filhos que saíram de mim e tenho três do coração. Eu sempre me emociono, porque foi daqui, dessa casa de farinha, que a gente educou nossa família. Tenho três filhos que conseguiram se formar, e foi da casa de farinha e vendendo na feira”, disse, entre choro e aplausos.
Castainho, com cerca de 350 famílias, foi o primeiro quilombo de Pernambuco a receber a titulação parcial da terra, isso porque parte dos 193 hectares que formam o território está judicializado.
“Isso veio depois de muitas lutas, muitas ameaças, pela defesa dos nossos territórios, que é algo essencial para a gente. Não existe justiça climática, se não existir demarcação e titulação dos territórios quilombolas. Nós acreditamos nisso, porque sem nosso território, nós não somos nada, e a partir dos territórios é que nós vamos manter a preservação, a conservação dos nossos biomas, da nossa fauna, da nossa Caatinga, que é algo essencial para a gente. Território é vida, é ancestralidade”, defendeu Edvani.
No Quilombo Estivas, comunidade vizinha de Mestra Zeza do Côco e Edvani, se destacam as hortas orgânicas e os quintais produtivos com as técnicas e saberes da agroecologia. Cida, a mesma que recebeu a equipe da Caatinga Climate Week na entrada do território, explicou que as mulheres do quilombo estão na linha de frente dos trabalhos em comunidade, a partir do Coletivo de Mulheres Negras Quilombolas Flor de Dandara. Elas também são a maioria nos cargos de liderança da associação do Quilombo Estivas.
Nesta comunidade, a cisterna também garante a oferta de água para uso doméstico e no trabalho na roça. Mas, segundo os relatos de Cida e de outras mulheres da comunidade, os impactos das mudanças climáticas já podem ser sentidos. Neste ano, o alface não cresceu como de costume, por falta de sol, e a plantação de coentro não vingou, por conta da grande incidência de geadas.
Diferentemente de Castainho, Estivas, com pouco mais de 200 famílias, ainda não conquistou a titulação da terra e a comunidade enfrenta uma série de ameaças nesse processo. “Nossa luta não será em vão. Temos muita fé que o mundo vai olhar para nós, e que conquistaremos a titulação e a preservação do nosso território quilombola”, destacou Marinho dos Santos.
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Caatinga Climate Week também passou pelo território Xukuru, para ver as estratégias de adaptação e mitigação a partir dos saberes ancestrais|Tulio Seabra/Centro Sabiá
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A atividade "Roçados da Resistência" compartilhou a experiência de agricultores comprometidos com a preservação da biodiversidade|Tulio Seabra/Centro Sabiá
Nesse dia, além das visitas aos quilombos de Garanhuns, a Caatinga Climate Week também esteve com famílias agricultoras que enfrentam os efeitos da instalação de parques eólicos em sua comunidade, no município de Caetés; com agricultores que trabalham com rede de sementes crioulas e na preservação da biodiversidade e da paisagem agrícola, no município de Jucati; e com indígenas do território Xukuru, que desenvolvem estratégias de adaptação e mitigação a partir dos saberes ancestrais da agricultura indígena, no município de Pesqueira.
Vale do Catimbau: espaço sagrado afroindígena
O último dia da Caatinga Climate Week foi com uma plenária final no Parque Nacional do Catimbau, localizado entre o agreste e o sertão pernambucano, nos municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim.
O encontro reuniu lideranças indígenas das etnias Xukuru, Pankararu, Pankará, Fulni-ô, Kapinawá e Kambiwá, que saudaram os participantes com seus cantos e rezas.
Liderança do povo Kapinawá, território indígena onde fica parte do Parque Nacional do Catimbau, Cacique Robério Kapinawá falou sobre a necessidade de os espaços de discussão sobre clima ouvirem os povos da Caatinga.
“É importante que de fato a gente diga ao mundo, diga ao Brasil, que nós existimos. Se batem numa tecla de dizer que a Amazônia é o pulmão do mundo, também é importante ter o reconhecimento que a Caatinga é o bioma natural do Brasil e precisa ser valorizado. Isso precisa ser discutido nas mesas de debate sobre clima e de qualquer tipo de discussão”, enfatizou Cacique Robério.
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A plenária final teve a presença de lideranças indígenas das etnias Xukuru, Pankararu, Pankará, Fulni-ô, Kapinawá e Kambiwá|Arthur de Souza/Centro Sabiá
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Reunião de despedida ocorreu no Parque Nacional do Catimbau, localizado entre o agreste e o sertão pernambucano|Arthur de Souza/Centro Sabiá
“A gente fala de Caatinga, que às vezes é muito desvalorizada por quem não tem o conhecimento e não tem a vivência. E a gente veio aqui justamente pautar esse assunto, dentro desse contexto de emergência climática, que a gente também vai dialogar”, completou Hugo Fulni-ô, indígena do povo Fulni-ô.
Liderança do Quilombo Mundo Novo, em Buíque, Irailda Leandro deu o recado para que o país passe a enxergar a Caatinga como um celeiro de cultura e biodiversidade.
“A gente não quer que as pessoas cheguem com peninha da gente. A gente quer que vocês possam chegar a acessar o meu território, com ideia para que as minhas e os meus parentes possam adquirir conhecimento para sobreviver com dignidade. Então esse momento aqui é riquíssimo. A gente tem condições de sobreviver do território, de tirar da terra, da mãe terra a nossa sobrevivência, mas as pessoas insistem para que a gente seja ignorante, que a gente não tenha acesso aos conhecimentos e nem acesso a essas políticas públicas que possam nos libertar”.
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Lideranças do Médio Rio Negro lançam PGTAs e reforçam luta pela homologação da Terra Indígena Jurubaxi-Téa
Planos de Gestão Territorial e Ambiental orientam a governança indígena e serão levados à COP30 como pauta prioritária para conclusão dos processos de demarcação
Em evento realizado no dia 4 de outubro, lideranças indígenas do Médio Rio Negro celebraram o lançamento dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) das Terras Indígenas Jurubaxi-Téa e Uneiuxi, em Santa Isabel do Rio Negro (AM), reunindo representantes das duas terras indígenas e instituições parceiras.
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Os planos são frutos do trabalho conjunto de lideranças, jovens, homens e mulheres das comunidades dos territórios|Alexandre Produtor Audiovisual/Decom-Foirn
Durante o dia, as lideranças participaram também de uma oficina explicativa sobre o conteúdo dos PGTAs, num espaço em que puderam revisitar o processo de construção, tirar dúvidas e discutir os próximos passos para a implementação dos planos.
Os PGTAs são instrumentos previstos na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI) e servem como guias elaborados pelos próprios povos para planejar o uso, proteger o território e orientar políticas públicas de acordo com suas realidades e modos de vida.
Os planos são frutos do trabalho conjunto de lideranças, jovens, homens e mulheres das comunidades dos dois territórios, em cooperação com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), a Coordenadoria das Associações das Comunidades Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn) e da Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (Acimrn), com colaboração do Instituto Socioambiental (ISA) e Coordeadoria Regional Fundação Nacional dos Povos Insdígenas no Rio Negro (Funai/CR Rio Negro).
Lideranças e comunitários da região do Médio Rio Negro estiveram presentes no lançamento|Alexandre Produtor Audiovisual/Decom-Foirn
Presente na celebração, o presidente da Foirn, Dário Baniwa, reforçou a importância do documento como instrumento de autogestão e proteção dos territórios e destacou que o PGTA da TI Jurubaxi-Téa será apresentado na COP30 pela comitiva do Rio Negro, que tem como uma das principais pautas a reivindicação para a finalização do processo de demarcação da terra indígena que há décadas aguarda pelo reconhecimento oficial do território. “O PGTA é um instrumento de gestão e de autonomia. Ele mostra que os povos indígenas têm seus próprios modos de planejar o futuro e cuidar do território”, afirmou.
Para Carlinhos Neri, diretor de referência da Foirn no Médio Rio Negro, os planos expressam a visão das comunidades sobre o uso e o cuidado com seus territórios. “Eles consolidam as necessidades e os anseios das comunidades de forma planejada e articulada, e são ferramentas de reivindicação junto ao poder público e às instituições”.
Entre as lideranças locais, a fala de Adilson da Silva Joanico, da TI Jurubaxi-Téa e presidente da Acimrn, traduziu o sentimento coletivo: “É um trabalho que lutamos muito para realizar, e agora temos um documento físico nas mãos, que garante nossa voz e orienta os próximos passos com os governos municipal, estadual e federal.”
Da TI Uneiuxi, a liderança Eduardo Fonseca Castelo, do povo Nadëb, reforçou a importância simbólica e política do documento. “É o nosso plano de governo. Nossos direitos e nosso futuro estão registrados aí, dando mais uma segurança para nós. E registrado na nossa língua para que ela não se perca”, disse.
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Carlos Neri faz entrega simbólica do PGTA Uneiuxi à liderança Nadëb Eduardo Fonseca Castelo|Alexandre Produtor Audiovisual/Decom-Foirn
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Dário Baniwa, presidente da Foirn, faz entrega ao presidente da Acimrn, Adilson da Silva Joanico|Alexandre Produtor Audiovisual/Decom-Foirn
O lançamento faz parte do conjunto de 12 PGTAs apoiados pelo ISA em parceria com a Foirn, coordenadorias e associações de base. A antropóloga Carla Dias, coordenadora do Programa Rio Negro, destacou o caráter participativo do processo e o valor do documento como instrumento de fortalecimento da governança dos territórios pelos próprios povos indígenas. Segundo ela, “a ferramenta pode orientar políticas públicas adequadas à realidade local, apoiar as associações na elaboração de projetos e captação de recursos, além de servir para atualizar acordos intercomunitários”.
Os 12 PGTAs da região do Alto e Médio Rio Negro podem ser acessados e obtidos na íntegra no acervo do ISA e no site da FOIRN.
Todo o processo de elaboração dos PGTAs das Terras Indígenas Jurubaxi-Téa e Uneiuxi até o lançamento contou com o apoio financeiro da Aliança pelo Clima, da Rainforest Foundation Norway (RFN), da Embaixada da Noruega e da Fundação Gordon & Betty Moore, instituições parceiras do ISA que contribuem para tornar realidade o fortalecimento da gestão territorial e ambiental dos povos indígenas do Rio Negro.
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